Quando a morte escreve, deve-se parar para ler.
Aviso: esse livro pode conter vários gatilhos sobre morte. Preserve sua saúde mental 🖤
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# 1° lugar no Concurso The Best
#3° lugar no concurso Palavras Douradas
Quando me aproximei da varanda, ela já estava me esperando. Sua cadeira balançando e seus olhos focados na paisagem à sua frente... Não havia muito para ver, o céu estava escuro e nenhuma luz estava acesa, somente a de sua casa. Ela deixou a luz acesa para mim, sabia que eu viria.
Ela só tirou seu olhar do horizonte quando as correntes em meus pés fizeram barulho por seu assoalho de madeira, eu poderia ouvi-la me xingando por ter arranhado seu piso. Sua cabeça pendeu para o lado, estava pensando nas vezes em que nos encontramos antes... Eu havia levado o grande amor de sua vida, depois foi a vez de sua mãe. Contrariando a ordem natural do universo, levei também a sua filha, uma menina realmente especial... Morreu dormindo.
Um ano depois, levei seu marido.
Havíamos nos encontrado várias vezes, eu a conhecia e ela a mim, ela se agarrara à vida com força, tinha uma enorme vontade de viver e eu assim o permiti. Mas ninguém vive para sempre, pelo menos não em carne.
No final, quando nossos olhares se encontraram, ela sorriu.
— Esperei por você a vida toda.
Eu sabia disso, estava sempre esperando seu momento, mas eu nunca vinha. Algumas vezes, uma alma me chama atenção. Ela amava a vida, mas ela só a amava porque sabia sobre mim. Vivia como se fosse morrer amanhã, sempre ao extremo, sempre me esperando. Era minha maior incógnita... Como alguém poderia viver me esperando e me esperava querendo viver? Definitivamente, ela era especial.
— Eu estava esperando o momento em que você parasse de esperar por mim... - Estendi minha mão em sua direção, a fina camada de pele cinza se agarrava aos ossos de meus braços, a brisa soprava e ela olhou para o chão uma última vez.
Seu chão de madeira com a poeira que acabara de chegar, se instalando sobre suas botas. Ela gostaria de poder varrer apenas mais uma vez.
Ela soube viver tão bem, que seu único arrependimento, foi o de não ter escolhido um par de botas mais bonito.
Essa é uma carta sobre ela, uma carta sobre uma alma que me tocou. Que soube viver e não veio com arrependimentos. Essa é uma carta sobre ela... A alma que eu quero que vocês se tornem no final: livres.
Com carinho,
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