O escritório de Lucille ficava situado emcima de uma floricultura numa rua estreita, próxima ao centro de Sydney. Era um local modesto, que continha apenas uma recepção e duas salas pequenas.
Não havia necessidade de luxo. A equipe da Tudo Fácil Mudanças costumava receber seus clientes diretamente nos aeroportos ou no saguão dos melhores hotéis da cidade. Os primeiros contatos eram sempre feitos antecipadamente, por fax ou telefone. A empresa tinha uma excelente reputação e se orgulhava de seus bons serviços prestados. A equipe inteira era formada só por mulheres, treinadas pelo chefe para acalmar o mais nervoso dos cliente num prazo máximo de cinco minutos.
Ou melhor, pela chefe.
Seu nome era Érica Palmer, uma mulher atraente de cinqüenta e poucos anos, magra e elegante como uma modelo, dona de expressivos olhos azuis. Abrira a empresa com o dinheiro recebido após seu divórcio e agora comandava o negócio em seu próprio e agora comandava o negócio em seu próprio escritório localizado na ala norte da mansão multimilionária, de frente para o mar.
Lucille era a funcionária mais nova, contratada quando trabalhava em uma das agências de imóveis que a Tudo Fácil Mudanças costumava usar. Cansada da rotina monótona que vinha experimentando nos últimos tempos, ela aceitara a oferta de emprego sem pestanejar. E não se arrependera da decisão tomada nem por um minuto sequer.
Não havia nada tão gratificante neste mundo quanto o sorriso de alívio e o sincero e efusivo agradecimento de uma mulher ao saber que a casa de seus sonhos fora encontrada, que o congelador já estava cheio e que havia um carro alugado em seu nome à sua disposição. O lema da Tudo Fácil Mudanças era: Atenção aos detalhes e perfeição acima de tudo.
Era esse o motivo pelo qual Lucille se vestia tão bem.
Os sapatos de salto alto que usava, porém, tinham outras explicação. Uma explicação que falava de uma certa rebeldia, nascida na época da adolescência, quando sua mãe insistia em lhe dar tênis e sapatilhas baixas de presente.
_ Você já tem um metro e setenta de altura _ a Sra. Edith Jordan vivia repetindo. _ Não use sapatos de salto, porque os homens detestam sair com mulheres mais alta do que eles.
Lucille, porém não lhe dera ouvidos. Nem naquela época, tampouco agora. Na verdade, seu relacionamento com sua família nunca havia sido exatamente um mar de rosas. Principalmente depois do seu divórcio. Seus pais adoravam Roger e não se conformaram com sua decisão de separar dele.
_ Você ficou maluca! _ Os dois haviam gritado sem parar. _ Roger era um excelente marido! O que mais uma mulher poderia querer de um homem?
RESPEITO, ela sentira vontade de responder. Mas não dissera nada. Seus pais jamais iriam compreender. Era por isso que raramente os visitava, apesar de morarem em bairros vizinhos.
Agora, olhando para o relógio, Lucille subiu apressadamente os degraus da escada que levavam ao escritório da Tudo Fácil Mudanças. Assim que entrou na recepção uma das funcionárias dirigiu-se a ela.
_ A Sra. Palmer quer falar com você imediatamente. Parece que é uma emergência.
_ Certo. Obrigada.
Ela entrou em sua sala e, sentando-se à mesa, tirou o fone do gancho e discou o número tão familiar.
Érika Palmer atendeu no primeiro toque.
_ Alô?
_ Oi Érika. É Lucille. Susan me disse que você queria falar comigo com urgência. Aconteceu alguma coisa?
_ E como aconteceu. Sabe quem está aqui na minha frente, andando de um lado para outro feito um louco e prestes a explodir, como se tivesse engolido o vulcão Etna? Val Seymour
Lucille estremeceu. Pressentia que teria um grande problema à sua frente.
_ Ele teve um desentendimento com o pai e quer que eu lhe encontre um apartamento com urgência. Eu até sugeri que ficasse hospedado aqui em casa durante alguns dias até que as coisas esfriassem um pouco, mas você conhece Val.
Lucille respirou fundo.
_ Não, eu não o conheço. Quero dizer, ao menos não pessoalmente. Mas entendi o que você quis dizer.
