O Começo do Infortúnio

156 29 70
                                    

Quando a rainha chegou a Feen, capital de Mediocrís, procurou sua melhor amiga. Ela contou tudo o que havia acontecido a Marion, que imediatamente levou ambos ao templo do espírito guardião. Chegando lá, os apresentou e orou por eles. Seian segurou Aaron no colo e entrou nas águas purificadoras; ao sair de lá, o espírito guardião falou em profecia.

Filha da fonte de águas vivas

Barganhou, uma vida pela outra

Ela retornará para ti como destino

Seu poder definirá o novo reino

No dia em que a luz brilhante se apagou

O caminho estreito se revelou

Uma existência será responsável por guiar o destino

Sabedoria se transformará em poder

Uma maldição deve ser impedida

Marion, que assistia ao ritual, não entendeu exatamente o que o espírito guardião havia dito, mas a rainha sabia sobre quem falava a profecia.

Em Mediocrís, cada nome tinha um significado que costumava guiar a vida de seu portador. Aartan foi nomeado como "luz brilhante", Aaron nomeado como "caminho estreito", Seian como "rio de águas vivas" e Zoe como "vida" — todos os nomes foram citados na profecia. Ainda assim, apesar de saber quem estava sob a luz dela, Seian entendeu muito pouco.

Ao saírem do templo, a rainha convocou uma audiência com o conselho dos vinte e quatro sábios, contou-lhes toda a história e a profecia proferida após seus breves anos no muito humano. Os conselheiros pediram um tempo para julgar suas ações e então voltarem com o veredito. A rainha apenas pôde aceitar o prazo, ainda nutrindo a esperança de buscar sua filha no mundo humano. Aproximadamente dez anos haviam se passado desde que Seian deixou Mediocrís, o que, para os humanos, era um tempo considerável em suas vidas, mas para as fadas era apenas um suspiro.

Após três dias de considerações, o conselho convocou a presença da rainha novamente e a advertiu a nunca mais voltar ao mundo humano — esse seria seu castigo por ter se relacionado com eles. Aaron foi dado como filho adotivo para Merion, irmão de Marion e mago real, para que o treinasse como seu sucessor e com a condição de nunca saber quem foi seu pai, evitando assim que ele fosse ao reino dos humanos. Claro que isso era só um pretexto para manter o garoto sob a vigilância de alguém com autoridade real, experiente e forte. Sua filha foi deixada para viver separada da mãe e mantida sem saber qual era sua origem, impedida de chegar ao mundo encantado, pois poderia impactar o equilíbrio entre os reinos mágicos — o que isso significava nem a própria Seian sabia, somente que havia séculos que a lei do mundo encantado impedia a mistura das raças. Diziam que, se um dos lados da balança mágica pender, o mundo humano correria perigo e, como consequência, todos os outros.

A rainha sabia que essa poderia ser a decisão do conselho, mas isso não deixou de deprimi-la. Não ver sua filha para sempre seria o pior castigo que poderia ter. Mas não poderia desacatar uma decisão dos sábios — seria como violar sua própria existência. Mediocrís era um país livre, onde o trono girava em torno do espírito guardião, a rainha e a sucessora. O espírito guardião escolhia o parceiro das futuras rainhas a fim de que gerassem uma sucessora. Mas para Seian ele nunca revelou o parceiro; antes de sua viagem, ela orou no templo do espírito e pediu para que apontasse seu destino, pois ela gostaria de viajar em sua jornada com ele. Mas o espírito guardião apenas respondeu que o caminho à frente iria se revelar.

Para Merion mago real e general do reino, que sempre amou a rainha, era a oportunidade final para que ele a conquistasse, porém foi tomado pela ira quando ela saiu para explorar o mundo sem chamá-lo. Assim que partiu, ele foi ao templo do espírito e orou pedindo que a rainha voltasse e se tornasse sua, mas o espírito guardião lhe disse que não poderia entregar em suas mãos aquilo que não foi feito para ele.

Caminho das Fadas - Livro I [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora