Aparentemente bem.

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                        Capitulo 2
                   Aparentemente bem

Fuga! Fuja de mim, fuja do meu corpo, eu não consigo mais te sentir, minhas mãos estão dormentes, assim, como meu coração. Eu não consigo mais te olhar no espelho. Você se tornou uma desconhecido dentro do meu corpo, você é outra pessoa, você é um ser sem sentimentos e seco, você esta sem vida. Oh, minh'alma, por onde se escondes. Minha alma que eu quero que morra, eu não quero mais sentir as mãos de alguém me tocando, me possuindo e me batendo, não quero mais sentir, alguém colocando a mão em minha boca, para eu não gritar, não quero alguém, pegando em minha bunda, sem eu ter o direito de reclamar. É deseperador. É horrivel, você ficar presa, e uma pessoa perguntando te se estou gostando. As mãos que me possuiam, que tirava toda minha roupa e enfiava uma coisa fria e gosmenta dentro de mim. As tapas em minha bunda, a suada que seu corpo fazia em contato com o meu e o barulho que ele fazia em meu ouvido, me da nojo, só lembrar me da raiva, a cada segundo que eu estava ali, faziam-me morrer, em cada risada escrota. Foram momentos de total medo. Tenho raiva da vida, tenho raiva de mim. Eu colocava toda culpa em mim. Porque fui nascer mulher, pra sofrer? Porque tive que passar por isso?



Sim, aparentemente estou bem, eu visto uma máscara em minha face, pra esconder o medo, pra esconder as marcas que fiquei. Eu saio pela rua, com o sorriso de sempre, mas, tendo o medo de ver-los em minha frente novamente. O medo que eu sindo da vida, o medo que sinto em viver, em sair na rua, o medo que tenho de alguém me tocar de novo, a vida é tão cruel, e rude. Ainda mais pra mim que nunca foi fácil viver, eu que sou uma mulher negra, dos cabelos duros, assim como o mundo todo fala. Eu que sempre fui alvo de uma sociedade opresora, racista e maxista. Pra mim viver, nunca foi um trabalho simples, onde eu ia, tinha uma pessoa que ficava olhando pra mim, sempre com um pensamento preconceituoso. O olhar das pessoas são como armas de fogo, que atiram o preconceito. O olhar de preconceito já denúncia que não sou bem vinda naquele local, e isso, só piora cada vez mais a minha cara de deboche, eu piso na opressão, e dou risada do preconceito e sambo na cara da sociedade. Desde de quando que sou diferente de branco? Desde de quando meu sangue não é da mesma cor? Desde quando eu não sofro igual a branco? Acho que tudo que branco faz, o negro também faz. Meu sangue corre a melanina dos meus ansestrais, a forca e a raça do provo preto. A negritude que corre em meu peito, me da orgulho de quem eu sou, de quem eu fui.

Além de ser, uma mulher negra, também fui alvo de homens pervesos, imundos e maxistas, que só pensam em uma coisa, sexo. O que não é tão bom como eles pensam, se pra mim ta ruim, o pra eles são bom. O prazer que ele sente, que é mil maravilhas, pra mim, ele só esta se mexendo dentro da minha vagina.

No dia 12 de maio de 2017, eu estava saindo da faculdade, sozinha, como todos os dias. Fui caminhando em direção a Roberto Freire, no bairro de Capim Macio, na zona sul de Natal, quando atrás de mim, surgem dois meliantes homens. Não pensei em nada muito estravagante, naquele momento, só pensei que simplesmente são dois homens, e eles vão passar e pronto. Mas, meu pior defeito é não ter malicia e medo das pessoas. O meu relógio ja batiam as 22h da noite, eu sem nenhuma preocupação, porque meu ônibus só passara as 22h e 40min. Olhei pra trás, e eles ainda continuavam a me seguir. Eu parei. Esperei eles passarem, mas, não passaram. Quando eu percebi que eles estavam vindo em minha direção, eu tentei gritar, mas, o medo de morrer era muito grande. Eles me colocaram dentro de um carro, me amordaçaram e dizeram que iria ocorrer tudo bem, se eu contribuisse com o serviço. Quando ouvir aquele pronunciamento, eu me sentir um brinquedo, que se usa e joga no lixo. Eu tentei sair, mas, eles só pioravam. Meu coração pedia piedade e misericordia, mas, minha cabeça mandava eu obedecer, porque eu tinha medo, medo de morrer, medo deles me baterem e medo de deixar meus dois filhos sem uma mãe, ja que o pais deles, ja tivera morrido a 8 anos atrás, vítima também, de uma sociedade, corrupta e preconceituosa.

