Dupla

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Tínhamos um intervalo de quase quatro semanas entre o GP de Mônaco e o GP do Azerbaijão, a etapa seguinte da F2, mas nem de longe isso significava férias pra mim; eu ainda estava presa à rotina de exercícios físicos e ao simulador de cada semana em Woking. Só que isso não me impediria de aproveitar um ou outro dia livre.

Aproveitei para encontrar minhas amigas mais chegadas; que eu havia conhecido na Universidade no único semestre em que permaneci lá. Não me lembro ao certo de como tínhamos nos conhecido, já que elas eram de cursos diferentes; Economia, Literatura e Ciências Biológicas, para ser mais específica. Logo depois de completar os meus estudos na escola, minha família insistiu para que eu ingressasse em um curso na faculdade, uma garantia caso as coisas no automobilismo não dessem certo. Comecei a estudar Engenharia Mecânica na University College London e infelizmente não durei muito lá – mas foi por uma boa razão. 

Maya Murphy era uma ruiva de olhos verdes com juízo por nós quatro, que estudava Economia e tinha um irmão um pouco mais novo que ninguém conhecia, chamado Mason. Ela era a mais velha, com 26 anos. Ava Donovan era estudante de Ciências Biológicas e tinha quase a mesma idade que eu, no máximo um ou dois anos mais velha. Era uma morena de pele bronzeada e ascendência filipina da qual tinha muito orgulho, a mais extrovertida de nós e que nos deixava confusa com os constantes crushes que arrumava semana após semana. Por fim, a mais nova, junto comigo, era Charlie Lawson, que estudava Literatura e tinha minha idade, 19. Ela era uma baixinha de cabelo long bob que não era a maior fã de sol e parecia ser séria demais, mas que entre amigas, se transformava. 

Nós estávamos em um sábado à tarde numa cafeteria tranquila no centro de Londres. As meninas procuravam espairecer enquanto tentavam sobreviver ao fim do semestre, e eu, tentava sobreviver a uma categoria automobilística que parecia estar atingindo seu ápice de competitividade, principalmente enquanto eu tinha que lidar com uma rivalidade cada vez mais intensa entre mim e meu colega de equipe/melhor amigo. Na ocasião, especificamente, estávamos demonstrando descontentamento por Ava ter escondido de nós por duas semanas que estava saindo com um cara.

— Ava, eu não acredito que você escondeu isso da gente por todo esse tempo — Eu me manifestei.

— Não foi tanto, Jess. Foram só uns 15 dias, e nem deu em nada.

— Isso é muita coisa — Charlie disse — E nós poderíamos ter ajudado, sei lá, talvez, aconselhado.

— Gente, eu não falei nada porque não queria criar expectativas caso não desse certo. E não deu. Acontece. Mas desculpa ter escondido de vocês, sério... Sei que gostam de conhecer os caras com quem eu saio. 

— Sim, é difícil memorizar o nome de todos eles, mas nós gostamos — Maya brincou, nos levando a rir. 

— Eu acho melhor dar um tempo na procura. O semestre está ficando puxado mesmo e eu não vou ter tanto tempo pra romance.

— Tem certeza, amiga? — Perguntei — Conheço pilotos bem gatinhos que adorariam que eu passasse seu número para eles. Não quer nem tentar?

Esbocei um sorriso malicioso, mas eu estava apenas brincando. Charlie e Maya riram ao perceber que o sorriso tímido de Ava tinha um tom duvidoso, do tipo "você tá brincando ou tá falando sério?". Eu realmente tinha feito apenas uma piada, mas se ela quisesse... Bancar o cupido não era minha especialidade, mas eu poderia tentar. Será que era antiético jogar colegas de competição para minhas amigas universitárias? No fim das contas, ainda éramos todos jovens – eles e nós –, então talvez não fosse.

— Só se isso envolver aquele holandês ruivo. — Ava mordeu o lábio e riu em seguida.

— Ele tá solteiro, Jess? Ele é um gato. 

Brava AlmaOnde histórias criam vida. Descubra agora