Ella
Depois de ter ilustrado até o teto e de estar quase na hora do almoço, parei para cuidar das minhas rosas e prepará-las para outras pessoas. Os cuidados estão basicamente em cortar os espinhos, separar em ramalhetes e enrolar fitas de cetim em algumas delas, para o caso de algum apaixonado querer comprar o buquê ao invés da unidade.
Enquanto de maneira minuciosa faço o meu trabalho, tenho a minha atenção atraída pelas vozes dos meus velhos e logo me impertigo. Deixo de lado o que estava fazendo e me encaminho para recebê-los na porta. Pelas suas expressões não dá para saber como foi a tal reunião e a apreensão e curiosidade, corroem as minhas entranhas.
— E ai, gente, como foi? — pergunto logo que eles entram.— Calma, criança. Deixa os seus avós entrerem e se sentarem primeiro. Sabe que já não temos mais a sua idade, não é menos? Esses ossos gastos precisam de descanso. — Seu Murilo, tira o seu chapéu de palha que de tanto usar, ele acaba esquecendo de tirar da cabeça nos dias em que não está trabalhando no campo.
— É claro — De frente para o sofá, vejo-os se acomodarem, minha avó calmamente tirar a bolsa do ombro e colocar do seu lado sobre o sofá que deve ter mais idade do que eu.
Na realidade queria mesmo é ter ido para a reunião, mas, como senhor Diego convocou somente os trabalhadores dos campos de rosas e os que trabalham na lida da fazenda, eu fiquei de fora, uma vez que não me enquadro em nenhuma das duas categorias.
— O que o homem decidiu?— Não há motivos para preocupação, pelo menos não por enquanto.
Meu avô começa, olhando de mim para a minha avó a não sei se dá para acreditar piamente no que ele afirma, já que na sua fala não existe qualquer firmeza.
— Pelo menos por enquanto? Me conta essa história direito, seu Murilo.
— O menino não tem qualquer intenção de ficar permanentemente aqui na cidade ou mesmo nas redondezas.
— Não?
— Não — Seu Murilo mais uma vez toma a palavra e continua: — Ele quer retornar a sua vida no Rio de Janeiro o mais rápido que puder e não pretende ficar por aqui mais do que o tempo necessário para deixar tudo em ordem.
— Como assim o tempo necessário? Colocar tudo em ordem? — Faço a pergunta mais para mim mesma, não podendo acreditar no que os meus ouvidos estão ouvindo.
— Foi o que ele decidiu, meu amor. Temos que respeitar e da forma como ele falou, creio que nada o fará mudar de ideia.
Meus ombros caem, o desanimo tomo conta do meu corpo e não consigo entender a calma dos dois. Como podem estar tão tranquilos quando a vida de todo mundo está em jogo por causa de decisões de um cara mimado que provavelmente nunca soube o que é trabalhar e por isso não deve dar valor ao que o seu pai deixou? Não faz ideia do que o legado do seu pai representa para toda uma cidade e por isso não tem a menor empatia.
— O que o idiota pretende com isso de colocar tudo em ordem?
— Ele pretende observar o trabalho dos administradores e quando estiver seguro de que são confiáveis, partirá para o Rio, lugar onde ele pretende continuar vivendo.
— É o que ele pode saber da lida com a fazenda e dos reseirais para decidir se alguém está ou não prestando um bom serviço? Quando esse homem esteve aqui por mais de dois dias para saber algo a respeito do trabalho que o pai veio fazendo por toda uma vida?
Estou furiosa e a minha reação fica parecendo desproporcional, se comparada com a calma que os dois estão.
— Não podemos fazer nada, criança. Se você visse como o menino mudou. Ele não é nada daquilo que foi um dia.
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Marcada por mim DEGUSTAÇÃO
ChickLitPode o amor causar dor? Aos 19 anos, Ella leva uma vida simples e tranquila e o fato de viver com tão pouco não é capaz de apagar o brilho no seu olhar, pois acredita que o seu lugar é onde está o seu coração. Mas tudo muda depois da chegada de Die...