Não havia como não entender. Val Seymour era um dos homens mais conhecido do país. Igualmente famoso eram seu gênio forte e os casos amorosos que vivia colecionando.
Ele era filho ilegítimo de Max Seymour, o megaempresario do mundo dos espetáculos, um homem que conseguia ter tido mais namoradas do que Tyrone Power e Errol Flynn juntos.
O velho Max morava numa mansão deslumbrante ao lado de Érica Palmer e, a julgar pela intimidade que havia entre eles, Lucille desconfiava que iam para a cama de vez em quando. Embora já se aproximasse dos setenta anos, Max Seymour ainda era um homem atraente, dono de lindos olhos azuis, de uma farta cabeleira grisalha... e de uma conta bancária absolutamente astronômica.
Em resumo, um homem irresistível na opinião de todas as mulheres do mundo. Ou melhor, na opinião de quase todas as mulheres do mundo.
Lucille era uma dessas exceções
Já se encontrara com ele algumas vezes nas festas de Érica e não achava a mínima graça naquele milionário metido a galã.
Val Seymour devia ser igualzinho ao pai, pelo que já ouvira falar. Não o conhecia pessoalmente. Ele vivia viajando pelos locais mais famosos e badalados do mundo. Já havia lido, porém, as histórias mais escabrosas possíveis a seu respeito e visto inúmeras fotografias nos jornais.
Na faixa dos trinta anos, bonito e atraente até não poder mais, herdara o charme latino de sua mãe argentina. Tinha olhos e cabelos escuros e um corpo de fazer inveja a garotos de dezoito anos. Seu comportamento, entretanto, era igualzinho ao do pai: Max Seymour tinha a fama de ter levado para a cama as atrizes, cantoras e bailarinas mais famosas do mundo. E, de acordo com os fofoqueiros de plantão, seu filho não ficava atrás.
Ainda no dia anterior, ela lera um artigo no jornal a respeito de um espetáculo de dança que a Seymour Produções estava trazendo para a cidade.
Havia uma foto enorme da bailarina principal, muito sorridente ao lado dos dois Seymour. Seu nome era Chama. Sem sobrenome. Apenas Chama. Um nome artístico, era evidente. De qualquer maneira, muito significativo. O artigo dizia que o espetáculo, chamado " E Preciso Duas pessoas para Dançar um Tango", apresentava uma coreografia tão quente, que era provável que o palco pegasse fogo.
Lucille tentou advinhar se o desentendimento entre pai e filho envolvia uma disputa para ver qual dos dois levaria Chama para a cama em primeiro lugar.
Ela respirava fundo. Que Deus lhe desse paciência. Não gostava de trabalhar para aquela gente inútil e esnobe.
_ Bem, que tipo de lugar o jovem Seymour tem em mente?
_ Algo próximo ao cassino _ respondeu Érica. _ A menos de cinco minutos, de preferência. Um apartamento com serviços de hoteleira, não uma casa.
_ Mas o próprio cassino possui uma porção de apartamentos. Por que ele não aluga um deles?
_ Porque são muito pequenos. Val quer algo um pouco maior. É que ele vive recebendo hóspede que acabam ficando pra dormir.
Bem, pensou ela, para aquilo, bastava apenas uma cama. Ou será que o sujeito era dado a orgias sexuais?
Não duvidava.
_ Entendo. E um apartamento de quantos quartos nosso galã estaria pensando?
_ Três no mínimo. De preferência, quatro. Ah, e que tenha também uma enorme banheira de hidromassagem na suíte principal.
Banheira de hidromassagem. Claro. Não podia se esquecer daquele pequeno detalhe. Um importante acessório para uma inesquecível noite de amor. Sentiu vontade de perguntar quantas pessoas deveriam caber na tal banheira, mas conseguiu morder a língua a tempo.
_ Certo. E qual a quantia que ele estaria disposto a pagar por mês?
_ Dinheiro não é o problema. Os Seymour têm mais dólares no branco do que poderiam gastar em dez vidas.
Claro, homens como Val e seu pai achavam que podian comprar tudo o que queriam.
E o pior é que tinham razão.
