Lams: Just The Two of Us

Freedom

Prólogo

1776,
John Laurens

Quando ele entrou por aquela porta, eu já sabia. Mesmo sendo um jovem, órfão e faminto, conseguiu calar a boca do prodígio de Princeton. Quando ele falava, todo mundo conseguia sentir a sede de justiça em suas palavras, sede de guerra e sede de revolução. Foi provavelmente, em um de seus discursos, que me apaixonei por ele, tão intensamente a ponto de morrer por aquilo que ele acreditava. Eu o seguiria para qualquer lugar, como qualquer outra pessoa, na verdade.

Naquela noite, Alexander veio dividir uma bebida comigo.

-De onde você vem? - ele perguntou.

-Charleston, e você?

Olhou para baixo, como se memórias antigas atormentassem sua cabeça. Definitivamente era um assunto delicado para ele. Levantou a cabeça.

-Venho de uma pequena ilha -sorriu de modo desconfortável. -Mas isso não importa.

Se ele vinha de um lugar pequeno, com toda a certeza saiu por ser grande demais para aquele lugar.

-E esses dois? - disse apontando com a cabeça para Mulligan e Lafayette.

-Eu os conheci quando vim para Nova Iorque, alguns meses atrás. Tudo era novo e nós três inexperientes. Ainda somos -dei uma risada ao lembrar de nossas loucuras. - A gente cuida um do outro. Pelo menos, agora, temos um objetivo em mente além de apenas sobreviver.

-Qual o objetivo? - seus olhos brilharam, me mostrando que ele conhecia bem o que era sobreviver.

-Uma revolução, claro! E consigo ver que você acredita na mesma coisa.

-Liberdade.

Assenti.

Alexander sorriu, se levantou e propôs um brinde.

-Pela revolução!

Completei:

-E pela nossa liberdade! Algo que nunca podem nos tirar.

Em meio a gritos de empolgação, bebemos pelo resto da madrugada, com um sonho de uma colônia independente. Um sonho que ninguém seria capaz de arrancar.

Hamilton

Eu nunca pensei que teria amigos, ou que chegaria até aqui. Encontrar pessoas que acreditavam e lutavam pelas mesmas coisas que eu, foi a melhor coisa que poderia me acontecer.
Partes do meu passado ainda permaneciam rodopiando em minhas lembraças, mas nada disso importava. Estava em uma nova nação, com novas pessoas e uma nova narrativa.

Logo de cara, minha pessoa favorita era Laurens. Ele compartilhava o mesmo desejo de mudança do que eu, mas ao mesmo tempo era feliz com o que tinha. Isso me fascinava.
Eu sabia que tinha encontrado meu lugar desde a primeira vez que o vi, bagunçando e se embebedando no bar. Ele conseguia permanecer uma pessoa boa e engraçada até mesmo esgotado de cerveja, algo em que nunca encontrei sentido. Talvez ele apenas fosse bom demais.

Minha primeira lembrança dele, são seus olhos. Escuros como noites sem lua, mas que brilhavam como se existisse uma constelação inteira dentro deles. Ele conseguia fazer tudo ficar bem, com apenas um olhar de consolo que lançava. Aqueles olhos foram meu resgate em muitas vezes durante os anos que se passaram.

-Laurens, eu gosto muito de você.

Repetia pra ele sempre que nos víamos, além de deixar isso claro nas cartas. Eu sabia que ele se importava também, apesar de sempre ter sido mais reservado a respeito disto, outra coisa que nunca entendi, pois eu sempre disse qualquer coisa que sentia, sem a menor vergonha ou culpa, diferente dele.

No dia em que George Washington me chamou para seu escritório, eu não conseguia parar de me mexer. Tanto de ansiedade quanto de emoção.
John apareceu, abrindo um sorriso de uma orelha até a outra quando ficou sabendo.

-Eu sempre disse que essa era sua chance. Vai dar tudo certo, Alex - ele segurou em minha mão, sorrindo, e apoiou a testa na minha.

Tudo parecia calmo agora.

-Obrigado. Vou te procurar assim que sair de lá.

-Eu sei que vai.

E então eu fui, e me tornei braço direito do comandante. Eu sabia de onde vinha parte da minha força e agradeceria por ela eternamente.