capítulo 1

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Michele tomou um gole de seu delicioso cappuccino e olhou bem dentro dos olhos de sua melhor amiga.
_ Bem, Lucielle posso saber quando é que você vai deixar o celibato e voltar a sair com rapazes?
Oh Deus! Aquela mesma ladainha estava para começar.
_ Fracamente_ Continuou Michele _, é inconcebível que você fique sozinha pelo resto da sua vida só porque teve um casamento infeliz. Não duvido nem por um momento que seu primeiro marido tenha sido um completo desastre, mas não são todos os homens qus fazem o que ele fez. Veja meu casamento com Tyler, por exemplo....
Lucielle sorriu e deu uma mordida em sua torta  de chocolate.
_ Não, obrigada, Eu lhe desejo toda sorte do mundo, mas...
Michele  colocou sia xícara em cima da mesa e deu um suspiro desanimado.
_ Quando é que você vai acreditar que Tyler me ama de verdade? Que ele realmente mudou? Que seus dias de playboy ficaram para trás em caráter definitivo.
Daqui a uns trinta anos. Lucille sentiu vontade de de responder. Mas obviamente, não pretendida ser assim tão cruel. Michele tinha voltado de sua lua-de-mel três semanas atrás e ainda guardava um brilho especial  nos olhos. Ela não podia destruir as ilusões românticas de sua amiga. Que a própria Michele se encarregasse de enfrentar a dura realidade mais tarde.
Não que estivesse sendo pessimista, mas que chance aquele casamento teria de durar? Claro, Tyler parecia muito apaixonado no momento. Mas será que estaria sentindo a mesma coisa dentro de seis meses, depois que o encanto da lua-de-mel desse lugar à rotina sem graça e massacrante do dia-a-dia?
Tyler Garrison, o magnata do jornalismo australiano, sempre fora famoso por sua grande coleção de namoradas. E Lucille não acreditava que seu recente casamento com Michele fosse pôr um fim em seus dias de don-juan.
Ela havia aconselhado a amiga a não se envolver com um homem como aquele, mas não tivera o mínimo sucesso. Michele se apaixonara perdidamente pelo playboy e aceitara seu pedido de casamento sentindo se a mais feliz das mulheres.
Sim. Era uma união destinada ao fracasso. Apenas sua amiga não se dava conta do triste destino que a esperava.
Lucille levou mais um pedaço da torta a boca.
_ Não ligue para as coisas que falo, Michele. Acho que estou muito amarga, é isso. Se existe alguém neste mundo capaz de transformar um homem, esse alguém é você.
Como Lucille gostaria que aquilo fosse mesmo verdade. Sua amiga era um amor de pessoa, que merecia mais que todas as pessoas do mundo, ser feliz.
Elas eram vizinhas de apartamento até seu casamento com Tyler Garrison, dois meses antes. Agora Lucille ficava deprimida cada vez que olhava pela janela e via a placa de "vende-se" no apartamento vazio em frente ao seu.
Não dava para esconder o fato. Estava realmente sozinha, sem nenhuma amiga por perto para lhe fazer companhia à noite. Ainda bem que trabalhavam em locais próximos, o que permitia que se encontrassem para um almoço ou um café no meio da tarde. De qualquer modo, a amizade de ambas jamais seria a mesma agora que Michele estava casada.
_ Não pense que vai escapar da minha pergunta _ Continuou Michele com determinação. _ Você só tem trinta e um anos, Lucille. E é uma das mulheres mais bonitas que eu já vi na vida. Quero saber quando vai esquecer Roger e continuar a viver a vida.
Se qualquer outra pessoa tivesse lhe dito aquilo Lucille teria ficado ofendida. Mas sabia que Michele só estava tentando ajuda-la e só queria o seu bem, nada mais.
_ Eu já esqueci Roger _ respondeu ela, levando um guardanapo de papel à boca. _ E continuo viver a minha vida  normalmente ,caso ainda não tenha reparado. Tenho carreira promissora, um apartamento bonito, que graças a Deus, fica perto do meu trabalho e uma amiga maravilhosa que está sempre pronta a ouvir meus lamentos.
_ Mas..._Lucille não a deixou continuar e falou: cada dia com um rapaz diferente, se eu quisesse. Mas acontece que não sinto mais a mínimo interesse pelo sexo oposto. O fato de estar solteira e sozinha me deixa muito feliz. Posso saber o que há de errado nisso?
Michele recostou-se em sua cadeira. Estavam num café com mesinhas na calçada, numa das ruas principais da cidade.
_ Você não me engana, Lucille. Sei que não esta feliz. Pensa que não vejo que o brilho que havia em seus olhos não existe mais? _ Ela deu um suspiro desanimado _ Ah minha amiga, eu queria tanto que você encontrasse a felicidade....
Lucille forçou um sorriso.
_ Não é sempre que a felicidade na forma de um homem, Michele.
