Eclipse solar

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Londres, 1816.

A mansão de Jemima Vaughn-Bretton nunca esteve tão alegre quanto naquele dia de verão. O casamento mais esperado da temporada – e um dos mais celebrados pela família Blair – logo ocorreria, coroando o que parecia ser mais um ano de alegrias para as quatro irmãs, que finalmente sentiam-se vivenciando momentos de felicidade sem lágrimas ou sacrifícios.

O salão já estava preparado para a festa que seria dada, todo em tons de verde e dourado, refletindo a natureza vivaz e apaixonada dos noivos; além da igreja, repleta de margaridas – escolha pessoal da irmã da noiva e uma das madrinhas, a marquesa de Penwith, ardorosa admiradora da flora. Enquanto os empregados deixavam tudo arrumado para a festa e o pai da noiva, Robert Blair, barão Sedwick, apreciava a tranquilidade de um dia sem maiores dissabores – afinal, casava a segunda filha apaixonada pelo noivo e logo torcia para que as outras também encontrassem a pessoa amada.

Já as Quatro Estações encontravam-se no aposento reservado para Theresa Marie Blair terminar de se arrumar.

- Impressionante como você já deveria estar pronta desde o Natal, minha irmã – Saffron fez troça, enquanto a modista terminava de organizar o véu de renda para que não bagunçasse o coque da noiva. – Era um nervosismo para este casamento, parecia até que o noivo iria fugir.

- E se fugisse, seria a primeira a buscá-lo, nem que fosse pelas orelhas.

As três irmãs ficaram surpresas com a resposta de Tempest, cujo tom parecia bem sério.

- Estou brincando, Theresa. Bradford jamais fugiria do matrimônio. Ele a venera. – o sorriso era caloroso, e uma raridade para as jovens. Tempest não era de fazer piadas.

A caçula da família até parecia outra pessoa – novamente optara por um vestido para o casamento. Também uma das madrinhas, estava muito elegante com um modelo na cor pérola, com uma saia repleta de estampas de flores azuis, babados na gola e a manga bufante, com pedrinhas caindo pela manga. Os cabelos começavam a crescer, num discreto penteado que deixava à mostra os cachos soltos e livres. Aos 18 anos, convertia-se numa bela jovem, e para a alegria do pai, parecia estar abandonando sua natureza excêntrica; mesmo que no cotidiano ainda ostentasse as calças e casacos masculinos.

- Assustou-me, Pat! – replicou Theresa. – Da próxima vez, indique-nos se está a brincar conosco ou não!

A aludida respondeu apontando a língua para a noiva.

Enquanto isso, Anthea tentava controlar os ânimos do filho, Magnus, que estava nervoso no colo da marquesa. O futuro herdeiro de Penwith era normalmente um rapazinho calmo e dorminhoco, uma mistura da gentileza dos pais; mas naquele dia não parava quieto no braço da mãe – e a todo instante queria tocar no coque de Anthea.

- Meu Deus, esse menino não para! – comentou Saffron – Vem aqui com a tia, vem... – abriu os braços, mas o menino ensaiou um choro.

- Gente, mas que criança manhosa! – disse a noiva, chocada. – Deve ter herdado isso da tua sogra chata.

- Theresa! – ralhou a irmã mais velha. – Magnus está num dia ruim, não é meu príncipe?

- Como é a relação de Portia com ele, Annie? – perguntou Tempest, curiosa. A irmã entendeu rapidamente do que se tratava.

- Portia está louca que ele comece a andar e os dois brinquem por aí. Trata-o como a um bibelô. – a marquesa reparou que a caçula suspirou aliviada com a resposta e deu um sorriso brando em réplica.

- Agora conte-me, Tessa, quem está na lista de convidados? Por que desta vez, considerando que tu e meu cunhado conhecem toda a Londres, eu consigo finalmente casar!

Chuva de Verão [DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora