6- Saí de um inferno e entrei em outro!

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Bonnie

Todos esses dias passando mal, sem conseguir comer nada, dor de cabeça, sono excessivo e eu jamais imaginaria ter ficado grávida. Foram duas transas. Sem preservativo. Eu usava DIU mas acho que ele deve ter sofrido uma interferência sobrenatural, ou simplesmente assim como os outros métodos, não é 100%.
Talvez em outro momento da minha vida eu estivesse radiante.

Se o bebê fosse do Jeremy.
Se eu não estivesse sozinha na droga de um mundo prisão pensado para o pai do meu filho que assassinou seus quatro irmãos. Acabo de me lembrar que tive uma visão com Kai. Estou em um estado deplorável ultimamente. Mal consigo diferenciar sonhos de realidade, tenho pesadelos horríveis em que eu estou absolutamente sozinha, e quando acordo eu estou absolutamente sozinha, ou então estou na universidade com a Care e a Elena. Eu não sei qual desses é o pesadelo afinal. Não consigo me concentrar para usar magia.

Agora estou segurando um frasco de algum tarja preta que encontrei nessa casa, o bom daqui é que já que o tempo não passa, tudo está dentro do prazo de validade. Me bateu uma dúvida, será que eu estou realmente grávida ou é só mais um pesadelo? Isso faz diferença? Eu jamais submeteria uma criança a viver neste inferno com uma mãe incapaz de saber o que é real ou não. Além do mais, quem faria o parto? E se eu levasse essa loucura adiante e morresse no parto? Era melhor acabar com essa pequena multiplicação de células enquanto ainda não havia uma vida para eu destruir. A quem eu quero enganar? Do Kai ou não, no mundo real ou não, eu sempre sonhei em ser mãe, e estar nesta situação agora era desesperador. Eu chorava por que chamei meu bebê de "aberração". Ninguém NUNCA deveria ser chamado assim. Eu sou uma pessoa horrível e uma mãe pior ainda.

Que tipo de mãe coloca um filho num inferno desses? Ainda mais sabendo que lhe resta pouca ou nenhuma sanidade mental?
" Você pode absorver magia" me lembrei das palavras de Kai. Aquele bastardo acha que eu sou uma esponja de magia como ele? Na verdade sou. Todos os bruxos podem canalizar e se alimentar de outras fontes de magia, mas alguns como no caso de Kai, desenvolvem tanto essa habilidade, que ela se sobrepõe a sua habilidade matriz de produzir magia. Então enquanto para mim era difícil ou até impossível absorver magia de outra fonte, para Kai era difícil ou impossível produzir magia própria. Eram duas faces de uma mesma moeda. Se Kai tivesse me dito a verdade sobre sua condição de bruxo eu não me importaria.

Meu problema é a mentira, a malícia, a lascívia. Ele queria me enganar e assim o fez. Mas eu não iria me vitimizar por isso. Se existia uma chance de sair dali então eu daria um jeito. Até lá, meu amontoadinho de células continuaria em segurança, se desenvolvendo enquanto a mamãe lutava por dias melhores.
Guardei o frasco de remédios de volta no lugar. Me vesti e coloquei o teste de gravidez no bolso da calça jeans. Seria necessário olhar para ele em outros momentos do dia para ter certeza que não era uma alucinação.

Fui até a cozinha e me forcei a beber um copo de leite e comer uma fruta. Não quis forçar muita coisa, era melhor um pouco por vez do que me empanturrar e acabar vomitando tudo. Peguei uma garrafa de água e alguns biscoitos e chocolates e coloquei em uma mochila. Andei até o bosque naquele dia irritantemente ensolarado. Me sentei em meio às árvores e respirei tentando me conectar a natureza. As bruxas eram servas da mãe Terra, éramos guardiãs, diferente das maldições que eram ser vampiro, ou lobisomem, ser bruxa era uma dádiva. Éramos escolhidas para gerar equilíbrio, deveríamos trazer paz e harmonia a tudo o que existe.

Invoquei a deusa dos ventos, senti o bater das folhas e uma brisa forte e potente me saudar. Ainda de olhos fechados senti a presença de minha ancestral. Era pura energia, a senhora do fogo! O pensamento sobre meu bebê veio a minha mente e uma emoção forte tomou conta de mim enquanto o vento se agitava a minha volta. Levantei as mãos de maneira inconsciente e toquei dedos quentes, que não estavam ali, mas que me incentivavam a absorver aquele calor. Era a natureza consentindo que eu reabastecesse meus poderes. Não era fácil, não era sequer algo que deveria ser praticado, mas por algum motivo minhas ancestrais estavam me dando essa oportunidade.

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