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Juliana Valdés sentia de modo intensivado o incômodo em seu estômago, nas últimas semanas tudo o que rondava sua mente envolvia aquele dia. Suas mãos suavam e ela tentava disfarçar seu nervosismo colocando-as dentro dos bolsos de sua jaqueta. Seus óculos redondos sujos não a impediam de olhar deslumbrada para a enorme estrutura em sua frente, a Universidade Nacional Autônoma do México se erguia de modo magnífico e intimidador à sua frente.

Desde que tinha pensamentos coerentes Juliana sonhava com aquele dia, entrar na melhor Universidade do México, suas noites mal dormidas, não apenas pelos estudos, seriam finalmente recompensadas. Juliana encarou o enorme prédio em sua frente uma última vez antes de ir em direção ao gigantesco portão de entrada da Universidade.

Cinema. Essa sempre foi sua paixão, ela tinha visto tantos filmes em sua vida que não conseguia pensar em três palavras sem se lembrar de alguma referência cinematográfica. Embora se fascinasse pelas atuações incríveis de suas atrizes favoritas, esse nunca foi o seu sonho, tudo que queria era estar por trás da mágica, estar de coadjuvante ao mesmo tempo em que desempenhava um dos principais papeis em um filme, queria ser diretora. Se dependesse do número de filmes que tinha dirigido em sua cabeça, Juliana facilmente teria uma vasta cinematografia em seu currículo.

Juliana Valdés foi nascida em criada na pequena cidade de San Miguel de Allende a poucas horas da Cidade do México, foi criada por sua mãe, já que seu pai as deixou quando ela ainda era uma criança. A vida não foi nada fácil para Juliana, desde muito jovem ela teve que trabalhar para ajudar nas despesas da família, já que apenas o que sua mãe ganhava como garçonete não era suficiente para suprir as necessidades das duas. Sua avó era a responsável pela sua imensa paixão por cinema, Sra. Guadalupe Valdés vivia a poucas ruas de sua casa, e sempre incentivou a neta a ver o maior número possível de filmes. De clássicos mexicanos a filmes independentes da Noruega, Juliana tinha visto de tudo, sua parte preferida do dia era quando terminava seus afazeres e ia para a casa de sua avó assistir mais um filme, ela sentia arrepios com cada introdução de um filme, ela nunca teve dúvidas de que era aquilo que ela queria para a sua vida.

Juliana cresceu com seus pés fincados ao chão por obrigação, mas parte de sua cabeça de algum modo, contrariamente, vivia longe do solo. Aquele local que a assustava, e era também onde ela sempre quis estar, e isso era um tanto controverso, assim como ela própria. Juliana respirou fundo pelo que pareceu ser a milésima vez em questão de segundos e abriu sua bolsa encontrando um documento com seus horários de aula, mas antes de realmente entrar no prédio de seu curso ela ouviu uma risada e por alguma razão ela parou, e buscou quase de modo desesperado a dona daquela melodiosa risada, era contagiante, era sonoro, a instigava, por um segundo ela esqueceu que suas mãos estavam tremendo. Depois de alguns segundos ela percebeu que seria impossível encontrar a dona da risada no meio daquele amontoado de pessoas, com um último suspiro e uma última olhada para trás ela finalmente abriu caminho para o futuro.

Seus primeiros horários passaram rapidamente, a professora de História da Arte, do Cinema e Audiovisual era cativante, tinha um sorriso frouxo e falava com paixão sobre sua disciplina, o que fez com que Juliana sentisse que estava no local correto. Foi avisado na sala que não haveria os dois últimos horários de aula, e que os alunos poderiam aproveitar as diversas palestras que estavam sendo apresentadas ao redor do campus. Juliana como uma boa caloura teve que olhar no imenso mapa da Universidade que recebeu quando fez sua matrícula, ela encontrou então o auditório que teria a palestra de seu interesse e seguiu seu caminho.

A Universidade era ainda mais incrível por dentro, e os locais de convívio comum entre os prédios eram fascinantes, haviam diversos bancos espalhados pela grama verde do local, além de árvores que tampavam quase inteiramente o céu, vários estudantes estavam aproveitando o intervalo, alguns estavam em rodinhas conversando alto, outros tocavam instrumentos, alguns fumavam em um canto, o ambiente deixou Juliana menos nervosa sobre o que viria a seguir, aquele definitivamente era um local que ela poderia se acostumar.

Eccentricity - Juliantina  Onde histórias criam vida. Descubra agora