Dose após dose, drink após drink, não restava se quer um vestígio de sobriedade em Cinthia. Luisa se mantinha sóbria, se divertir sóbria nunca fez sentido na cabeça de Luisa, mas dessa vez estava funcionando.
—Um, dois, três – E outra dose de tequila foi virada
Cinthia ria de qualquer coisa, dava liberdade para qualquer pessoa, enquanto Luisa só observava e afastava quem ela não queria perto de sua... Amiga.
Cinthia subiu no balcão do bar algumas doses depois, dançava lentamente seguindo o ritmo da música que tocava. Era calma, leve e ao mesmo tempo excitante.
Os olhos de Luisa brilhavam assistindo o número de Cinthia. Não só os de Luisa, todos que estavam presentes se mantinham concentrados na mulher que dançava. Até mesmo Michael que havia chegado a pouco.
Ele estava ao lado de Cezar que simplesmente não sabia o que fazer.
—Eu devo leva-la pro quarto?
—Não... Ela só está dançando. Ainda não cometeu nenhum crime - Michael aparecia mais compreensivo do que o normal - Quero ela na delegacia amanhã de manhã
Cezar olhou para Michael com a sobrancelha arqueada como se estivesse perguntando se ele falava sério. Logo em seguida os dois olharam para Cinthia, que descia do balcão com uma sensualidade incontestável, ela não queria saber da plateia que tinha, ela só fitava Luisa e toda vez que o olhar de ambas se cruzavam um sorriso malicioso surgia em seu rosto. E esse sorriso estava lá nesse momento ela andava calmamente em direção a cadeira onde Luisa estava sentada. Abriu as pernas sentando no colo de Luisa e então começou a mexer seu quadril conforme as batidas da música.
—Acha mesmo que ela vai acordar amanhã de manhã? - Cezar tentava fazer Michael mudar de ideia pois ele sabia o quanto Cinthia tinha bebido e acorda-la de manhã não seria uma tarefa fácil
—Não precisa ser muito cedo... - Michael respondeu olhando seu relógio - Eu tenho um compromisso. Qualquer problema me ligue. Boa sorte com ela
Ele precisaria de toda a sorte do mundo. Cinthia, ainda no colo de Luisa, batia cabelo totalmente empolgada e entregue a música e ao álcool. Luisa por sua vez, segurava a mais nova pela cintura aproveitando cada movimento da mesma que rebolava em seu colo.
Algumas músicas depois, Cinthia já estava mais calma, bom... Calma não é bem a palavra, digamos que ela estava cansada. Sentada bem próximo a Luisa elas olhavam ao redor procurando por alguma mulher que valesse o tempo de ambas.
—Eu sou muito chata ou o hotel está fraco mesmo? - Cinthia perguntava ainda olhando ao redor
—Não sei você, mas eu achei alguém...
—Quem? - Cinthia olhou interessada
—Estou olhando pra ela...
Cinthia riu, não sabia se Luisa falava sério ou não mas de qualquer forma elas combinaram de ser amigas.
Aquela troca de olhares, o silêncio que se instalou entre as duas, a vontade de avançar nos lábios uma da outra, Cinthia precisava evitar isso.
—Me conta sobre ela - Cinthia começou a puxar assunto - Digo... Ela não é um assunto proibido entre a gente, podemos conversar sobre isso... - Ela abaixou a cabeça para desviar do olhar da outra - Não vejo ela a anos, como ela está?
—Ruiva, linda, sedutora...
—Parece que ela não mudou nada... - Cinthia sorri - R sempre foi assim, pelo menos é como eu me lembro dela. Até quando éramos mais novas, sabe? Sempre teve aquela coisa a mais...
—R? - Luisa arqueou a sobrancelha - De Rose?
—Não exatamente... É complicado...
—Tenta explicar
—Bom...Ela sempre foi boa em brincar com as palavras... Eu não sou tão boa assim. R é algo mais particular... Sabe, todos a chamavam de Sin Rostro por não saberem qual a sua aparência. Eu era a única que sabia qual era o rosto da Sin Rostro. Tinhamos intimidade suficiente para chama-la apenas de R.... Era meu jeito de me sentir próxima a ela, chama-la de R.... Porque eu era a única que a conhecia de verdade... – Cinthia fez uma longa pausa – Isso parecia melhor na minha cabeça, fazia mais sentido – Ela deu risada, tentando aliviar o clima
—Faz sentido, eu acho... - Luisa sorriu de forma doce - Então amiguinha... Acho que já passou do limite hoje...
