Pai nosso que estás nos céus, santificado seja o teu nome, venha ao teu reino, seja feita a sua vontade, assim na terra como nos céus, o pão nosso que cada dia nos daí hoje, perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos aqueles que nos têm ofendido, não nos deixe cair em tentação, livrai-nos do mal, amém.
- Amanda! Amanda acorda, o que aconteceu com você? Vem comigo. Ouço voz de Meury.
- Por favor, não ligue. Falo, o cansaço toma conta de meu corpo e de minha consciência.
- Você quer que eu ligo para polícia?!
- Não, não ligue para ninguém, por favor. Falo, ela levanta-me daí e entramos para loja, não sinto as pernas.
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Por favor que isso tudo não passe de um sonho e eu vou acordar agora na minha casa, na minha cama, com meu esposo.
Não consigo abrir os olhos, por medo, por medo de que isso não é um sonho e eu não estou em casa, esse cheiro não é da minha casa, pareço estar deitada em um sofá que não é da minha casa, essas energias não são da minha casa, lágrimas escorrem até os meus ouvidos, ainda sem coragem para abrir os olhos.
- Amanda? - Oiço a voz trêmula de Meury, então eu abro os olhos, e sinto o olhar chocante estampado no rosto dela, meus olhos continuam submersos.
- Não chores meu amor, eu sei como você se sente. Ela diz ao abraçar-me, e isso piora meu choro, já não consigo travar nem os soluços.
- Já passou meu amor. Ela diz acariciando minha cabeça.
Eu sei que estou com ferimentos, eu sei que estou suja por dentro, eu sei que estou manchada, sabe aquela sensação de estar suja? Ou quando borramos a roupa com a TPM, pois, uma sensação de sujeira mesmo, e eu não sei como me limpar, sinto que me foram tirados pedaços, pedaços de mim... imagine que você é uma árvore, cada folha representa algo na sua vida, pode ser sua carreira, escola, talentos, suas qualidades seus defeitos e de repente vem alguém e começa a arrancar algumas folhas, folhas em fase de crescimento, o que você faria perante a isso? Qual seria sua atitude?
Saio da boutique, caminho para casa, a Meury queria me acompanhar mas eu consigo chegar sozinha, é quase meio dia e já há movimento nas ruas, o mínimo que podia fazer pela Meury é agradece-la pela roupa que ela me deu, ela nem perguntou o que se passou, acho que ela percebeu, acordei sem sangue, ela provavelmente limpou meu corpo e viu a porcaria que fizeram com ele.
Chego em casa, e encontro meu esposo e minha filha na sala, com certeza a minha espera, preocupados, mamãe saiu e não voltou mais!
- Posso saber onde você estava Amanda? - Meu esposo me confronta, minha filha olha para mim com os olhos encharcados.
- Depois conversamos. Falo e vou para o banheiro, tranco a porta, tiro a roupa e entro para o banho, me sinto tão impura, me sinto suja, cheiro horrível, como se essa sujidade e cheiro não tivessem fim, como uma marca que tenho de sentir e me lembrar sempre do que significa.
Não sei o que dizer para minha família, é claro que eles estão aguardando respostas, mas eu não sei, não sei o que dizer, como dizer.
Saio do banho, amarro a toalha e vou para o quarto, ainda sinto as minhas pernas fracas, deito na cama ainda molhada, e sinto um sono leve e pesado me invadindo.- Amanda! Amanda acorda, você está me deixando assustado!
- Amanda! - Abro os olhos, será que a partir de agora eu terei sempre pesadelos que têm haver com estupro? Pelo amor de Deus, eu não quero sonhar com isso, nem lembrar!
- Você está bem? - Meu esposo pergunta.
- Eu estou bem Carlos.
- Porque você desapareceu?
- Me deixa respirar meu Deus! Preciso de espaço.
- Você passa noite fora de casa, e eu não posso saber onde estava? Eu sou seu esposo, você me deve satisfações Amanda.
- Passei a noite fora de casa, e agora? Vai me matar? É bom que me mate mesmo.
Levanto, e percebo que estou pelada, pego no roupão e me cubro.
Caminho até a varanda, e me sento.