Capítulo 1

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Ele estava tão ferrado! Por que diabos tinha aceitado essa missão? Ele não podia se defender. Como iria defender a qualquer outro? Onde estava com a cabeça? Devia estar bêbado, drogado, sonâmbulo, qualquer coisa! Não devia estar ali. Em uma floresta, em uma maldita floresta! Para todos os lados que olhava via verde, arvores e folhas, galhos finos e afiados e troncos maciços. Tudo o que queria era voltar para casa, não era um ser selvagem. Ele não poderia sobreviver nesse caos, não acima da terra. Lobos, tigres, panteras, gatos em geral, pássaros, até vampiros sobreviveriam melhor naquele ambiente hostil, mesmo com a necessidade de fugir do sol. Ele era só um covarde. Nem sabia para onde exatamente estava indo. Tinha que achar alguém para ajudar, só isso. De preferencia um predador que pudesse defendê-lo no caminho de volta. O que? Uma troca de favores. Ele mostrava o caminho e o outro protegia a ambos. Parecia-lhe muito justo. Por outro lado, um predador também poderia fatiá-lo antes que dissesse que só queria ajudar. Não tinha jeito, só poderia ir embora e chegar a casa sem ser publicamente humilhado e taxado como um covarde se levasse alguém junto. Estava seguindo uma trilha e os rastros indicavam um lobo ferido. Desfazia as pistas conforme a seguia, para evitar que qualquer outro os seguisse. Um lobo estava bem, ferido era melhor. Poderia lhe curar e então ele seria grato e o protegeria. Sim, certo, ótimo plano. Só esperava que ele não se sentisse ameaçado e resolvesse brigar mesmo ferido. Ele ainda seria fatiado. E falando em ser fatiado, pensou, notando o rosnado baixo. Uma advertência de que mantivesse distância ou enfrentasse seu mau humor. Gah, se não fosse por sua imagem ele já teria saído correndo há tempos, ou melhor, nem teria ido, em primeiro lugar. Mas nada podia fazer agora, era obrigado a seguir em frente e enfrentar o lobo. E tudo o que podia pensar era que estava tão ferrado.

– Só quero ajudar. _ Murmurou ficando visível.

O lobo continuou a rosnar e então pode entender por que. Uma mulher, ele protegia uma mulher. Se pensou que estava ferrado antes, não sabia que podia ficar pior. Não só tinha um lobo ferido que não poderia protegê-los, como também tinha que cuidar de uma mulher, uma mulher grávida. Estava tão, tão ferrado. Não importava o quão linda era a mulher, com seus longos cabelos negros e olhos escuros. Suas feições delicadas, seus lábios cheios e avermelhados, evidentes em sua tez clara. Apostava que era macia em todos os lugares. Seu corpo estava volumoso, como sua barriga, seios bem fartos, quadris largos e grossas pernas, pelo o que podia ver. Deteve-se em suas divagações quando sentiu o cheiro de seu próprio desejo. Não era de se estranhar que o lobo seguia rosnando. Devia estar protegendo-os, não se excitando com a visão da mulher. Então o cheiro lhe atingiu, fresco e selvagem. Como orvalho e madeira. Suave, mas poderoso. Frágil, mas resistente. Todo seu interior tremeu, jogando para fora outro ele. Um extremamente preocupado. Agora não mais consigo mesmo, mas com ela e o filho deles que ela carregava.

– Eu não quero faze-lhes mal. _ Ergue suas mãos, mostrando que não levava armas. – Só quero ajudar. _ Encara o lobo. – Você está ferido e sei algumas coisas sobre plantas curativas, posso ajudar se me permitir fazê-lo.

– Seu cheiro. _ Diz a mulher em um ofego, protegendo sua barriga.

– Eu notei, mas vamos falar sobre isso quando estiver segura. De acordo? _ Questiona vendo-a assentir.

A mulher olhou para o lobo que mantinha-se pronto para saltar sobre ele. E apenas com seu olhar fez o lobo se acalmar e se sentar sobre suas patas traseiras. Então voltou a olha-lo, sorrindo. Encarou o lobo que não parecia feliz com ele, e que sabia ainda ser mortal mesmo em sua posição descansada, e deu um passo a frente, caminhando para eles. Deteve-se a frente do lobo, abrindo sua mochila e tirando uma bandagem. Enfaixou a para ferida rapidamente, não podiam ficar muito tempo parados, estavam sendo caçados.

– Vou levá-los para o meu esconderijo onde podemos tratar melhor seus ferimentos. _ Diz se levantando. – Lá tem comida e agua, e poderão descansar.

Metamorfos - Lobos e ToupeirasOnde histórias criam vida. Descubra agora