Prólogo

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Santa Rita - Villa das flores, outono de 2017

Chegou atrasada em mocinha — A senhora de 65 anos me repreende na porta da igreja, a única paróquia existente em uma vila que só não foi totalmente esquecida do mapa por fazer vizinhança com a maior fazenda da região e também maior fornecedora de rosas da pequena cidade de Santa Rita.

A fazenda do senhor Luiz Estrada é próspera e nada é tão belo quanto os roseirais que estão plantadas em terras férteis e a perder de vista. Por causa da fazenda muitos aqui tem emprego e condições de colocar comida na mesa.

— Por que, vovó? Está acontecendo alguma festa ai dentro? — Da escada, tento espiar o interior da igreja, mas o sol forte do lado de fora dá a impressão de que está tudo escuro no interior da pequena paróquia.

— Um velório — fala com espantosa naturalidade e se eu não tivesse me segurando no corrimão de madeira envelhecida, teria saído rolando pelos cinco degraus que separaram a porta da paróquia da calçada de paralelepípedo.

Como pode a minha vó está tão satisfeita em falar que os moradores da cidade estão participando de um velório?

Eu sei que é uma vila pacata e que nada acontece nesse lugar, mas, ainda assim, um velório não deveria causar esse tipo de sentimento. Se a dona Ester está assim, sendo geralmente a mais sábia do lugar, não quero imaginar como estará o resto.

Será que eles pelo menos sabem quem é a pessoa que faleceu? Aliás, como um lugar pequeno, presumo que deva ser alguém de fora, já todos se conhecem e não se teve notícia de nenhum falecimento.

Deus! Que pensamentos mórbidos para se ter em plena manhã de outono.

— Vocês pelo menos sabem de quem é esse velório? — indago.

— Bem... — O fato da minha vó parar para pensar já responde o que eu queria saber. Não, eles não fazem ideia do quem está ali, ou melhor, podem até saber, mas não conhecem a história da pessoa, não têm intimidade com a família do morto e não se importam em saber. Para todos, o mais importante é ter um evento para comparecer, mesmo que este seja um tipo peculiar de evento.

— Vovô, onde está? — Mais uma vez tanto curiar, pois se tem uma coisa que ainda não sei controlar é a curiosidades, não que algum dos meus vizinhos saibam.

— Onde mais ele estaria, criança? — Com as mãos na cintura, a senhora ainda jovem para a idade me questiona.

— No campo? — É uma constatação óbvia, uma vez que o meu avô é um dos melhores funcionários do campo do senhor Luiz.

Ele tem um amor tão grande pela terra, por cada muda plantada que realmente não é difícil entrá-lo quando se está procurando. É o meu avô, juntamente com dezenas de outros homens os responsáveis pelo belíssimo campo de rosas brancas, vermelhas e girassóis.

Tanto a cidade de Santa Rita quanto a vila das flores, são conhecidos Brasil afora pelo cultivo e revenda das mais belas flores da região. O negócio do fazendeiro Luiz Estrada movimenta toda uma cidade, e o que se  vê ao redor são floriculturas, lojas de presentes que tem como principais temas as rosas brancas e vermelhas e os belíssimos girassóis. Desde pequena, uma delas tem a minha predileção e o meu maior prazer é passar vários minutos no campo, observando os campos que os meus olhos nos conseguem enxergar onde terminam.
Rosas brancas exerce um fascínio incomum sobre mim e apesar de a vila respirar flores para todos os lados, o que deveria ser visto como comum para todos nós que estamos acostumados, para mim é algo especial.

A natureza me fascina, as flores me fascinam e principalmente, o perfume delas aquecem a minha alma, mantendo viva a minha alegria e esperança que um dia sempre será melhor que o outro. Me faz acreditar na magia do amor, da bondade e beleza dos sonhos.

Marcada por mim DEGUSTAÇÃO Onde histórias criam vida. Descubra agora