0.4 | eric

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Acordei com o meu pai a bater-me à porta, pedindo que acordasse e me vestisse.

Mirei o relógio. Marcava 10:48h, indicando que tinha dormido perto de 7 horas. Sem perguntar o porquê da nossa saída, fui em direção à casa de banho, entrando nela e despindo-me. Tomei um duche rápido e fui á ultima gaveta retirando de lá uma roupa interior lavada.
Saí da casa de banho e vesti uns shorts e um top branco, colocando uma camisa castanha aberta por cima.
Penteei o  cabelo e escovei os dentes. Não coloquei qualquer maquilhagem, decidida a dar uma pausa à minha pele.

Desci as escadas, já com as minhas all-stars calçadas, ainda bocejando. Encontrei o meu pai na cozinha a tomar o seu pequeno-almoço. Retirei um iogurte do frigorífico e adicionei-lhe cereais. Logo senti o meu estômago a absorver todas as calorias que ingeria devido à minha falta de horários. Definitivamente tinha de prestar mais atenção à minha alimentação.

- Onde vamos?- decidi quebrar o silêncio entre nós.
- Para o clube. 
- Fazer o quê a estas horas?- perguntei desinteressada, retirando mais um iogurte do frigorífico.
- Tratar de alguns assuntos que não te dizem respeito. 
- Então porque é que me acordaste? - respondo num tom um pouco mais alto do que pretendia. Se não me diziam respeito podia simplesmente ficar a dormir as horas que me faltavam.
- Não vou ter tempo de vir a casa depois de almoço e quero-te a trabalhar. Hoje é sexta-feira e é sempre o dia em que temos mais clientes, não posso ter uma baixa. Portanto despacha-te que eu tenho uma reunião marcada. - falou e colocou a sua chávena no lava-louça, saindo em direção à garagem. 

Rapidamente acabei de tomar o pequeno-almoço e saí, não tendo realmente alguma opção. Suponho que o meu dia não fosse ser muito interessante caso ficasse em casa, de qualquer forma.

...

Cerca de vinte minutos passados em silêncio, chegamos ao local. Pisei pela primeira vez a luxuosa entrada, toda ela em tons de roxo e dourado.

Antecipando que iria ser abandonada sem mais nem menos perguntei para o ar -  E o que é que eu vou fazer a tarde toda?
- O que quiseres, desde que não dês trabalho. Passas o tempo todo enfiada em casa, não é muito diferente. Agora tenho de ir. - o ar teria tido uma resposta certamente mais amável.

Revirei os olhos, decidida a não deixar o meu humor ser afetado. Vagueei pela sala, olhando para os detalhes do palco e dos tetos que não tinha tido a oportunidade de apreciar. 

Sentei-me numa das muitas mesas existentes no espaço. Era muito agradável; a atmosfera era toda muito bem decorada: os sofás, sempre redondos, num tom de roxo escuro, encaixavam na perfeição com as mesas douradas, também redondas. Toda a sala era iluminada por pequenos focos de luz, criando um ambiente sombrio e discreto. A exceção é o palco, uma plataforma elevada do chão em forma de T, com focos a toda a volta e um varão na extremidade mais próxima do centro da sala. Quem quer que entre no estabelecimento tem automaticamente a visão atraída para zona. 

Já o bar é todo em dourado, com bancos roxos ao seu redor. A minha atenção focou-se na variedade de bebidas encontrada nas extensas prateleiras que forravam a parede.

Eu já tinha bebido algumas vezes, nada de especial. Alguns shots, uns whiskeys e martinis, enquanto via os meus reality shows, pouco mais. Aproveitei a oportunidade e decidi matar a minha curiosidade acerca de uma bebida, que apesar de nunca ter provado, sempre imaginara que viesse a ser a minha preferida. 

Peguei na tão amada garrafa de Vodka Preta e deitei num copo, colocando a garrafa de volta no sitio.

Sem esperar, ou olhar para o copo, pego nele e emborco tudo de uma vez. Instantaneamente os meus olhos fecharam-se ao sentir a minha garganta a arder devido ao liquido que tivera acabado de beber.

Definitivamente conquistada pelo sabor, preparava-me agora para a segunda rodada quando avisto um corpo a espreitar através de uma das portas. Arregalo os olhos e recebo da sua parte um riso divertido. A pessoa avançou e pude reconhece-lo como sendo o "segurança musculado" que me dava indicações. O homem aproxima-se e tira os óculos escuros que sempre usou quando eu o vira, revelando duas pérolas azuis claras.

-Não fiques assustada, eu não digo ao teu pai - sorriu - era uma oportunidade demasiado boa para desperdiçar.

Suspirei de alivio fazendo-o rir mais uma vez.

-Obrigado, eu chamo-me Alison.

-Eu sou o segurança musculado, muito prazer - senti as minhas bochechas corarem, arrancando mais uma gargalhada da sua parte- Mas podes tratar-me por Eric.

-Como é que sabe disso? 

- Digamos que ouvi uma conversa com a tua amiga, e por favor trata-me por tu, não sou assim tão velho!- deu uma leve gargalhada, sim, porque o homem se ria por tudo e por nada.

Forcei-me a deixar o meu embaraço passar e optei por seguir o seu conselho, visto que não teria trinta anos. - Então e o que é que sugeres como atividade por aqui, a esta hora do dia?

- Bom - olhou para o bar - eu até sugeria uma visita guiada às instalações, mas, na verdade, já fizemos isso. Portanto, porque é que não bebemos qualquer coisa para ajudar a pensar? - olhou-me com as sobrancelhas arqueadas e ponderei se estaria a falar a sério - Fica entre nós, claro.

Gosto deste tipo

Sem pensar duas vezes acerca da estranheza da situação, peguei em dois copos enchendo-os da minha bebida predileta.

- Ao negócio!- disse levantando levemente o copo. Ele repetiu o gesto, fazendo-nos brindar.

Emborcamos de uma vez todo o conteúdo do copo. Os nossos olhares cruzaram-se e desatamos a rir, sem motivo nenhum além da peculiaridade da situação.

Infelizmente, passado menos de uma hora a senhora das limpezas chegou, obrigando-nos a parar com a brincadeira. Escondi os copos e coloquei a garrafa no lugar, reparando no volume de bebida em falta. Apenas neste momento me apercebi da ligeira turbulência na minha visão.

Aproveitando a descontração proveniente da bebida ficamos a conversar mais algum tempo. Descobri que ele tem formação de assistente de bordo e já viveu na Irlanda do Norte. Foi aí, aliás, que levou um tiro no pé, enquanto segurança de uma discoteca em Belfast. Após esse acidente, regressou à Inglaterra e começou a trabalhar para o meu pai poucos meses depois, afirmando não ter medo de algo semelhante voltar a acontecer. Aconselhou-me alguns cafés e restaurantes nas proximidades de onde nos encontrávamos e, inclusivamente, levou-me a um pequeno café no mesmo quarteirão, do qual nunca me tinha apercebido, para almoçar. Londres é uma cidade muito grande e a verdade é que sou uma turista na minha própria hometown

Menos de uma hora mais tarde estávamos de volta ao clube pois o seu turno regular iria começar. Agradeci pelo entretenimento e subi para os camarins. Mal me sentei no pequeno sofá de sarja senti os olhos pesados e deixei-me adormecer.

Strip Club | h.s. - hotOnde histórias criam vida. Descubra agora