Foram horas de tortura e sofriemento. Eu juro que pensei que passaria rápido, mas não. Foram dois dias presa em um quarto, me senti em uma prisão. Eu só comia uma vez, a cada noite que passei ali, todos os dois dias, foram comendo no chão, cheio de insetos. Eu me sentir um lixo, jogado ali, no escuro. Meu pior pesadelo era quando chegava a noite, eles me pegavam, trocavam de quarto, e era cada um, em um comodo. Foram horas de terror. Depois das primeiras horas, eu só pedia pra sair viva daquele lugar. Um deles, me mostrou seu rosto. Os olhos loucos, e seu corpo suado em cima do meu. Eu lembro de cada segundo. Um deles me chamava de benzinho. Ele me pegava primeiro, me levava pro quarto vermelho, e me falava que não ia demorar e que logo, longo eu sairia dali, mas, não sairia pra fora daquele inferno, sairia logo, para outro quarto, onde o outro me pegaria. Esse de cabelos escuros, me dizia que eu era a cor do pecado, e que ele nunca tinha feito sexo gostoso com ninguém, só comigo. As batidas em minha cara, fazia com que ele sentisse mais satisfeito. Ele me espancava.  Ainda consigo lembrar do seu peso em cima do meu corpo, aterrorisante e apavorante, me lembro das suas perguntas, ainda lembro.

Depois da primeira noite, eu já não tinha certeza se iria sair viva daquele local, eu sentia miha vida se acabando, e eu posso jurar que aquele seria meu fim. Eu não ia aguentar mais nenhum segundo com aqueles dois monstros. Eu queria correr, mas, eles me matariam, logo que conseguissem me pegar. Eu queria gritar, mas, eles me enforcariam. E a única coisa que eu consegui foi chorar. Eu chorava por medo. Eu tinha medo dos meus filhos viverem nesse mundo caotico. Eu pensei em me vingar e conseguir um faca ou algo do tipo, mas, eles eram dois e também me matariam. Pensei em muitas alternativas, e todas elas terminariam com minha morte. Acho que teria sido até melhor eu ter morrido, só assim não ficaria ali pra ver a tortura. Meu corpo doia, minhas pernas tremiam. Minha cabeça explodia, e tudo que eu almejava era ir embora. Eu não quis denunciar tinha medo de morrer, mesmo sabendo que eles não iriam vim até mim de novo, mas, tive medo o bastante para sofrer calada. 

Algumas horas antes deles me soltarem, eu pensei. Se caso, ele quiserem me deixar em casa, e verem minha familía? Entrei em pânico. Minha mãe pensaria que sair com dois caras, e nunca iria me perdooar, mas, minha mãe me conhesse e saberia que nunca iria fazer uma coisa dessa. Minha alma estava escura, ela esta triste e incompleta. Minha dignidade fui rasgada e posta no lixo, minhas forças de luta foram gastas em algo que nunca consiguirei sozinha. 

 

Por isso, estou aqui, pra relatar minha história. Eu fui vítima de dois homens que abusaram da minha fragilidade. Fui estupradas por dois homens. E vim até aqui, pra pedir justiça. Não por mim, mas por todas as mulheres que são violadas, todos os dias. Sem o consentimento da policia, porque seus companheiros, fazem ameaças, que se elas denúnciarem, matam, sem nenhum dor. Quero pedir justiça, porque eu sei que não fui uma fraquejada. Eu quero poder lutar pelos direitos que minha filha de somente nove anos tem, quero que ela viva em um país em que ela não tenha medo de sair da escola, faculdade, ou qualquer lugar que ela freenquentar. Eu quero lutar, pelo direito das mulheres poderem sair com a roupa que elas quiserem, quero lutar, principalmente, pelas mulheres negras, que são mortas, por nenhum motivo ou circunstâcia. Quero lutar, pelas pretas de cabelos duro, que trabalham pra sustentar suas casas. Quero que as futuras mulheres possam trabalhar onde elas bem entenderem, porque lugar de mulher, é onde ela quiserr, e não adianta nenhum homem vim ditar onde a mulher deve trabalhar. E eu sei, que não consigo nada disso sozinha, por isso, vim pedir a ajuda de todas vocês, para abraçar a causa, e lutar como meninas que somos. Lutar, resistir e nunca desistir. Resistência sempre

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