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Londres, 23 de dezembro.


Encarei a maçaneta e tomei um fôlego antes de abrir a porta. Eu não queria encarar Louis e toda aquela nossa rotina maçante.

Eu estava voltando de um longo ensaio preparatório antes de iniciar a turnê do meu primeiro álbum. Olhei o relógio no meu pulso e vi que já se passavam das nove da noite, Louis provavelmente já tinha jantado e se recolhido no nosso quarto. Suspirei aliviado. Girei a chave junto com a maçaneta e adentrei o ambiente. Percebi que tudo estava quieto e levemente iluminado.

Nossa casa em Londres tinha dois andares, quatro quartos e ambientes diversos para relaxar. Dois dos quartos eram estúdios de criação, um era o quarto de hóspedes e, por fim, nosso quarto. Ultimamente tenho passado mais tempo no meu estúdio do que qualquer minuto na cama ao lado de Louis.

Deixei minha coisas no hall de entrada junto com minha bota e casaco. Andei até a cozinha, mexendo no celular, para pegar um copo de água e me deparei com Louis sentado na bancada, com o seu celular em uma mão e a colher de cereal na outra, somente a luz fraca da geladeira iluminando o ambiente.

- Nossa, você me assustou Louis. Oi.

- Oi. Desculpe. - respondeu sem tirar os olhos do cereal e do seu celular.

Não trocamos mais nenhuma palavra depois disso. Fui até a geladeira, peguei uma garrafinha de água e encostei na beirada da pia. Estávamos no mesmo ambiente e não conversávamos. Fingíamos que nada estava acontecendo, que tudo estava bem.

Por que nós fazemos isso um com o outro?

Ele acabou o cereal, bloqueou o celular e andou até a pia, colocando dentro dela sua tigela e a colher. Tirei os olhos da tela do meu celular e o encarei por um instante. Ele não me olhou de volta, virou as costas e só disse um "boa noite".

Suspirei. Água não seria o suficiente para encarar a noite, então fui até a adega e peguei um whisky. Me servi e sentei no sofá, encarando a janela com vista para a piscina.

Como chegamos naquele inferno de vida?

Louis era um em um milhão. Eu o admirava muito e tinha sorte em tê-lo. Todas as suas canções passavam toda a emoção que sentia no momento em que cantava e ele sempre me ajudava nas minhas composições. Ajudava. Nem conseguimos ficar no mesmo ambiente por muito tempo sem que ficasse incomodo.

Houve um tempo em que amávamos passar cada minuto do dia juntos, fazíamos as tarefas da casa juntos, cozinhávamos juntos e até tomávamos banho juntos. Não que eu não sentisse falta, mas eu não conseguia ficar a vontade com sua companhia.

Não era incomodo fazer nenhuma tarefa enquanto fôssemos parceiros. Todo dia lavar pratos era divertido ao lado dele, pois ele fazia tudo ser divertido. Enquanto eu lavava, ele secava e depois enrolava o pano para fazer uma guerrinha infantil comigo. Aquilo sempre nos levava para cama e, no fim, fazíamos juras de amor antes de cair no sono.

Louis e eu assumimos nossa relação no final de 2015 e pedi que ele viesse morar comigo. Naquela época, eu morava em um apartamento pequeno de dois quartos. Depois de uma descarga elétrica em um dia de chuva, quando ligávamos a máquina de lavar e o chuveiro junto, o disjuntor geral caía. Aquele apartamento era uma bagunça infinita, nem mesmo a parte elétrica contribuía. Louis insistiu para que nos mudássemos, mas eu gostava daquele lugar. Foi lá que prometemos que jamais dormiríamos brigados e que jamais ficaríamos longe de casa por mais de duas semanas. Nós éramos felizes e nossos amigos sempre estavam jogados na nossa sala enquanto jogavam videogame. Nós nunca estávamos sozinhos.

Ele insistiu em se mudar e, como planejávamos nossa vida juntos, eu não insisti em ficar. Eu queria ter uma vida com ele, queria ter filhos, queria ter uma casa com jardim para cuidar. Talvez uma estufa com flores. Eu só queria tê-lo comigo, não importava o preço.

Washing dishes, birthday wishes |  L.SOnde histórias criam vida. Descubra agora