Theresa

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Estava quente naquele verão em Londres, quando Elinor Blair, baronesa Sedwick, dava à luz o segundo filho do casamento com Robert.

O suor não era apenas do esforço da jovem na hora de empurrar o bebê; o quarto, cuja janela se encontrava aberta, estava quente, e o vento não refrescava o lugar. Tia Caroline e o médico se dividiam nos cuidados da jovem, que gritava sem parar, até calar-se ao ouvir o choro alto e forte do bebezinho.

- É uma menina, milady – disse o médico, com a fleuma metódica dos doutores.

Caroline deixou a pequena, enrolada num pano em tons de creme, no colo da sobrinha, que chorava de alegria ao ver sua menina, a companhia de sua filhinha Anthea e sua também, num momento tão difícil. O casamento com Robert não existia – ele apenas aparecia volta e meia para o que chamava de "tentativa vã de ganhar um herdeiro", o que significava a cópula. Mas de resto, eram dias e noites sozinha na casa, ora cuidando da filha pequena, ora verificando a cozinha, a arrumação dos quartos; e nos poucos momentos livres, cuidava do pequeno jardim nos fundos do sobrado – ou lia.

Elinor lia para esquecer a infelicidade de viver ao lado de um homem que não a amava e sequer a respeitava. Lia para distrair-se dos gemidos e gritos de Robert com outras mulheres, que trazia ao sobrado para se divertir; e lia para distrair a filha, que jamais poderia saber daquela obscenidade.

Queria sumir, fugir, desaparecer daquela casa, onde nunca foi feliz. Mas agora, com duas filhas a tiracolo, sua reputação estaria completamente arruinada – e a de suas meninas também. Não poderia voltar ao lar dos Vaughn; a prima Jemima estava em idade de casar, e qualquer associação negativa com seu nome destruiria suas chances.

Ouviu o som de um cavalo relinchando, enquanto tia Caroline retornava, ar pesaroso.

- Robert saiu.

A jovem não conseguiu reter um suspiro.

- Ele já sabe, não é?

- Infelizmente. Se arrependimento matasse... Jamais poderia ter lhe deixado casar com Blair. Parecia um arranjo bom, Ellie... Mas... – a tia começou a chorar; Elinor tentou consolá-la, dizendo:

- Quem poderia imaginar, tia, que ele seria essa pessoa. Vou me conformar com o que a vida me der, apenas.

- Como suas filhas, minha prima... – logo apareceu Jemima, trazendo junto consigo Anthea, de apenas três anos, e cabelos loirinhos, compridos, emoldurando um rosto delicado e os olhos azuis mais vibrantes que já vira. Era tão parecida com Robert! Mas tinha a sensibilidade que ele jamais tivera.

Jemima segurou a pequena no colo, para que ela visse sua irmãzinha:

- Olha só, Annie, como sua irmã é pequenininha...

- Palece uma boneca, tia Mima... – respondeu Anthea, com o jeito infantil de quem ainda tentava falar direito as palavras que aprendia.

- Sim, meu amor, uma boneca – respondeu Elinor, emocionada. – E você vai cuidar dela, protegê-la e ser a melhor amiga da sua irmã, combinado?

A menina fez que "sim" com a cabeça, sorrindo.

- Como será o nome dela, prima? – perguntou Jemima, curiosa. Sabia que Elinor tinha certo pendor em nomes diferentes para as crianças.

A jovem olhou pela janela. O sol brilhava fortemente, levando seus raios até o quarto, e aquecendo ainda mais o aposento. Era o auge do verão, e sua filha veio como uma brisa que trazia frescor à sua vida solitária. Mas era verão. E Elinor tinha um sentimento de que seu bebê cresceria tão forte, vibrante e envolvente como aquela estação.

- Theresa. Esse será o nome dela.

Chuva de Verão [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora