» 02

594 39 6
                                    

Sun faz um coque com o próprio cabelo. Quando foi que ficara tão quente? Coloca os pincéis dentro da jarra com água tingida pelas tantas tintas que passaram hoje por ali. O domingo fora inspirado, três quadros e Sun sentia que ainda poderia pintar mais um.

Ela vai até a pia, trocando a água da jarra para começar uma nova pintura e coloca sobre o godê as cores que escolheu para a peça. O pincel desliza pelo quadro suavemente, enquanto a garota se concentra nos detalhes do desenho que habitava em sua mente.

Uma mão ao redor do seu pescoço, a outra passeando pelo seu corpo tão frágil. O cheiro do álcool que exalava pela boca dele. Seus dentes tortos e amarelos. O som de seu cinto caindo no chão. O gosto das lágrimas que escorriam pelo rosto e molhavam seus pequenos lábios. O som dos botões e zíper dele sendo abertos. Só vai durar um minuto, ela repetia para si mesma.

Sun limpa a lágrima que escorre pelo seu rosto e encara a pintura recém terminada em sua frente. Novamente seus traumas interferindo em suas obras. Ela respira fundo e quebra o quadro, o jogando no lixo.

⊱───────⊰♥⊱───────⊰

Drim! O som do despertador invade os ouvidos de Sun, que na verdade não dormira um minuto pela ansiedade do primeiro dia de aula. Ela toma um banho pensando no quanto estudara para conseguir passar no vestibular tão concorrido da melhor faculdade de artes plásticas de Seul. E por sorte, ainda conseguira uma bolsa de 50%. Infelizmente, o restante da mensalidade ainda era caro demais e ela não podia se dedicar somente aos estudos, precisava trabalhar para pagar a quantia.

Sun sorri ao entrar pelos portões da universidade. Prometera para si mesma que não iria foder com isso também e iria se dedicar ao máximo. Afinal, era seu sonho. Seu único sonho.

Ela anda pelo corredor, procurando a sala indicada no papel em sua mão. Encontra a placa indicando AP25 e entra na sala, buscando um lugar vago.

— Ser pintor significa enxergar com os olhos da alma, buscar por detalhes que ás vezes passam despercebidos pelas demais pessoas. É sensibilidade. Sentimento. É transformar a tela em uma mensagem...

Sun não descola os olhos de seu professor nem por um segundo, apenas para fazer uma anotação ou outra em seu caderno.

— Se sentem em duplas agora. Conheçam um pouco de seus parceiros e combinem em uma pintura simples, características dos dois artistas.

Sun se sente decepcionada pela primeira vez no dia. Ela odiava ter que se comunicar com outros seres humanos, não valia a pena.

— Com licença, posso me sentar aqui?

— Pode. — Sun levanta os olhos para olhar o garoto que aproximava a cadeira da sua. Ela não podia acreditar no que via, era o cara da boate. Ela sopra um riso. — Seul não é tão grande assim, afinal.

Ele olha para ela, expondo um sorriso tímido e Sun repara em seus dentes adoravelmente pequenos. — Acho que não?

Sun sorri para si mesma com a brincadeira que o universo a propôs a participar. Olha novamente para o rapaz e repara seus cabelos, agora tingidos de preto. — Preto fica bem em você.

O moreno confere suas roupas, não estava usando preto. Olha confuso para Sun, que aponta para o cabelo dele com o lápis.

— Ah, você deve estar me confundindo. — Ele sorri, tímido.

— Acho que não, eu nunca esqueço um rosto. — Era seu maior dom e sua pior maldição. Sun lembrava de cada rosto que vira na vida, até os detalhes daqueles cujo queria esquecer.

Ele pega o celular do bolso da jaqueta jeans e desbloqueia a tela, mostrando à ela o papel de parede. A foto dele e do loiro da noite passada abraçados em frente à torre Eiffel enfeitava a tela de seu celular. — Você está falando dele?

— Ah, meu Deus! Vocês são gêmeos! — Sun pega o celular, aproximando o zoom no rosto dos dois. — Vocês são muito parecidos, que mind blowing!

Ele sorri. — Fisicamente somos, mas em personalidade somos muito diferentes.

— Aposto que sim.

A versão morena de Agust, que Sun descobriu se chamar Suga, termina a primeira etapa do desenho. Sua especialidade são cenários e ele prepara uma praia de areia branca e águas cristalinas. Sun olha um pouco para o desenho e começa a desenhar suavemente a imagem de uma garota sentada sobre a areia, com uma lágrima escorrendo em seu rosto de perfil.

— Ficou muito bom, ambos são muito talentosos! — O professor elogia a dupla, que terminara o desenho. — Entretanto, o contexto não faz sentido. Por que ela estaria triste em um local tão agradável?

Sun estava acostumada, ninguém nunca entendia a sua arte.

— Talvez dentro dela não deva estar tão agradável assim. — Suga quebra os pensamentos de Sun e ela olha para o garoto, surpresa.

Ela não havia explicado o desenho à ele. Pela primeira vez em sua vida, Sun sentiu-se compreendida.

— Olhem bem para a pessoa ao seu lado, vocês serão duplas até o final do ano. — O professor revela e Sun não pode conter o sorriso. Ela realmente gostaria de conhecer mais sobre o garoto que a desvendou tão facilmente.

A aula continua e após longas palestras de introdução à arte, a turma é liberada. Sun acompanha Suga até o estacionamento, combinando sobre quando fariam o trabalho que fora passado.

Agust espera o irmão apoiado no carro, rindo com uma garota. Sun morde o lábio divertida e se aproxima.

— Olá, Agust.

Ele desvia o olhar para ela e se engasga com a própria saliva. — Sun?

— Quais as chances, huh? — Ela pergunta, arrumando a mochila sobre os ombros.

— Poucas, eu tive sorte.

— Ou azar. — Sun responde e passa pelo carro com a intenção de alcançar o outro lado do estacionamento.

Agust apressa o passo para alcançá-la. — Você me prometeu que passaria seu número a próxima vez que nos encontrássemos.

— Agust, assim você vai deixar sua namorada enciumada. — Sun responde, olhando para a garota encostada no carro. A menina cora.

— Ela não é minh-

— Tchau, Suga. Até amanhã. — Sun o interrompe e alcança sua moto, colocando o capacete e dando a partida.

Trouble Girl | Suga & Agust D FanficOnde histórias criam vida. Descubra agora