Nossa, minha vida nunca foi muito fácil. Após a morte do meu pai, quando eu tinha apenas oito anos, minha mãe perdeu o rumo. Nos primeiros meses viveu numa tristeza sem fim, depois saiu em busca do tempo perdido, Achando que eu precisava de uma figura paterna para ser feliz. Só que ela nunca pediu a minha opinião. O meu pai nunca perderia o seu lugar em meu coração. Sempre o amei tanto, que a minha mãe sentia ciúmes.
Adorava quando ele me ninava e me chamava de anjinho. Foi ele que escolheu o meu nome. Ângela. Ele contava, que quando foi me ver pela primeira vez na maternidade seus olhos brilharam, pois estava diante do mais lindo anjo, uma anjinha morena da cor de jambo e com os olhos de um castanho tão claro, que lembrava a pedra âmbar.
Ainda consigo me lembrar do dia mais triste da minha vida. O dia em que ele se foi. Nós estávamos voltando do almoço na casa da vovó. Era um domingo lindo.
Sabe aquele dia que a sua família toda se reúne? Então. Minha avó completava sessenta anos. Toda a família planejou por meses essa festa. Os meus tios e primos vieram de longe para comemorar. Os netos ensaiados pela minha madrinha Samanta, fizeram uma pecinha em homenagem a vovó.
Foi um domingo perfeito. Comemos, brincamos e festejamos. Minha avó Alice ficou muito feliz com a surpresa. Pois há muito tempo não conseguia reunir os seus três filhos: Jonas, Samanta e o meu pai, Pedro. Foi uma linda despedida.
As pessoas nem imaginam que, ainda hoje, dez anos depois do acidente, mantenho tão viva em mim, a memória daquele dia. Seria capaz de detalhar cada minuto vivido, pois foi um divisor de águas em minha vida
Vovó nos levou até o portão e deu um longo beijo na testa do meu pai e falou:
_ Pedro, obrigada por tudo meu filho. Amei a festa! Mas saiba, que o meu maior presente são vocês: meus filhos e netos pertinhos de mim.
Nesse momento, meus tios – um de cada lado – abraçaram a vovó e foi um daqueles momentos de filme, onde só com o olhar, tudo é dito. O amor que eles sentiam um pelo o outro não podia ser medido, nem tampouco falado. Só aquele momento bastava.
Papai acenou para os meus tios e deu mais um beijo em minha avó.
_ Mãe, preciso ir. Amanhã o dia vai ser longo. Te amo. Quando eu chegar a casa, te ligo.
Mamãe e eu, demos tchauzinhos pela janela. E lembro que naquele momento, todos estavam no portão fazendo festa, minha avó, meus tios e meus primos. Acho que foi o último momento de felicidade verdadeira que a nossa família experimentou.
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Renascer de um anjo
RomanceApós dez anos de sofrimentos, marcados pela morte do seu pai Pedro e pela ausência de Ana, sua mãe. Ângela consegue sair da escuridão da sua vida e renascer para um novo tempo. Deixa de lado a solidão e com ajuda das novas amigas da faculdade, expe...