_ Nesse caso, então está tudo resolvido. Há um lindo apartamento pronto para ser alugado num luxuoso flat localizado quase em frente ao Cassino. O único motivo pelo qual ele ainda está vazio é seu preço exorbitante. Mas, como esse pequeno detalhe não parece ter a mínima importância, o Sr. Val Seymour poderá estar bebericando um dry Martini no deslumbrante terraço de sua nova residência ao lado da atual amante, antes que sol se ponha em nossa cidade.
Érica Palmer sorriu.
_ Acontece que ele está sozinho no momento. Ah , se eu tivesse dez anos a menos... Bem, de qualquer maneiras, vou lhe dar um Conselho. Mantenha os olhos bem abertos. Ele é um dos melhores partidos do país e, pelo que sei ele está à procura de sua alma gêmea. Já pensou que maravilha se vocês dois se entendessem?
Lucille teve de fazer um esforço sobre-humano para não cair na gargalha. Há anos não escutava algo assim tão engraçado.
_ Nem sequer passar pela minha cabeça qualquer tipo envolvimento com o seu amigo, Érica. Pode ir desistindo da idéia.
_ Não tenha assim tanta certeza. Ele é lindo de morrer.
_ Eu sei. Já vi fotos nos jornais e nas revista.
Mas continou irredutível.
_ Pessoalmente, ele consegue ser ainda mais bonito. Talvez seja um dos homens mais bonito do mundo. Bem, mas voltando ao que interessa, a que horas você pode passar por aqui a fim de mostrar o apartamento ao nosso don-juan?
Lucille piscou os olhos.
_ Mostrar o apartamento? Mas eu pensei que ele fosse concordar em alugá-lo de qualquer jeito.
_ Espere um minuto. Vou consultá-lo. Ele está aqui na sala ao lado.
Lucille esperou um minuto do outro lado da linha, até que Érica voltasse.
_ Já falei com ele. Val faz questão de ver o apartamento antes de fechar o negócio. Parece quesó põe a mão no bolso quando o negócio é vantajoso.
Lucille não duvidava daquilo nem por um segundo. Tentou até adivinha se ele exigia que as moças com quem saía para jantar tirassem a roupa para ser examinadas antes. Afinal de contas, o homem estava acostumado ao que existia de melhor. Não havia motivo para gastar dinheiro numa noitada se a parceira em questão não tivesse um corpo nota dez.
_ Bem, eu vou ter de passar pela agência de imóveis a fim de apanhar a chave do apartamento. _ Ela olhou para o relógio. Três horas da tarde. _ Que tal se eu estivesse aí às três e meia.
_ Três e meia está bom para você? _ Lucille ouviu Érica falar com Val Seymour, do outro lado da linha.
_ Será que sua funcionária não poderia chegar um pouco mais cedo?_ Ouviu a impaciente resposta do playboy. _ Eu pensei que seu maldito escritório ficasse aqui perto!
_ E fica mesmo. _ Érica voltou à linha. _ Você não poderia chegar mais cedo Lucille?
_ Não, não poderia _ respondeu ela, com a voz mais calma e controlada que conseguiu. _ Diga ao Sr. Seymour que não tenho asinhas nas costas. Ele vai ter que esperar, assim como qualquer outro mortal. E, nesse ínterim, faço votos que ele se acalme e que comece a usar uma linguagem mais moderada.
Érica ria até não poder mais quando desligou o telefone, mas parecia muito preocupada no momento em que abriu aporta da sua mansão, às quinze para as quatro.
_ Oi Lucille, graças a Deus que você chegou. Não e todo dia que alguém faz Val Seymour esperar tanto tempo. O homem está preste a explodir.
Ela deu um suspiro desanimado.
_ Não foi culpa minha. O corretor que estava com a chave do apartamento tinha saído e eu tive que esperá-lo. Sinto muito, mas são coisas que acontecem.
_ Tudo bem. Eu tentei melhorar o humor dele dizendo que você era uma recém-divorciada deslumbrante e que está sem namorado no momento.
Lucille levou um susto.
_ Pelo amor de Deus, Érica, por que fez isso?
_ E por que não? Você não está morta, minha querida. Não acha que chegou a hora de voltar a vida ao lado de um homem lindo de morrer como Val Seymour?
Lucille sentiu um arrepio de horror. Não conseguia pensar em algo tão horrorosso quanto aquilo.
