O nascer do sol

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—O que você faz da vida?

—Eu estudo contabilidade na faculdade daqui mesmo, e você?

—Musica, no estado vizinho.

Fiquei tão surpreso, significava que ela não era daqui, ou não passava os dias do ano na cidade.

—Você não mora aqui?

—Não mais, me mudei faz um ano. Volto amanhã.

Eu estava com um sentimento de falta. Eu sentia falta dela, mesmo estando ali. As chances de eu voltar a vê-la diminuíram para zero, uma possibilidade nula.

—Toco piano, desde os 9 anos.

—Isso é incrível —Falei desanimado.

—É a minha ultima noite aqui, fico feliz que tenha conhecido você.

—Eu também.

Os benditos olhos castanhos fizeram o desanimo sumir, era a inexplicável a capacidade que Naria teve em me fazer mudar de humor. Novamente seu corpo é esticado na calçada e não precisei ouvir um pedido para fazer companhia a ela.

—O que você queria fazer?

—Como assim?

—Sempre sonhou em estudar contabilidade ou queria outra coisa?

—Sempre gostei de matemática e contas, ou eu viraria professor, ou contaria o dinheiro de gente rica.

—Duas opções horríveis.

—Claro que não. —Dei risada.

—Matemática é a pior matéria do universo.

—Como pode dizer isso? Matemática é o motivo de tudo existir.

—Não é não. História deixa matemática no chinelo.

—Mas nem nos seus sonhos, Naria.

—Nos sonhos de todos, Kennedy. —Seu pés cutucaram os meus.

—E você? O que queria fazer?

—Musica foi a minha paixão desde sempre. É a unica coisa que sempre tive certeza na minha vida.

—Nunca nem pensou em algo diferente? Tipo matemática? —Naria fez uma careta horrorizada, me fazendo gargalhar.

—Mas nem morta. Tenho alergia a matemática, e contas, números, bhaskára.

—Não sabe o que está perdendo.

—Não estou perdendo nada. Mas quando eu for uma musicista famosa, te contratarei para contar o meu dinheiro.

—Será uma honra.

A tocadora de piano piscou e sem muito jeito pisquei de volta. Existia um fiozinho tênue nos ligando naquela escuridão. Eu desejaria que a noite também não tivesse fim, ou que alguma ironia do tempo fizesse este dia repetir varias e varias vezes. Só queria continuar com Naria.

—Me conta um segredo. —Pediu.

—Um segredo? —Indaguei.

—Qualquer um, desde que seja algo digno de ser segredo.

—Se eu contar, terei que te matar depois.

—Um, interessante senhor presidente. Prossiga.

Eu não tinha muitos segredos, minha vida era monótona e sem muitos acontecimentos gratificantes. Só havia uma coisa o qual ninguém sabia. Apenas uma coisa.

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