Capítulo 3

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O trânsito estava surpreendentemente calmo para aquela hora e o percurso até o flat foi feito em menos de dez minutos.
Mas mesmo assim, para Lucille, a viagem pareceu interminável.
Val Seymour passou o tempo todo de olhos fechados. Os braços cruzados, sem pronunciar uma só palavra. Ou ele estava exausto, ou não passava de um grande mal-educando. Era difícil saber ao certo.
Então, os segundos foram se passando.... e a irritação de Lucille aumentando cada vez mais. No momento em que finalmente  estacionou em frente ao luxuoso prédio desligou o motor e anunciou, em alto e bom som:
_ Chegamos.
Nada. Ele continuou de olhos fechados.
Lucille sentiu vontade de sacudi-lo. Como não ousava fazê-lo, porém, limitou-se a dar um sonoro suspiro, capaz de ser ouvido a um quilômetro de distância.
Foi aí então que ele virou-se para ela.
— E exatamente assim que estou me sentindo no momento. Exausto até não poder mais. Você está cansada, Lucille? Ou apenas louca da vida com Erica, por ela ter lhe arrumado este problema no final do expediente?
Ela levou um susto. Tais palavras a tocaram de um  modo especial, principalmente o jeito suave com que 

ele dissera seu nome. Quando não estava bravo, Val seymOUr tinha uma voz linda. Rouca, quente, sedutora e sensual. Seus olhos também exalavam sensualidade. poderia apostar que o rosto dele assumia aquela expressão depois do ato de amor...
Lucille sacudiu a cabeça com força, tentando afastar
tanta imbecilidade da cabeça.
  Não, de jeito nenhum. E que eu sempre fico urn pouco tensa quando venho dirigindo para o centro da cidade.
Uma desculpa esfarrapada, é claro. Mas ao menos,  rnelhor do que nada.
porém, a imagem daquele homem na cama, a seu lado, continuaria com muita nitidez. O que era um total absurdo. Val Seymour era o último homem do mundo que queria como amante! Aliás, até aquele exato momento, não queria homem nenhum em sua vida. Até aquele momento? Será que estava começando a mudar de idéia? Surpresa com as emoções desencontradas que invadiam-lhe o ser, voltou a encará-lo.
Antes não o tivesse feito. Sua alma foi invadida por  um turbilhão de desejos pecaminosos, algo que há mui-
to julgara morto dentro dela.
Mas que diabo estaria acontecendo com ela? Será que o sol da tarde de Sydney estava derretendo seus miolos?
Limpou a garganta e passou a mão por entre os cabelos  a fim de disfarçar as estranhas emoções que sentia.
— Sr. Seymour, estou acostumada a lidar com   estressadas e exaustas. E é meu trabalho aliviar um pouco desse desconforto tentando encontrar-lhes uma casa ou apartamento onde se sintam perfeitamente à vontade. Tenho certeza de que vai gostar muito desse flat. Ele tem tudo o que o senhor está procurando e muito mais.
Val Seymour sorriu. E Lucille pensou que fosse desmaiar. Mas como aquele homem era charmoso!
-- Erica me disse que você era a melhor funcionária
da Tudo Fácil Mudanças e agora eu vejo que ela estava coberta de razão. Você sabe como tratar as pessoas e permanece calma e controlada mesmo quando lida com a grosseria e a falta de educação. Que é exatamente
Lucille ficou boquiaberta com aquela reação, mas sem perceber, ele continuou:
— por favor, peço que aceite meu pedido de perdão. Esses últimos dias foram terríveis para mim. Sei que isso não justifica meu péssimo comportamento, mas é a única desculpa que tenho para lhe oferecer. Vou tentar ser mais civilizado durante o resto da tarde, mas não prometo perfeição. E nada de sr. Seymour, por favor. Meu nome é Val. Sr. Seymour faz lembrar meu pai e ele o último homem no mundo a quem eu quero ser comparado. Combinado?
  — Combinado — respondeu ela, escondendo suas emoções por trás de um sorriso amarelo. Graças a Deus que ele não fazia idéia dos  que ainda passavam em sua mente. Mas que coisa incrível! De onde será que teriam vindo? 