_ Eu também passei por um período de total reclusão depois do meu divórcio _ insistiu Érica. _ Mas depois conheci Max e acabei aprendendo que os homens e o sexo podem ser muito divertidos!
Lucille não acreditava que estava tendo aquele tipo de conversa com sua chefe. Ambas nunca tinham trocado aquele tipo de confidência e ela não queria começar a fazê-lo justamente naquele momento.
Mas também não tinhaba mínima intenção de ofendê-la. Com certeza, Érica só estava tentando ajudá-la. Uma ajuda que dispensaria com todo prazer, se pudesse.
_ Olhe, Érica, eu vou ser sincera com você. Não suporto os playboys em geral. Eles representam tudo que mais desprezo no sexo masculino.
_ Não, minha querida, acho que você está cometendo um erro. Eles representam tudo que você despreza num marido. Mas, como amantes, os playboys são simbolicamente imbatíveis. Homens com Max e Val Seymour sabem como tratar uma mulher, na cama e fora dela. Desde que não os levemos muito a sério, são o que existem de melhor em termos de diversão.
_ Muito obrigada pelo conselho, mas não estou interessada em ir para cama com ninguém. Acho que ainda é muito cedo.
Érica deu um sorriso.
_ Esse seu ex-marido deve ter sido mesmo um grande canalha. Bem, mas vamos até o escritórios. Do jeito que Val está andando de um lado para outro, daqui a pouco vai haver um rombo no meu carpete.
Lucille ficou aliviada com a mudança de assunto. Já não bastava Michele insistindo para que ela saísse com o primeiro homem que encontrasse pela frente agora sua própria chefe começava a sugerir que fosse pra cama com um mulherengo sem vergonha apenas pela diversão que ele poderia lhe proporcionar?!
Só que ela não achava graça alguma em dormir com um homem que sequer respeitava. Pretendia mostra-lhe o apartamento, entregar-lhe a chave e sumir de sua vida tão rapidamente quanto entrara.
Érica Palmer abriu a porta do escritório e fez sinal para que ela entrasse. E foi aí então que o viu.
Quase soltou um grito.
Uma fotografia de jornal ou de revista jamais conseguiria captar a personalidade daquele homem. Sua força interna. A energia sem fim. A graça com que se movia. Seu magnetismo sexual.
Ele continuava a andar de lado para outro, as mãos enterradas nos bolsos, seus passos tão longos quanto suas pernas. Estava todo de preto. Calça, camisa e sapatos.
Lucille lembrou-se imediatamente de um enorme gato selvagem que vira uma vez no jardim zoológico de Torange, quando tinha dez anos de idade. A aura de poder e de violência que emanavam da fera a havia assustado, apesar da enorme cerca de proteção que existia entre eles.
Val Seymour tinha um ar tão selvagem quanto o animal. E não havia cerca de proteção para detê-lo.
Mas também, há muito Lucille deixara de ser criança.
De qualquer modo, ela precisava admitir uma coisa. Ele parecia ser uma fera muito sensual. Se fosse em outra época de sua vida, Lucille o teria achado incrivelmente atraente.
Virou-se para a chefe.
_ Vejo que tem razão. Vamos tirá-lo daqui, antes que você seja obrigada a trocar o carpete.
Érica riu e foi aí que o playboy parou de andar e olhou para as duas mulheres junto à porta.
Um homem perigoso, Lucille teve certeza. Alguém com o qual devia tomar muito cuidado.
Mas cuidado por quê? Ela não pretendia se envolver com ele mesmo....
Percebeu vagamente que Érica atravessava a sala e que começava a fazer as apresentações. Forçou-se a prestar atenção em suas palavras.
_ Val, esta e minha melhor funcionária, Lucille Jordan. Lucille, meu amigo Val Seymour.
Ele estendeu-lhe a mão, murmurando um " muito prazer " um pouco forçado.
_ Muito prazer _ ela respondeu, retribuindo-lhe o gesto. _ Bem, vamos indo?
_ Vamos.
Ambos se despediram de Érica Palmer e deixaram rapidamente a mansão.

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Beijos Ao Anoitecer
RomantizmO homem perfeito Charmoso, inteligente, sensual.... E sempre cercado de mulheres! Além de todas essas qualidades, o milionário Val Seymour era um homem sensível e... irresistível. Lucille sabia que envolver-se com ele significava problema . Mas co...