Começou em uma festa, com um rock alternativo no ultimo volume no radio de Vanessa, quando eu vi a garota de cabelos cacheados caminhando pelo grupo de rapazes, segurando uma lata de cerveja americana, indo se sentar ao lado de sua amiga. Nesse momento alguns caras já haviam notado sua presença e sua beleza, cochichando entre si sobre qual abordagem seria a correta. Ela não parecia se importar com os diversos olhares, bebericava o liquido amarelado e conversava em um bom som para que a pessoa ao seu lado pudesse ouvir em meio aos riffs ensurdecedores de guitarra.
Devo dizer que odiava festas, e multidões, qualquer coisa que envolvesse agir socialmente. Então resolvi analisar todos os gestos da menina como uma forma de não se entediar. Ela era linda, tinha os cabelos longos e bagunçados de uma forma proposital, seus olhos eram castanhos escuros e brilhantes, e sua pele negra. Poderia admitir até aquele momento que era a garota mais bonita naquele aniversario. E seria uma verdade incontestável.
O pai de Vanessa e tambem meu tio, interrompeu a musica, erguendo um copo para cima e chamando atenção de todos.
ㅡQuero fazer um brinde ㅡEle disse ㅡA minha filha, Vanessa. Que seus 19 anos tragam muita paz e sabedoria, sucesso e todas as boas coisas da vida.
ㅡIsso ai ㅡAlguém gritou.
ㅡA Vanessa!
Todos ergueram suas latas de cerveja e copos de caipirinha gritando o nome da aniversariante, imitei o gesto e permanci calado.
ㅡHora do parabéns. ㅡVanessa berrou.
De uma hora para outra, uma roda havia se formado em torno do bolo. Procurei entre os diversos rostos a garota, sem exito de encontra-la.
Acompanhei as palmas do parabéns e a cantoria, vi o primeiro pedaço ser entregue a mãe e em seguida aos parentes. Vanessa entregou depois um a mim e eu dei um sorriso agradecendo.
Era um pedaço enorme de massa achocolatada, com nata e detalhes em verde.
Outro rock começou a tocar e a vontade inconsolável de ir para casa retornou. Segurei o prato preto de plastico em mãos e caminhei até a saída na esperança de ninguém me ver.O portão de ferro estava fechado com o cadeado aberto na tranca. Coloquei o prato no chão e retirei o cadeado, em seguida abri o portão. Dei dois passos para trás e escutei o barulho de plastico sendo pisado, mirei meu sapato coberto de bolo na sola e bufei.
ㅡMerda. ㅡResmunguei ㅡVocê só faz merda Kennedy.
ㅡAguá resolve ㅡUma voz no meio da escuridão disse.
Do lado de fora, sentada na mureta de concreto estava a dona dos meus olhares. Sinto meus órgãos entrarem em pane sem saber o que responder ou fazer, mantive a mão no ferro só para pode segurar em algo firme e controlar a ansiedade.
ㅡEsta tudo bem?
Não estava tudo bem. A minha falta de experiencia social me enlouquecia.
ㅡKennedy não é? ㅡEla esticou o corpo estendendo a mão á mim. ㅡNaria.
ㅡComo sabe o meu nome?
ㅡVocê acabou de dizer que só faz merda, então ou você é o Kennedy, ou tem algum amigo imaginário com esse nome.
Ela arqueou as sobrancelhas e recolheu a mão. Eu deveria ter cumprimentado e não feito uma pergunta estupida, ao invés disso, arrastei meu sapato pela calçada, tirando a nata da sola.
ㅡVocê é algum tipo de psicopata?
ㅡO que? ㅡArrastei novamente, disfarçando o nervosismo.
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Naria
Short StoryKennedy é pessimo em conversas e coisas que envolvam agir socialmente, mas tudo muda apos conhecer Naria durante uma festa de aniversario.