—Eu não desconheço o limite - Ela sussurrou perto do ouvido de Luisa que sentiu um arrepio por todo seu corpo - Mas se quiser, podemos subir para o quarto...
—Esta bêbada e me chamando pro quarto? - Luisa arqueou a sobrancelha - Por que isso parece tão errado?
—Porque somos duas pervertidas
—Não tenho argumentos contra isso...
As duas riam como velhas amigas, mas tinha um clima entre elas que não tinha como ignorar
—Mas se a gente ver isso por outro lado, é isso que as amigas fazem né? A menos bêbada - Cinthia aponta para Luisa que simplesmente sibila um "sóbria" - Acompanha a amiga louca - Ela aponta para sí mesma - Para saber que ela está bem
—Tudo bem amiga louca. Vamos pro quarto
Luisa se levantou esperando por Cinthia que se levantou e logo se apoiou em Luisa
—Talvez eu esteja um pouco bêbada...
Ela riram e seguiram o caminho todo brincando uma com a outra até que Cinthia sussurrou no ouvido da mais velha
—Poderia me segura com mais força...
Luisa levou a outra até a parede numa fração de segundos, suas mãos permaneciam na cintura da mulher, ergueu a mesma um pouco para cima, as pernas de Cinthia se cruzaram atrás do corpo de Luisa que roçava seu nariz no pescoço da mais nova.
—Assim está melhor? - Luisa sussurrou provocativamente
Cinthia pensou em responder mas logo ouviu alguém limpando a garganta bem próximo a elas para chamar a atenção de ambas. Era Cezar.
Cinthia revirou os olhos enquanto Luisa só sabia rir.
Seguiram os três em direção ao quarto, as duas entraram e Cezar ficou do lado de fora.
As duas deitaram na cama visivelmente cansadas, mas nenhuma das duas tinha a intenção de dormir.
—A gente pode... Assistir alguma coisa... -Sugeriu Cinthia
—Tipo?
—Não sei... Da última vez que eu parei pra assistir alguma coisa na TV o que fazia sucesso era the L word...
—Ok... Eu escolho - Luisa pegou o controle e colocou em um canal aleatório de filmes
—A fantástica fábrica de chocolates?
—Não é tão ruim...
Elas tentaram assistir o filme, mas uns cinco minutos depois, conversas aleatórias estavam mais interessantes
—Você me fez pensar em uma coisa hoje - Começou Cinthia - Qual o termo menos estranho, dormir com a namorada da sua irmã ou com a sua sobrinha por tabela?
—Sobrinha pro tabela?
—Minha irmã casou com seu pai, acho que isso faz com que eu me torne sua tia ou algo assim...
—E eu achando que não tinha como ficar mais estranho...
—É, amiga... Sempre tem como ficar pior - Cinthia deu risada deitando mais perto de Luisa.
Por causa do álcool ela acabou por adormecer alguns minutos depois. Luisa se despediu lhe dando um beijo no rosto e então saiu do quarto.
Na manhã seguinte nenhuma batida na porta fazia com que Cinthia levantasse da cama. Cezar gritava mas ela ignorava.
O guarda então foi obrigado a ligar para Michael que correu para o hotel. Ele bateu, ele chamou, ele ameaçou mas não tinham nenhuma resposta.
Até que ele viu sua luz no fim do túnel, ou melhor, no final do corredor. Luisa vinha com algumas sacolas na mão.
—Esta tudo bem? - Perguntou curiosa
—Ela não quer abrir a porta... Talvez se você tentar...
Luisa sorriu confiante e bateu na porta
—Hey amiguinha... - Tentou ela
E em poucos segundos a porta se abriu puxando Luisa para dentro e se fechando novamente.
—Bom dia - Disse Cinthia se jogando na cama novamente
—Se eu soubesse que acordaria nessa situação teria trago café...
—Esta tudo bem... Só preciso de mais uma hora antes de ser interrogada pela polícia... Isso está ficando cansativo...
