Beautiful Snow

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A vida humana é realmente insignificante para os imortais.

Jack Frost apenas notou isso depois de 20 invernos após sua nomeação como Guardião. Seu velho amigo, Jamie, já não era mais uma criança. Agora era um adulto respeitado, mais velho, casado e com uma linda filha. Como esperado, ele já havia perdido a crença das crianças, assim, não podia mais vê-lo. Mesmo assim, brincava com a filha do antigo companheiro em sinal de aceitação da realidade. Afinal, que humano mais velho acreditaria em contos?

A infância era algo de tão grande importância para aquelas criaturas, algo sagrado para Jack, contudo era, ao mesmo tempo, frágil e temporário. Uma criança que surge, logo centenas amadurecem e perdem a melhor coisa que há: a fé. As crenças infantis não eram tão duradouros como pensava, e Jack aprendeu da pior maneira possível.

Sem rumo certo a seguir, Jack caminhava pelas ruas congeladas a altas horas da noite. Deserta por sinal. Não era sua culpa se onde passava, a "nevasca" o acompanhava. Era seu trabalho e não podia se queixar. A neve caía de forma sutil ao seu silencioso redor, um espetáculo admirável, porém não visto pelas pessoas que encontravam conforto em suas residências. Fazia-se alguns anos desde que se sentira daquela forma tão melancólica. Sozinho, triste e sem uma verdadeira motivação. Era como se volta-se ao passado, quando não era reconhecido pelas tão preciosas crianças. Seria um fato muito improvável daqueles tempos voltarem.

Sempre na presenças dos pequeninos, Jack nunca se limitou em esconder-se para brincar junto deles. Era o espírito bom da neve afinal. Sentia-se feliz ao ter seu nome ser pronunciado tantas vezes e proclamados de criança a criança mundo a fora. O mais divertido, na opinião de Jack, era encarar o rostos dos adultos enquanto estes perguntavam com quem brincavam. "Com Jack Frost!" elas respondiam felizes e eles sorriam de volta. Nunca se sentira tão vivo, e também tão só. Uma estranha controversa que nem ao menos ele podia se responder.

Passos abafados pela neve assustaram-no e sem tempo a perder, Jack voou até o poste de iluminação, na esquina em que se encontrava. Jack não tinha problemas como este anteriormente, mas depois que passou a ser visto, toda cautela era necessária. Um tempo olhando o suposto caminho que os passos trilhavam, o contorno de alguém se aproximava pela calçada com mínimo de pressa. Curioso para saber quem era a pessoa a perambular as ruas naquele horário, Jack ficou no lugar, observando um vulto chegar até debaixo de onde estava. Quanto este parou, Jack quietou-se no lugar.

Parecia uma adolescente comum, com muitas roupas para espantar o frio de inverno e, por algum motivo, esta permaneceu ali, sem mencionar uma palavra.

Jack sentiu a curiosidade aumentar. A jovem parentava não querer prosseguir ou havia perdido esta vontade. Jack a viu se abaixar para pegar um pouco da neve com as mãos nuas. Ela encarava o monte de floquinhos com extrema doçura e um pequeno sorriso pode ser notado por Jack. A garota pôs-se a modelar a neve para que esta ficasse na forma de uma pequena bola e, olhando para os lados de relance, a jovem colocou toda sua força para arremessar a bolinha pelos ares noturnos e sombrios. Com o sorriso não mais em sua face, Jack não pode mais aguentar vê-la sem ao menos conhecer seu rosto nitidamente.

Acreditando que a jovem não o veria por sua idade não muito avançada comparado as crianças, Jack atreveu-se a descer do poste, pousando suavemente atrás da jovem misteriosa que o despertara tal curiosidade. Calmamente, o rapaz se pôs ao lado desta, notando que com a cabeça baixa, os ombros da jovem faziam movimentos trêmulos. Sabia que esta estava preste a chorar por algum motivo, todavia, o rosto baixo impedia Jack de ter a visão perfeita deste. Ousou ir além e se aproximou um pouco mais e num instante, o rapaz foi ao chão, deixando seu cajado cair sobre a neve fofa ao seu lado. O empurrão por parte da garota o surpreendeu, porém não mais do que encarar olhos heterocromáticos o fitarem com tristeza junto a face banhada por lágrimas.

As Marcas dos ConselhosOnde histórias criam vida. Descubra agora