Sabe quando o tempo passa devagar... Passei a me sentir assim. Deixei de ser uma criança alegre. E ficava tentando entender o porquê de Deus ter me levado o meu pai.
Minha mãe sempre me dizia que que devíamos respeitar os mais velhos; estudar; não brigar com os colegas da escola; ajudar nas tarefas de casa. Por isso ficava pensando, tentando entender o que eu tinha feito de errado... Sempre achei que era uma boa garota. Então, por que estava sendo castigada?
Uma vez perguntei isso em voz alta. Tinha acabado de ter alta. E fui direto para a casa da tia Samantha. Parece que minha mãe ainda não tinha vontade de voltar para casa. Então depois de uma semana internada, me levaram para lá.
Chegando lá, encontrei uma casa silenciosa. Somente nós três, minha mãe, Samanta e eu. Minha dinda falou que meus primos queriam vir me ver, mas como eu ainda estava fraquinha, acharam melhor eu descansar um pouco. Não consegui falar nada. Aliás, quando se tem oito anos é difícil expressar todos os nossos pensamentos.
Fiquei sentada na sala, quando ouvi minha dinda chamar:
_ Ângela, venha cá no quarto dos fundos! _ levantei meio sem vontade e fui ver o que ela queria. Mamãe continuou sentada no sofá. Às vezes parecia que ela não estava mais comigo.
Cheguei lá e minha dinda, falou:
_ Princesa, a partir de agora você ficará aqui em casa comigo. Você e sua mamãe. Por isso, achei melhor arrumar esse quarto só para você.
Parei para observar melhor o quarto. As paredes estavam pintadas de lilás com uma faixa amarela. As cortinas e a colcha da cama eram brancas com florezinhas rosas. Tinha também uma prateleira com bonecas. E olhando bem, reconheci todas elas do meu antigo quarto. Tinha também uma televisão nova, só para mim. Fiquei muito feliz, pois estava tudo tão lindo!
_ Obrigada, dinda! Esse quarto parece de boneca! _ Parece que eu disse alguma coisa certa. Minha tia Samanta sorriu. E depois daquele acidente, era difícil ver alguém sorrindo.
Corri para a minha nova cama e pulei! Por um momento, estava feliz novamente. Ao deitar minha cabeça no travesseiro, senti algo por baixo da colcha. Levantei para ver o que era.
Na hora que vi, comecei a chorar! A chorar sem parar. Era o meu anjinho de pelúcia, que o meu pai me deu quando foi viajar no ano passado. Lembro como se fosse hoje. Tinha pedido para ele não ir e ele falava:
_ Meu amor, papai tem que ir. Preciso trabalhar Ângela. Senão como vou comprar as coisas para você e sua mãe?
_ Não quero nada, papai. Fica comigo! _ Papai suspirava alto, chateado por ter que partir.
Já minha mãe, resmungava:
_ Menina, deixa de bobeira! Seu pai vai passar só uma semana fora. Parece até que quem pariu você, foi ele. Não desgruda desse pai...
_ Viu, sua mãe está com ciúme. Olha, você já é uma mocinha. Se você ficar chorando, quem vai cuidar da sua mãe enquanto eu estiver fora?
_ Ela é grande. Sabe se cuidar. _ Respondi.
_ Você não sabe que ela não gosta de dormir sozinha? Então, você precisará ficar com a mamãe para ela não ficar triste. Ah! Tenho uma surpresa pra você!
Papai levantou e foi até o carro. Voltando com um pacote de presente.
_ Então, como não estarei aqui para fazer você dormir, vou deixar um guardião.
_ Oba! _ Não resistia a um presente. Peguei o embrulho da mão do meu pai e rasguei o papel. Quando abri era um anjinho de pelúcia. Sua roupinha era amarela e seu cabelo tinha cachinhos loiros. Suas mãos estavam fechadas, como se ele estivesse orando. Quando eu toquei nelas, ouvi a oração do anjo da guarda que nós rezávamos todos os dias antes de dormir.
_ Gostou? Perguntou meu pai.
_ Pai é tão lindo! _ E dei um abraço bem gostoso no meu anjinho.
_ Então, Ângela! Esse anjinho irá cuidar de você durante a noite. Quando você estiver com medo ou sentindo saudades... você irá abraçar o anjinho e será como se eu estivesse ao seu lado. E ao ouvir a oração, você lembrará de mim e sentirá como se eu estivesse ao seu lado. _ Explicou papai.
_ Por isso essa menina está de jeito, Pedro. Você não para de mimá-la. _ 'Papai riu, porque na verdade ele sabia que a mamãe estava certa.
_ Ah, Ana! Deixa de ciúmes. Tem Pedro para todo mundo. E deu um beijo na mamãe que tentou se esquivar, mas não resistiu aos seus encantos.
Por isso que ali naquele quarto novo, não consegui segurar. E chorei como se estivesse descobrindo novamente que o meu pai nunca mais estaria do meu lado. Agi como uma menina mimada e desfiz toda a cama, jogando a colcha no chão. Mas não larguei o anjinho.
_ Calma, Samanta! Calma meu amor! _ Dizia minha dinda segurando o choro.
_ Por que, dinda? Por quê? A culpa foi minha. Meu pai morreu por minha causa, não foi?
_Imagina, minha flor. Não foi nada disso.
_ Foi sim, dinda! Eu fiz alguma coisa errada e Papai do Céu levou ele para me castigar. Não é assim? Sempre que eu faço alguma coisa bobagem, minha mãe me deixa de castigo. Fico sem brincar porque ela fala que a gente perde o que gosta para aprender._
Minha dinda não conseguia segurar o choro.
_ Meu amor _ disse ela, deitando na cama comigo e me abraçando. Deus não puniu você. É que seu pai era um homem tão bom, que quando Ele precisou de um novo anjo, levou o Pedro para ajudá-lo. E ele está lá de cima cuidando de você.
_ Mas eu quero ele aqui. Comigo. Quem vai dormir comigo? _ Então minha dinda me abraçou mais forte e colocou o anjinho entre nós. Ela apertou a mão do anjinho e a oração preencheu o silêncio do quarto. Nessa hora meu coração se acalmou.
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Renascer de um anjo
Roman d'amourApós dez anos de sofrimentos, marcados pela morte do seu pai Pedro e pela ausência de Ana, sua mãe. Ângela consegue sair da escuridão da sua vida e renascer para um novo tempo. Deixa de lado a solidão e com ajuda das novas amigas da faculdade, expe...