Kassidy aquecia-se junto da fogueira que tinha acendido. O fogo crepitava junto dela, tímido, embora fosse o suficiente para restaurar o calor da sua pele. A humidade e o orvalho que caía das folhas dos pinheiros não ajudava a que as chamas se desenvolvessem, mas aquele lugar era perfeito para passar a noite.
Ter chegado ali tinha sido um milagre. E ter encontrado o que encontrou tinha sido uma surpresa ainda maior.
Kass olhou para as ruínas que se erguiam ao seu redor. Não sabia dizer bem a que século é que pertenciam, nem o que formavam - talvez uma igreja, ou um templo -, mas sabia que aquela era uma descoberta importante.
Estaria ela no centro de Glastonbury? Seria este o local da morte de Arthur? Seria aqui que o seu corpo jazia?
Não encontrava qualquer indício de um túmulo entre as ruínas, no entanto, elas pareciam estender-se mais para oeste, desaparecendo entre a vegetação.
O escuro não a ajudava e, embora os seus olhos já tivessem adaptados à pouca luminosidade, não se atreveu a levantar-se para ir tirar as teimas. Tinha a certeza que a manhã seguinte lhe iria trazer muitas respostas. Tudo o que tinha que fazer era esperar pelo nascer do sol do terceiro dia.
Deitada de costas e encarando o céu pouco estrelado, permitiu que os seus pensamentos divagassem por todos os cantos da sua mente. Perguntava-se se alguém, alguma vez, tinha encontrado aquele lugar e, se encontraram, porque é que nunca o deram a conhecer ao resto do mundo. Lembrou-se das palavras do seu pai. Durante muito anos, muitos historiadores e arqueólogos tinham vindo a Glastonbury, para nunca mais serem vistos. O que é que lhes teria acontecido? Teriam chegado ao coração da floresta? Seriam todas as histórias que Will lhe contou no carro verdade?
O medo dominou Kassidy durante momentos. O seu coração batia rápido sem que ela o conseguisse controlar e a sua respiração, em pouco tempo, tornou-se síncrona com os batimentos cardíacos.
Estava sozinha, numa floresta deserta, sem rede e com uma quantidade mínima de comida que tinha que ser gerida de modo a dar para o seu regresso. Se lhe acontecesse alguma coisa era certo que morreria ali. Ninguém a podia ajudar. Apenas duas pessoas dariam pela sua falta: o seu pai e Joan. Eles enviariam uma equipa de resgate, mas apenas passadas uma semana - o prazo que a morena lhes tinha dado. O tempo necessário para o seu regresso a casa -.
Kass obrigou-se a parar de pensar naquilo e voltou a concentrar-se na grande construção à sua frente. Era grande. Gigantesca. As chamas iluminavam uma parte das rochas que a formavam, até o seu topo se perder em direção ao escuro do céu, por entre os topos dos pinheiros.
Podia perceber-se que aquela, provavelmente, era a entrada de um monumento que, no século em que fora construído, teria sido motivo de orgulho para o povo daquele lugar. Mesmo naquele dia, passados centenas de anos após a sua destruição, aquela construção era motivo de orgulho para Kassidy. A morena não estava apenas feliz por ter encontrado as ruínas. Estava grata por elas se terem mantido de pé tempo suficiente para que Kass as pudesse admirar.
Os seus olhos azuis fecharam-se por momentos. A ansiedade não a deixava dormir. Esperava pelo dia seguinte como quem espera por um café na fila do Starbucks.
Concentrou-se no ambiente à sua volta. O barulho do fogo a crepitar. O calor que aquecia a parte esquerda do seu corpo. O vento leve. As folhas a dançar a pares. Corujas. Asas a bater. Galhos a partir. Uivos.
Lobos...
Kassidy abriu os olhos, aterrorizada. As suas mãos começavam a tremer. Com dificuldade e tentando fazer o mínimo e barulho possível, a morena arrastou-se até sentir as suas costas embater no muro parcialmente desfeito.
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Avalon
RandomDesde pequena que o maior sonho de Kassidy é tornar-se uma das mais conhecidas historiadoras do mundo. Quando vê o seu futuro em jogo, decide fazer o que muitas outras pessoas, ao longo dos séculos, tentaram: ir a Glastonbury, lugar que se acredita...