Que sorte a sua...

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20/12/1999

- Eu amo você Eví...
Erick entregou na mão da irmã um sapo de pelúcia.
-O Edgard vai cuidar de você, vai ser como se fosse meus olhos. Ele vai me avisar se tiver em apuros.
Eva, com seus únicos dois dentinhos frontais, colocou Edgard na boca e sorriu para o irmão mais velho.
- Nháa...
Ele a abraçou.
- Um dia vamos estar juntos de novo. Logo logo está bem... E eu vou te ensinar muitas coisas, como andar de bicicleta e a escrever... E eu vou mudar as regras da casa da árvore, você vai sim poder entrar lá, mas só você de menina. Ninguém mais.
Ele olhou pra trás, viu Liu colocando as coisas no carro.
- Papai disse que você vai passar um tempo com a Madáh... Ele suspirou - Queria poder ir junto...
Ele piscou deixando cair duas lágrimas.
- Não conta pro papai que eu chorei por que homens não choram... Mas eu queria a mamãe.
A menina agarrou sua camiseta e o puxou para o carrinho. Babou sua bochecha lhe fazendo rir.
- Você tem um beijo babado sabia? Disse secando as lágrimas.
Ela deu uma gargalhada.
- Erick, vamos!
Ele olhou o pai abrindo o carro.
Madah foi até eles e o abraçou.
- Se cuida meu sapinho.
Ele retribuiu.
- Até logo Eví... Deu um beijo em sua testa. -Logo logo estaremos juntos, você vai ver... Vai ser muito rápido, eu prometo, não me esquece. Disse ele se afastando sem deixar de olha-la até o último minuto.



As coisas não estavam bem claras na minha cabeça.
Um irmão.
Passei a infância toda pedindo a minha mãe um irmãozinho.
Todos na escola tinham irmãos, pais, primos, tios.
Eu não. Era só mamãe, tia Dani e eu.

Minha mãe ria, falava estar muito velha para isso.
Mudamos de residência e cidade umas três vezes ao que me lembro.

Lembro pouco do homem que mencionavam ser meu pai.

Nos mudamos de Ponta Grossa no Paraná, eu devia ter um pouco mais do que 5 anos, logo que ele faleceu.

Fomos para a casa da tia Dani no RJ. Foi quando a conheci.

De uma vida mais, limitada, passei a ter coisas que mamãe  jamais pode me dar.

Bicicletas, patins, televisão, um quarto.

As festinhas de aniversário eram sempre com adultos, eu não tinha amigos.
Fui para a escola aos seis anos e não lembro de uma festa do pijama ou saídas, sem que tia Dani, não estivesse junto.
Mamãe não ia em algumas. Mas tia Dani, ela ia em todas.
Teve uma época que eu achava ser filha da tia Dani, por que meus traços e personalidade se assemelhavam muito mais a ela do que com minha mãe.
Mamãe e eu não tínhamos nada uma da outra, apenas um amor incondicional.
Nos mudamos para a capital do Rio Grande do Sul três anos depois, e começamos uma nova vida por lá, Quando tinha 12 anos, mamãe morreu. Foi muito mais devastador. Ela foi tudo pra mim, a minha mãezinha.

Mas a perda da tia Dani, me levou ao fundo do poço da depressão.
Ela foi a  melhor pessoa que eu poderia ter tido ao meu lado. Se não fosse ela, mamãe não ia dar conta sozinha, ela não era mais uma mulher nova.

Faziam quase dois anos que ela havia se ido, que Vincent havia ido, que tudo era completamente diferente, onde eu me sentia completamente sozinha, sem ninguém.

Eu sentia sua falta todos os dias.

Das duas.
Teria sido mais fácil passar por tudo que passei, ao lado da minha tia.
Eu a perdi para sempre.
Pensei no pior. O destino era tão cruel. Eu estava sozinha, triste e sem ninguém. Perder minha tia quase me levou junto.
Vincent se compadeceu, voltou, prometeu que tudo seria igual mas quem eu estava querendo enganar. Sabia que era só ficar boa que ele iria novamente.

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⏰ Última atualização: Aug 20 ⏰

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