Era tudo culpa de Michele e de Erica. Elas que ficaram enchendo sua cabeça com aquela história de amantes e de sexo! E, ainda por cima, havia o próprio homem em questão. Bem que sua chefe dissera que ele era fantástico. Um deus em forma de gente. Uma verdadeira armadilha para as mulheres. Que olhos! Que boca! Que." — Bem, vamos indo? — sugeriu o objeto de sua agitação, soltando o cinto de segurança. — Estou louco para ver o apartamento. E tenho certeza absoluta que vou adorá-lo. Se você me disse que ele é perfeito, então há motivo para acreditar que não seja mesmo. Um homem que não confia no julgamento de uma mulher  bonita e inteligente só pode ser um completo imbecil.
Ele desceu do carro rapidamente, deixando-a a sós com o eco de suas palavras. O bom senso alertou-a
para o fato de que elogios em geral deviam ser urna de suas armas baratas para conquistar as mulheres. Será que era isso que ele estava querendo? Levá-la para a cama e deixar com que o ato de amor aliviasse suas tensões e seu cansaço? 
Estranhamente, tal suposição não lhe causou uma repulsa tão grande quanto deveria ter causado.
Deus do Céu. O que estava acontecendo com ela?
Desceu do carro, tentando aparentar uma calma que estava longe de sentir. E quase morreu de vergonha ao apertar o botão errado do controle remoto e abrir o porta-malas em vez de trancar as portas. Ficou vermelha como um pimentão.
Val Seymour deu um sorriso e observou-a arrumar a confusão que fizera.
— Sabe que isso também vive me acontecendo? Quando eu dirijo, é claro. Coisa que não acoptece com freqüência. Na verdade, eu nem tenho carro. E que eu passo tanto tempo fora do país que, quando estou aqui, acho mais fácil pegar um táxi. Ou emprestar um dos carros do meu pai. Coisa que, é evidente, jamais farei de novo.
Lucille tentou adivinhar qual teria sido o motivo da briga tão séria entre pai e filho. Algo a ver com a disputa pelo amor de uma linda mulher? Talvez ambos tivessem se apaixonado pela dançarina Chama, aquela que incendiava os palcos com seus movimentos.
Se o motivo tivesse sido aquele mesmo, quem teria ganhado a parada? Pai ou filho? E, mais importante que tudo, por que estava tão interessada na resposta? A vida daquela gente não lhe dizia respeito.
Naquele momento, tudo o que ela tinha a fazer era mostrar-lhe o apartamento e esquecer que um dia conhecera o famoso playboy. Algo lhe dizia, porém, que a tarefa em questão não iria ser muito fácil.
Entraram juntos no luxuoso hall do prédio e tomaram o elevador até o oitavo andar. Momentos depois,
com mãos trêmulas, ela tirava uma chave da bolsa e abria a porta da frente do apartamento.
Foi aí então que um súbito ataque de insegurança invadiu-lhe o ser. E se Val Seymour não gostasse da sua escolha? E se preferisse algo mais sofisticado e suntuoso? Não conhecia os gostos pessoais daquele homem. Nem fazia questão de conhecer.
Ele olhou em volta. As salas de estar e de jantar eram espaçosas, assim como a cozinha, a copa e os três quartos. Conforme fora pedido, havia uma banheira enorme na suíte principal. Lucille tentou adivinhar quantas pessoas caberiam ali dentro. Umas cinco ou seis, provavelmente.
O ponto alto do apartamento, porém, era o terraço, de onde se tinha uma vista magnífica da cidade.
Virou-se então para ela e sorriu.
— Bravo, Lucille. Você não poderia ter escolhido apartamento melhor. Vou ficar com ele.
Tais palavras a deixaram tão feliz, que ela sentiu vontade de cantar. Mas onde será que estava com a cabeça? Val Seymour era um cliente como qualquer outro. Por que o fato de agradá-lo lhe estava sendo tão
— F... Fico muito contente. Espero que seja feliz neste lugar.
  Tenho certeza de que serei. E ficarei mais feliz ainda se aceitar meu convite para jantar essa noite. Oito horas está bom para você?
O susto foi tão grande que Lucille teve de se apoiar num nível para não cair. Será que tinha ouvido direito? Sua kxra ficou seca e até o ato de  dificil — J... jantar essa noite?
— Claro. Você já tinha algum outro compromisso?
— Sr. Seymour, eu...
— Val, por favor.
— Vai...
— Sim, Lucille?
De repente, todos os pensamentos coerentes sumide sua mente. ram
N... não, eu não tenho nenhum compromisso, mas...  Erica me disse que você não está namorando ninguém no momento.
É verdade, mas...

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