- Lar, doce lar - Minha irmã mais velha dizia ao destrancar a porta - Deixe eu te ajudar, tem uma mesinha de centro e não quero que se machuque.
- Não de preocupe, eu consigo, preciso me acostumar com o apartamento - Entro no espaço e a menos de dez passos tropeço, no que parecia ser um sofá, e caio estatelada no chão - Eu 'to bem!
- Que tal você ir conhecer o predio, tem crianças da sua idade - Ela me ajuda a levantar - Então eu dou um jeito no seu novo quarto.
- Missão de reconhecimento aceita - pego um moletom e a bengala da mão da minha irmã - vou lá.
Sai do apartamento tateando as paredes até o elevador, decidida a comerçar de cima pra baixo, então aperto o botão do quinto andar que estava em relevo, quando a porta se abre o cheiro de bolor e madeira em decomposição forte e enjoativo se fez presente.
- Alguém realmente mora aqui em cima?
Murmurios eram ouvidos da porta ao lado, então me direcionei a ela, ao bater a mesma se abriu e eu entrei devagar.
-Olá!Tem alguém?!
As vozes pararam e ouvi passos em minha direção até pararem em minha frente
- Perdão, eu não queria invadir, queria conhecer o prédio e possivelmente os vizinhos, ouvi murmurios e a porta 'tava aberta e...
- Ei, está tudo bem- A voz estava abafada, algo cobria sua boca, mas se percebia que era um garoto da minha idade - não vive ninguém aqui em cima, eu moro no 402, sou Sal Fisher
- (S/N) (S/S), me mudei pro 405 pra viver com minha irmã - O silencio se formou e pude sentir sua tenção - Você está estendendo a mão 'pra mim né? Foi mal, sou cega
- M-me desculpe - Começo a rir baixo - Não tinha a intenção.
- Eu sei, percebi que não queria o fazer - sorri parando de rir - Possivelmente estou sendo invasiva, mas você cobre a boca com algo. Sua voz está tão abafada.
- Uso uma máscara prótetica, motivo de antigos amigos me apelidarem de Sally Face, acabei adotando o nome.
- Você tinha amigos horriveis
- Tenho que concordar!
Eu e Sal nos demos muito bem, no mesmo dia ele me guiou pelos apartamentos, me apresentou aos moradores e a seus amigos. Todd foi o primeio, sua casa tinha um cheiro adocicado e viciante, maconha, mas seu quarto era limpo e agora sei que são seus pais que usam a erva.
Então foi a vez de Larry, que mal me conhecendo me apelidou de "Blind Eyes" e ao saber que Rock é meu estilo musical preferido me fez ouvir Sanity's Falls, banda que até gostei.
=quebra de tempo=
Eu já não morava nos Apartamentos Addison com minha irmã, nos mudamos para uma casa no fim da mesma rua em frente a atual casa de Sal, Todd e Niel, namorado do ruivo.
-Que tal essa - Começo a tocar alguns acordes em minha guitarra.
- "American Woman" - Então o azulado começa a tocar outra melodia - E essa?
- "Living easy, living free.
Season ticket on a one-way ride
Asking nothing, leave me be..." Highway to Hell - sorri após ele parar - Todd não ia mecher na sua guitarra?
- Sim, mas ele ainda não começou, então ainda posso usa-la
- Quer dizer que "Os Caça Fantasmas" estão de folga, é bom saber - deixo o instrumento de lado e deito na cama com a cabeça na perna do mascarado - Posso ficar mais tempo com você, Sally Face.
- Isso é bom, Blind Eyes - Sinto seus lábios rachados e cicatrizados junto aos meus em um leve beijo - Sabe, as vezes penso como seria se você voltasse a enxergar, com certeza me largaria na hora que me visse.
Me levanto tirando as guitarras da cama e me sento em cima de suas pernas, sem sua prótese traço todo o contorno de seu rosto com a ponta de meus dedos, por cima de suas palpebras, tomando cuidado com seu olho de vidro, o cabelo solto e de volta a seu rosto tracando todas suas cicatrizes.
- Quem disse que eu não te vejo? - Sorria - Eu o vejo da minha maneira, e posso dizer que você é lindo!
Seu corpo endurece, ele ia chorar, preciono mes lábios nos seus em um beijo calmo e logo depois o abraço.
- N-Não me deixe - Ele soluçava
- Eu nunca te abandonaria, Sal - Me afastei para segurar seu rosto e secar suas lágrimas - Porque eu te amo mais que tudo!
O sinto sorrir e me abraçar antes de iniciar outro beijo.
=Atualmente=
Correndo pelos corredores da prisão guiada somente pelo barulho dos sapatos de Ashley que segurava fortemente uma foto recém tirada do fantasma de Larry, já eu, tinha um vídeo no meu celular pra provar a verdade da foto. Ash para de repente e começa a bater no que parecia ser uma janela.
- Espera! Ele estava falando a verdade! Nos temos provas! Por favor!
- Você precisa esperar! - Era minha vez de gritar - Só nos deixe mostrar o que encontramos!
- Ei, ei! Espere!
Mal se desfez a voz de Ash no ar quando o som de eletrecidade invade ambas as salas.
"Hora da morte: 18:33 da tarde"
Sem perceber, lagrimas já escorriam por meu rosto como rios.
- Não - Ashley me abraçou para me impedir de cair no chão, o que não funcionou - Não, Ash por favor, não de diga que...
- Chegamos tarde - Passos foram ouvidos e com isso Ashley me soltou, o som de algo ser arrancado das mãos da pessoa que chegou e logo se foi- Tome.
Algo gelido como porcelana foi posto em minhas mãos, a prótese de Sal, agora no meio do meu abraço, braços fantasmagoricos me envolveram e junto com um beijo na testa uma voz me foi ouvida.
"Me desculpe, mas, por favor, não me abandone."
-Não vou te abandonar, Sal - sussurrava - Porque eu te amo mais que tudo !
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