—Com polícia ou sem polícia, eu só quero que você esteja bem, temos uma festa pra ir
—Temos o que? - Cinthia arqueou a sobrancelha - Luisa... Eu não sei se você percebeu, mas eu não tenho roupa pra esse tipo de coisa
—Por isso eu fui comprar umas coisinhas... - Ela tirou um lindo vestido com uma estampa florida de uma das sacolas - O que acha?
—Bom... É que... Não faz muito o meu estilo...
—Eu imaginei... Por isso trouxe um preto - Ela tirou outro vestido da sacola roubando um sorriso da mulher mais nova
—Você é perfeita...
—Quer ver em que mais eu ou perfeita? - Ela sorriu maliciosamente se aproximando da cama
—Você não presta... E eu adoro...
—Como você bem disse, somos duas pervertidas... - Luisa subia em cima de Cinthia que mordia o lábio ao observa-la
—Preciso falar com você - A voz impaciente de Michael interrompeu-as fazendo Luisa sair de cima da mais nova
—Falo logo com ele, quanto mais rápido vocês terminarem, mais rápido a gente pode... Fazer coisas de amigas - Ela sorriu saindo do quarto e deixando Michael entrar
—Precisamos conversar
—Sobre?
—Leon
—Quem?
—O italiano que pintou você é a Sin Rostro
—O que tem ele? - Ela sabia o que tinha, mas ficou quieta fazendo cara de inocente
—Esta morto - Ela já sabia, ela mesma havia matado o homem
—Que pena... - Ela fingia surpresa - Quer dizer que não temos mais pista nenhuma? Voltamos ao zero?
—Você precisa lembrar de mais alguma coisa, ela não pode simplesmente sumir...
—Eu estou tentando Michael, estou mesmo... - Na verdade não estava, mas ele ainda não tinha percebido isso.
—Eu vou me reunir com meu superior hoje, ele provavelmente vai querer falar com você depois, não saia daqui.
Ela assentiu com a cabeça e esperou ele sair do quarto.
Michael estava atordoado, não sabia mais o que fazer, onde procurar, nem o que procurar. Já havia voltado nos endereços que Cinthia havia dado para ele diversas vezes e nada. Ele achava que tinha deixado passar algo mas não sabia o que.
Ao chegar na delegacia foi até a sala de investigação onde seu superior já o aguardava. Ele contou tudo, sobre a soltura de Cinthia, sobre as casas, as pistas, e tudo mais.
—Você soltou uma detenta? - Sua expressão não era feliz, mas não era esse o problema - Quais foram os crimes dela?
—Assalto a mão armada, porte ilegal de armas, tráfico de drogas e bebidas, prostituição e assassinato... Eu sei que ela é perigosa e que eu não deveria ter tirado ela da prisão, mas era uma pista e...
—Quantos anos disse que ela tinha?
—23 - Michael respondeu sem entender onde o outro homem queria chegar
—Uma garota jovem conseguiu ser presa por todos esses crimes? - Ele arqueou a sobrancelha - Você pensou na possibilidade de que talvez possa ter assumido alguns crimes da irmã? - O silêncio dominou a sala - Se ela foi capaz de assumir os crimes da irmã e ser presa por eles, qual a chance de que ela te ajude a encontrar a Sin Rostro?
E foi aí que a ficha caiu, Cinthia só estava atrasando a investigação.
Michael saiu da delegacia com pressa, as leis de trânsito não eram mais importantes para ele, ao chegar no hotel correu para o quarto de Cinthia.
—Ela saiu? - Ele perguntou para Cezar que negou com a cabeça sem entender o que estava acontecendo
Michael pegou sua arma e abriu a porta
—Cinthia Ruvelle, você está presa por... - Ele passou o olho por todo o quarto, ela não estava mais ali. Nem ela nem as suas coisas.
—Droga... - Foi tudo que ele conseguiu dizer
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Yo conozco tu rostro
Fiksi PenggemarMichael estava quase desesperado, não sabia mais o que fazer, tudo que ele sabia é que Sin Rostro tinha sumido e que ele não teria uma pista tão cedo... Mas e se existisse alguém que pudesse ajuda-lo a encontrar a mulher sem rosto? E se existisse al...