Cap. 1 - Solange

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Bem-vindo!














1994

Ꭾor vários anos da minha vida, eu achei que nunca sairia de Texas. Ou simplesmente da fazenda. Já que tanta coisa se passou - e nenhuma delas boas - mas nunca saí da velha casa de madeira.

Desvio o olhar do meu copo de café para a janela do carro. Olhando com atenção as ruas e as pessoas que passavam rápido à velocidade do carro.

Todo dia de manhã, a rotina era essa. Café, carro, correria... e fim.

Não evito em comparar as casas de NY com as casa de boneca que tinha em minha infância. Eram todas iguais, e o que era diferente provavelmente chamava atenção, e por consequência... era desprezado.

Seria essa a causa do racismo ou Homofobia? O medo do diferente e distinto?

Percebo minhas mãos deixarem de aquecer, meu café esfriou. Suspiro.

Na verdade, estou apenas perdida em meio de meus devaneios de propósito. Não queria não ter nada em que pensar quando eu estava tão desanimada e me sentindo tão esquisita.

Não seja idiota. Você irá gostar da escola. - Convenço-me.

Até há alguns anos, tive aulas em casa. Com minha mãe. Mas depois do acidente, eu precisei frequentar uma pequena escola que ficava no Texas. Então não é como se não soubesse como a escola funciona. Apenas não sei como fazer amigos ou sequer socializar.

Eu deveria ser bonita, ter cabelo liso ou usar roupa curta para ser notada. Eu suponho. Nenhum dos filmes adolescentes que vi me mostram o contrário.

Eu odeio ser classificada.

Eu sou muitas vezes notada pelo meu cabelo, ou pelo meu modo de vestir?... Eu realmente não sei. Eu sei que sou estranha e as pessoas não gostam de estranhezas.

Mas meu rosto? Ah! Muitos dizem que é lindo, outros desproporcional... Eu acho ele perfeito para mim.

Eu tenho o corpo perfeito, altura perfeita, cabelo perfeito e pele perfeita. - Só estava pensando em um comercial de amor próprio que vi em uma revista feminina mais cedo. Teenagers future. Ótima escolha de nome para quem está caçando presas desesperadas.

Eu não levo a sério quase tudo que leio nessas revistas lunáticas. Aliás, não acredito na maioria que leio ou vejo na televisão. Prefiro e gosto de ter minha opinião singularizada.

Tento por tudo ser eu mesma acima de tudo. Apesar de críticas sobre tudo que eu sou naturalmente, como meu cabelo, minha pele ou meu rosto. Eu não sei andar de salto alto ou rir com descrição e subtileza, e na televisão é o que tem demais.

Por isso nascer com seios e vagina é tão complicado. Você nasce com o dever de agradar os outros.

Minha mãe se considerava uma rebelde. Ela não seguia ordens, ou cumpria à risca os seus 'deveres' como mulher. Ela dizia que eu seria uma rebelde assim também. E acho que sou. Ainda que de dezesseis anos.

Coloco minhas crenças acima de tudo, pois faço de minhas crenças minha cultura. E em um mundo tão difícil de se viver, eu prefiro ser intelectualmente ligada à minha própria cultura.

E não. Eu não acredito em destino.
Eu acredito que devo acordar todos os dias com uma vontade diferente, e ao decorrer do dia, posso mudar essa vontade. Tal como posso planeja-lo... eu posso criá-lo.

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