Capítulo Um.

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Eu poderia começar contando essa história com o clichê mais clichê de todos, aquele típico " Era uma vez... ", mas eu não sou de clichês, pelo menos não sou mais. Desde pequena, admirei meus pais por sempre estarem juntos em todo e qualquer momento, um relacionamento típico de livros clichês. Aquele amor todo me dava esperanças de que um dia seria eu a encontrar o meu amor verdadeiro e anos depois realmente aconteceu, mas não foi como eu sempre sonhei.

Sabe quando você ama alguém e não é capaz de enxergar o quão tóxica essa pessoa é para você? O quão mal ela lhe faz? Pois é, eu amei tanto Lillith que não fui capaz de enxergar o quanto eu estava fodidamente ferrada. Eu a conheci aos quinze anos, primeira paixão adolescente, parecia que nada mais importava para mim, eu tinha a ela, ela me amava e eu a ela, tudo era perfeito. Sempre soube das minhas escolhas sexuais, mas nunca me permitir viver elas. Sabe quando você se sente diferente das suas amigas por nunca conseguir achar aquele cantor bonito, aquele homem que cruza por você na rua tão gostoso? Eu era essa menina. Minhas amigas sempre idolatrando boybands da atualidade, se imaginando casando com eles e eu? eu apenas concordava, não sabia o que dizer, mas a verdade era que eu não via nada demais. Sempre me interessei nas mulheres mais velhas e um dia alguém me disse que tudo isso que eu sentia ela também sentia e por isso eu era gay, no início eu me puni muito por isso, por crescer em uma família onde desde pequena era ensinado que homem só se casa com mulher, eu achava tudo muito errado e eu gostar de mulheres só iria me fazer mal. Eu não estava de toda errada.

Assim que troquei minhas primeiras palavras com Lillith naquela rede social eu soube que estava apaixonada, mas nunca tive coragem de assumir, até que um dia eu resolvi expor esse sentimento e contei a ela sobre o que sentia e assim começamos a namorar um mês depois. Ela era de Nova York e eu de Boston, não era muito longe e até o dia em que resolvemos nos encontrar namoramos por um ano. Parecia uma eternidade, cada dia era como se aquele sonho estivesse mais distante. Enfim o grande dia, eu mal havia dormido naquela noite, de fato a ansiedade pode se tornar algo muito ruim nessas horas, apesar dos pesares, acordei mais disposta naquele dia, o coração a mil, parecia que iria pular do meu peito. Depois horas de viagem finalmente cheguei na rodoviária, eu havia guardado dinheiro por tanto tempo. Meus pais não sabiam de fato para onde eu estava indo, para eles, eu estava indo visitar uns amigos da família, mal eles sabiam que eu estava indo conhecer minha namorada.

Play On: Swan Song - Lana Del Rey

Eram duas horas da tarde quando cheguei, a chuva não dera um minuto de trégua enquanto eu esperava por Lillith, depois de duas horas sentada naquele banco e várias mensagens deixadas em seu telefone eu percebi que ela não viria. Meu rosto já estava banhado em lágrimas, lágrimas de ódio e dor, vários sentimentos ao mesmo tempo se afloraram por dentro de mim, corri para o banheiro, não queria ser espetáculo para ninguém. Eu estava vivendo um clichê, mas o pior lado dele. Deixei minhas malas de lado e fui lavar meu rosto, tentei ligar para ela novamente, nada. Ela simplesmente sumiu, como se não existisse, como se tudo o que vivemos tivesse sido um sonho criado na minha cabeça.

Havia uma mulher lá e ela me olhava, eu percebi que sim, apesar de ela disfarçar muito bem. Parecia preocupada e curiosa, quem não estaria? Se eu visse uma adolescente de dezesseis anos, sozinha e chorando, eu estaria curiosa para saber o que lhe acontecera. Meu celular tocou e o nome " amor " apareceu na tela, tive vontade de jogar o celular o mais longe possível de mim, mas eu precisava dele e queria ouvir a desculpa que estava prestes a receber. Queria que tudo aquilo fosse um simples brincadeira do destino e que Lillith, a minha namorada, aquela pessoa que dizia me amar, não tivesse me abandonado na rodoviária no dia em que iriamos nos conhecer, mas que ela estivesse atrasada por conta daquela chuva ou que seu carro tivesse estragado, queria que tudo estivesse sendo um completo engano.

Eternamente EmmaOnde histórias criam vida. Descubra agora