Capítulo 5

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Capítulo 5

"Dumuzi respondeu:
- Grande senhora, o rei irá arar a sua vulva, eu, Dumuzi, o rei, irei arar a sua vulva.
- Então ara a minha vulva, homem do meu coração! Ara a minha vulva!"

Trecho de "A corte de Inanna e Dumuzi"

A perda de Inanna fora muito lamentada nos palácios de Anu e Antu, mas eles decidiram não mais lutar por ela, uma vez que ela havia ido até Dumuzi por livre e espontânea vontade, e não raptada. A tristeza, no entanto, permaneceu em seus espíritos, não só pela perda dela, mas pela destruição que seu consorte ainda desempenhava.

- Quando será que poderá ser apaziguado? - perguntava Anu a Antu, sem saber o que fazer - Será que é possível mesmo que possa conviver conosco algum dia?

- O rancor dele é muito grande - declarou ela - Provavelmente não se apagará, pois mesmo ele tendo conseguido uma esposa, não será feliz por causa de tudo que já fizemos a ele.

- O que fizemos a ele? Mas ele assim quis, fazendo tudo de forma egoísta e controladora.

- Mas nós nunca o ouvimos, e nunca soubemos o que ele realmente queria. Veja, Inanna diz que ele a trata bem. Talvez ele a tenha ouvido afinal.

- Bobagem! Inanna está cega, porém no dia em que enxergar quem ele é, será tarde demais.

A indignação, no entanto, não se limitava a Anu e Antu. Todos os outros dingir estavam com raiva do que Dumuzi fizera no casamento de Nergal. Assim sendo, ele, o deus da vingança e da guerra, preparou uma emboscada para ele, a qual em breve colocaria em prática.

Quanto a Inanna e Dumuzi, ambos estavam relativamente tranquilos desde então. Ela cuidava das coisas nas propriedades dele, ao passo em que se especializava em novas táticas de magia e guerra. Ele governava de forma menos autoritária e muitas vezes, ao seguir os conselhos de prudência da esposa, se safara de diversas consequências ruins que de outro modo acabaria tendo.

Mas não conseguiria se livrar dos exércitos de Nergal. Um dia, sem que se esperasse, uma hoste realmente grande veio e atacou as propriedades de Dumuzi. No começo, como não tinham defesas suficientes, Inanna e os demais generais de guerra mandaram fazer um cerco de resistência. No começo deu certo, porém depois, mesmo com todas as estratégias e poderes dos quais podiam dispor, o cerco passou a se romper.

Dumuzi olhou para as portas do palácio, as quais estavam prestes a ser arrombadas. Chamou a Inanna, a qual saíra da guerra para o acompanhar.

Sem olhar para a esposa, ele simplesmente disse:

- Inanna, vá embora.

- Como, ir embora?! E deixá-lo aqui sozinho?

- É necessário. Se eu fugir, você também será perseguida. Vá, simplesmente vá.

- Oh, não...!

Finalmente o desespero baixara nela, que costumava ser tão controlada. Abraçou-se a ele e não quis ir embora.

- Inanna, se não for, será capturada também. E eu não me perdoaria caso isso ocorresse.

- Mas eu não posso deixá-lo aqui!

- Se me ama, vá. Vá, e depois reconstrua a um reinado para nós dois, onde possamos nos reencontrar.

- Como pode ter tanta certeza de que voltaremos a nos ver?

- É a única esperança que me faz suportar a este momento agora. Vá!

Inanna olhou bem nos olhos dele e viu a determinação que ele tinha em ao menos poupar a ela. Tomou a seu rosto e o beijou nos lábios. Após isso, saiu correndo pelas passagens secretas que conhecia. Não muito depois, as portas foram arrombadas.

O proscrito e a rainha (REVISADO E REEDITADO)Onde histórias criam vida. Descubra agora