Maria Padilha

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Maria Quitéria era uma cafetina mais velha que deixou de herança para Maria Padilha um palacete que era um cabaré. Porém para entrar nesse cabaré tinha que ter um talento. Quando Maria Padilha trabalhou no cabaré de Quitéria, ela sempre pensava "Quando isso for meu, eu vou mudar pra melhor cada vez mais esse palacete". Cada menina que iria entrar para trabalhar no palacete, deveria ter um talento, e todos os homens gostavam de ir lá por ser um cabaré diferente, não era apenas entrar, escolher uma menina, subir as escadas e pronto, não! Todos os dias haviam shows, quando Sete Saias entrava no palco fazendo todos os tipos de dança, o cabaré parava, Figueira quando entrava e fazia a sua performance de uma forma tão sensual, que não ficava vulgar, Mulambo cantava, tinha uma voz maravilhosa, porém quando bebia ficava um pouco emotiva, e sua voz ficava carregada, o que não era um problema, era um canto rouco lindo, fazia muitos homens chorar.
E a Padilha também tinha o seu talento, apesar de não subir a escada com mais ninguém, ela se apresentava em dias especiais, em datas especiais PADILHA E SEU VIOLINO.
Maria Padilha tocava de tudo, de musicas tristes até as românticas, quando Padilha tocava o cabaré tinha filas e filas, sempre muito cheio de homens querendo prestigiar o som de Maria Padilha e é claro, sempre tentam alguma coisa com ela, mas Padilha apenas conversava ou tomava algum drink com homens.
Porém ao subir para seu quarto, Padilha se mostrava de verdade, era o momento em que ela chorava, ninguém nunca a via chorando, ela era uma mulher forte, sempre sorrindo, mas quando estava sozinha, lágrimas escorriam por seu rosto. Padilha se sentia muito sozinha ao lembrar da mãe que ela perdeu muito cedo, e se sentia culpada por ter prometido cuidar da irmã dela, mas ela falhou, a irmã de Padilha se jogou no mundo, trabalhando em cabarés não tão bons quanto o seu é claro, mas ela se sentia culpada por não poder ajudar sua irmã e a levar para o seu palacete. E ali ela pegava seu violino e fazia seu violino chorar, muitos ao sair do cabaré ficavam em baixo da janela de Padilha escutando cada musica tocada, tudo que ela tinha que chorar, o violino chorava por ela.
Padilha entende as mulheres que sofrem, pois em uma das suas vidas na terra, ela foi uma mulher que sofreu, uma mulher que apesar de muitos homens caindo aos seus pés, e todo o dinheiro que ela quisesse, ela sentia a falta de um amor.
Um belo dia, em uma festa no cabaré, ela de longe vê uma muvuca, homens que cuidavam do palacete gritando, então Padilha foi até lá e pergunta o que estava acontecendo, um dos seguranças responde:

Esse rapaz entrou aqui mas agora está falando que não tem dinheiro, uma moça queria que ele pagasse uma bebida para ela, mas ele não tem dinheiro

Maria Padilha percebe que ele era um homem humilde e queria saber o por que dele ter entrado sem ter dinheiro, e pergunta se ele estava procurando algo ou alguém, e assim ele responde

- Eu entrei sem querer, pensei que estava entrando em outro lugar, perdão

Ao ouvir aquilo, Padilha decide que ele iria ficar, e pede para que os seguranças soltassem ele pois ele seria seu convidado de honra na festa, o homem muito preocupado por não estar com uma roupa adequada, não se sente confortável, mas Padilha apenas dizia para ele entrar no cabaré junto com ela. E ao perceber todos os olhares para cima dele, o homem pergunta o que estava acontecendo, então Padilha conta que é a dona do palacete, o homem muito surpreso responde:

- A senhora é Maria Padilha? Muito mais bonita do que eu imaginava

E ali surgiu uma amizade, ela ao perguntar da sua vida, descobriu que ele trabalhava na lavoura. E depois de muita conversa, ela o convida para ir mais vezes ao palacete, então ele chegava sempre no final, para não ocupar muito o tempo de Padilha.
Dessa amizade, surge algo a mais, até chegar a um romance. Ele não se importava de ela ser uma ex prostituta, e assim eles se apegaram.
Um dia, Padilha resolve tocar o seu violino para ele, sempre que ele ia ao cabaré, e arrancava sorrisos lindos do seu amado.
A partir daí, ele começou a ir ao cabaré apenas quando era chamado, para que ninguém ficasse sabendo que ambos estavam namorando.
Porém, tinha um jagunço um pouco mais velho do que ela, que trabalhava nas fazendas de lavouras tomando conta dos empregados. O jagunço queria Padilha de qualquer jeito, oferecia ouro, joia, enfim, mas ela não precisava mais daquilo, então ela nunca aceitava as suas propostas. O jagunço trabalhava na mesma lavoura que o amor de Padilha, e ela já havia pedido para ele sair da lavoura para ficar com ela, mas ele não aceitou.
Um dia ela o chamou para ir até o palacete mas ele não foi, então ela pediu para que um dos seus homens de confiança fossem até a lavoura para saber o que estava acontecendo, quando o homem chega lá, descobre que ele havia sido espancado, então ele contou para Padilha, ela no mesmo momento colocou seu manto e foi até a lavoura para encontrá-lo, então ele contou que quem o espancou foi o jagunço, que ele havia descoberto sobre o romance dos dois, e que ele queria muito ela então ele quase o matou.
Então Padilha decidiu que ele não iria mais ficar lá, que ele iria morar escondido no cabaré com ela.
Padilha ficou cada vez mais radiante, e as poucas vezes que ela tocava violino, ela tocava apenas para ele, ninguém sabia, mas no cabaré a fofoca corria solta, então acabou chegando no ouvido do Jagunço que o homem esteve escondido no palacete.
Um dia, Padilha deu uma grande festa em seu cabaré, tinha gente de todos os lugares, o cabaré estava cheio, sempre que ela podia, ela subia no quarto para ver se ele estava bem.
Começou a música, as moças estavam se apresentando e os homens indo à loucura, até que todos escutam um barulho enorme, o barulho de um tiro.
Padilha sabia que o tiro vinha lá de cima, então aos prantos ela subiu correndo até o quarto, e lá ela se depara com o jagunço em pé com a arma na mão sorridente, e no chão, estava o seu amor já morto com um tiro no peito. Ao ver aquela cena, ela não pensou duas vezes, ela puxa o seu punhal que ela guardava em seus seios, e passou na garganta do jagunço que caiu no chão, e ali Padilha chorou mais e mais, sem se importar quem estava olhando. E depois do enterro, ela pegava o seu violino e tocava todas as noites a cantiga

Chora violino chora
Chora de saudade e dor
Chora violino chora
Eu perdi meu grande amor

E assim nasceu essa canção, e nunca mais Padilha tocou seu violino no cabaré para ninguém, e por muito tempo se ouviu esse violino chorar de saudade e dor. Talvez o primeiro amor da Padilha.
Mas como ela era Maria Padilha, o tempo passou, o Tranca Rua chegou, mas isso é uma história para outro dia.

A Padilha é uma mulher forte, que trabalha determinada, que ajuda as mulheres que sofrem de amor, com a família, com a solidão. Diferente do que pensam, ela não é uma entidade que chega na terra para fazer mal, para amarrar homem, muito pelo contrário, quem tem oportunidade de conversar com uma Padilha de verdade, sabe a grande pombagira que ela é.

LAROYE MARIA PADILHA

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