_ Concordo plenamente. Mas também não é sempre que a infelicidade chega nesse mesmo formato.  Tudo depende é claro, dos homem em questão. E eu não acho que você tenha desistido completamente desse assunto. Já se esqueceu daquele dia no meu apartamento, há uns três ou quatro meses, quando você me descreveu o príncipe dos seus sonhos?
Lucille apenas sorriu levemente, e a amiga continuou:
_ Se não me falhe a memória,  além de ser alto, moreno e bonito, você ainda acrescentou que ele devia ter sangue e não apenas cerveja gelada correndo nas veias. Ah, e disse também que o possível candidato tinha de colocá-la em primeiro lugar, deixando os amigos dele, os jogos de golfe e o carro em segundo lugar.
Lucille riu.
_ Meu Deus! Eu falei isso? Acho que devia estar sonhando. Esse tipo de homem simplesmente não existe. Pelo menos, não aqui na Austrália.
_ Existe, sim. Eu me casei com um deles.
_ Não. Tyler não é moreno, é loiro.
_ Um pequeno detalhe, tão sem importância,  que não deve ser levado em consideração. De qualquer maneira, tenho certeza de que existe uma porção de morenos fantásticos por aí. Mas, quem sabe? Talvez esse príncipe encantado nem tenha nascido na Austrália. Você trabalha ao lado de uma porção de estrangeiros, não é?
_ Bem, sim, mas...
Era verdade. Lucille trabalhava numa empresa especializada em suprir as necessidades de executivos que deixavam seus países de origem e passavam a viver na Ocenia. Seu título oficial era de consultora de Recolocações.
Agora, quando aos homens que já havia conhecido no emprego...
Bem, se ela estivesse interessada no assunto, haveria uma porção de pretendentes. Aliás, era raro o dia em que não recebia um convite para jantar, ir ao teatro...
E o fato de quase todos eles serem casados, só aumentava sua desconfiança em relação ao sexo masculino.
De qualquer modo, mandava o bom senso que omitisse aquele pequeno detalhe à sua melhor amiga.
_ E então?
_ Olhe, Michele, para falar a verdade, não achei graça nenhuma dos clientes que já conheci até agora. Alguns eram ate simpáticos e bonitos, mas mesmo assim, eu não quis nada com ninguém.
Michele estava indignada
_ Pelo amor de Deus, Lucille, não vá me dizer que não gosta de sexo?!
Aquela conversa prometia ser muito longa. Lucille terminou de comer sua torta de chocolate e respirou fundo, aguardando o final do discurso da amiga. Que Deus lhe desse paciência.
_ É claro que eu gosto de sexo, Michele. Ou melhor gostava. Mas meu casamento mudou tudo. Hoje em dia, nem o homem mais atraente, mais bonito e mais charmoso do planeta me causa algum tipo de interesse. Esta parte em mim, está morta. Obra de Roger, tenha certeza.
_ Pois eu não acredito nisso. Nem por um segundo. O que acontece é que você foi muito ferida, só isso.
Sua libido vai voltar intacta algum dia,  quando aparecer a pessoa certa. Acontece que seu divórcio é ainda muito recente. Posso apostar que é apenas uma questão de tempo.
Um tempo que iria durar pelo menos duas vidas, na opinião de Lucille.
_ Enquanto isso_ continuou Michele_, você tem de pôr na cabeça que sair com rapazes não leva necessariamente ao sexo. Que mal há em sair com um homem de vez em quando? Você não e obrigada a ir pra cama com ele, se não quiser.
_ E posso lhe assegurar que não tenho a mínima vontade que isso aconteça.
_ Tudo bem. Então pare de achar que tem de gostar do sujeito antes de concordar com um passeio. Da próxima vez que alguém convidá-la para sair, aceite o convite e pronto. Quem sabe? Talvez seus hormônios estejam apenas sem prática. Pode ser que peguem fogo assim que você  estiver no lugar certo.  Nada como um jantar à luz de velas, num restaurante finíssimo para acender nossas emoções.
Tentando controlar-se para não  mandar a amiga cuidar da própria vida, Lucille deu um sorriso amarelo.
_ Sabe Michele, você é muito otimista. Além de ser uma romântica incurável.
_ É o que parece. Só que eu posso lhe assegurar que a verdade é bem diferente. Sou uma mulher prática e realista. _ Ela olhou para o relógio. _ E por falar nisso, infelizmente vou ter de deixá-la daqui a alguns minutos
Só tenho mais uma semana para terminar o esboço da campanha da nova linha de perfume Femme Fatale. Eu ja lhe falei sobre isso?
Com um suspiro de alívio, Lucille deu graças a Deus que o assunto havia sido mudado.
_ Não. Do que se trata?
_ Você se lembra da moça que o meu chefe levou na festa do meu casamento?
Lucille fez um meneio com a cabeça, indicando que sim. Afinal, quem poderia esquecer  a estonteante morena que aparecera ao lado de Harry Wilde naquele dia? Corpo escultural, cabelos até a cintura, olhos cor de violeta, vestido dourado com um imenso decote.
_ O nome delela é Tânia _  continuou Michele _ Bem, é ela a mulher misteriosa que herdou a Femme Fatale, aquela empresa que fabrica lingeries. Você  está lembrada dessa história?
_ Bem, eu ja ouvi falar na Femme Fatale, mas não estou sabendo nada a respeito de nenhuma herdeira misteriosa.
_ Ora, eu pensei  que já tivesse contado para você. O que aconteceu foi o seguinte: a antiga dona da empresa morreu num acidente de carro e deixou todo o negócio para sua única parente, uma prima distante que ela mal conhecia. Bem, essa tal prima é  Tânia. A mais nova cliente de nossa agência de publicidade. Harry está nas nuvens!
_ Posso imaginar. Ele já a levou para a cama?
_ Mais do que isso, até.  Nenhum dos dois disse nada, mas Tânia está ostentando um enorme anel de safira no dedo anular. E o próprio  Harry também está diferente. Mais calmo, mais gentil.... e muito menos ranzinza
Lucille deu um sorriso irônico.
_ Pelo visto, temos aí outro playboy mudando de time. Até o dia em que ele se cansar da pobre Tânia e deixá-la falando sozinha.
Michele levantou as mãos aos céus, num gesto de desespero.
_ Pelo, amor de Deus, Lucille! Por que voce tem tanta raiva de homens como Tyler e Harry?
Lucille piscou os olhos. Raiva? Não. Não tinha raiva daquele tipo de gente.  Apenas não confiava neles. Os Tyler e os Harry da vida não passavam de um bando de oportunista, engordando suas contas bancárias de forma nem sempre honesta e desfilando em seus Mercedes e Jaguares ao lado das mulheres mais bonitas da cidade. Que eram devimente trocadas por outras mais jovens quando começavam a mostrar sinais de envelhecimento. Era evidente, porém, que não iria dizer nada daquilo à sua melhor amiga.
_ Eu... Eu não sinto raiva de Tyler _ ela respondeu com cuidado. _ É que... eu acho difícil que homens como ele consigam se transformar em pacatos pais e maridos com a sua felicidade.
_ Mas eu estou feliz _ tranquilizou Michele. _ Agora, quanto ao fato de Tyler se transformar num homem caseiro... Bem, isso já aconteceu! Ele está sendo um marido maravilhoso e será um pai maravilhoso quando a hora certa chegar. Olhe, Lucille, por trás daquela fachada exterior, os playboys são pessoas comuns, como você e eu. Têm coração e sentimentos.  Podem se apaixonada de verdade...e mudar. É isso mesmo, Lucille. O amor consegue modificar qualquer situação.
_ É claro que sim. Tenho certeza de que está cobertura de razão. Da próxima vez, vou tentar manter minha mente mais aberta para este tipo de assunto.
E minha boca mais fechada.
_ Acho bom.
_ E, assim que algum bonitão me convidar para sair, prometo pensar no caso com o maior carinho.
_ Melhor ainda. _ Michele se levantou. _Bem, já vou indo, senão Harry me mata. Apesar de estar mais doce e menos ranzinza por causa de seu noivado com Tânia, meu querido chefe ainda fica louco da vida quando seus funcionários se atrasam.
_ As duas amigas se despediram com um longo abraço, então Lucille observou a amiga seguir seu caminho naquela ensolarada tarde de quarta-feira. Michele era o próprio retrato de autoconfiança e de felicidade. Ela andava com a cabeça erguida e seus passos eram leves e seguros.
Será que o casamento com Tyler Garrison realmente lhe fizera bem?
Ou será que aquela aura de magia que rodeava sua melhor amiga era apensas o resultado de noites de sexo quente e intenso?
Levantou-se da mesa abruptamente. Não. Não estava com a mínima vontade de pensar em casamento e muito menos em relações sexuais. Ou em qualquer outra coisa que a fizesse sentir-se triste e deprimida.
Levara muito tempo para recuperar a auto-estima e não pretendia ficar se remoendo por causa dos anos infelizes que passara ao lado de Roger... nem se preocupando com o fato de ter perdido o interesse pelo sexo e se transformado numa mulher frígida.
Frígida? Bem, não tinha certeza. Talvez Michele tivesse razão e seus hormônios estivessem apenas adormecidos
Era possível que um dia, algum homem muito especial entrasse em sua vida e mudasse sua visão em relação a tais fatos.
Começou a caminhar pela calçada movimentada, seus cabelos loiros balançando ao vento, o salto alto de seus sapatos fazendo um ruído característico contra o cimento do solo. Se quisesse ser bem sincera consigo mesma, veria que não tinha do que reclamar.
Havia crescido muito nos últimos tempos. Deixava de ser a sra. Roger Swamson e voltava a assumir sua própria  identidade. Era Lucille Anne Jordan, uma mulher madura, dona de sua vida e seu destino. E pretendia que as coisas continuassem exatamente daquela maneira.

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