Capítulo 9

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Pierre Garibaldi


__Quem está falando?__Pergunto para alguém do outro lado da linha. Não consigo abrir meus olhos, ainda é muito cedo.

__Filho!__estremeço ao ouvir a voz do cretino.

__O que você quer, Francésc?

__Por favor Pierre, me deixe falar com a minha filha...

Em hipótese alguma deixarei esse miserável ter contato com a Jasmine. Ela sofreu demais ao lado desse infeliz e não quer nem  ouvir falar em seu nome. 

__A Jasmine está dormindo, aqui ainda é madrugada. __Respondo baixo para não acordar Jéssica. __Eu preciso desligar.

__Não, Pierre...__Ouço sua voz embargar. __Por favor meu filho, não desligue!

__Que droga você quer? Fala de uma vez! __Me irrito com sua insistência.

__Pierre, por mais que você não acredite, eu não matei a sua mãe. Não fui eu, meu filho...__Desligo o celular em sua cara, sem nem me importar com seus argumentos falsos.

Eu sei que o Francésc tem a ver com o sumiço da Jenne e até que me prove o contrário, nada fará mudar o que penso.

Jenne nunca foi feliz ao lado desse homem e mesmo que por diversas vezes ela tentasse esconder seus erros, eu sempre soube que o meu pai nunca valeu nada.

Covarde!

Não importa se é amanhã ou daqui há vinte e cinco anos, mas eu vou descobrir o que aconteceu com a Jenne, custe o que custar!

__Pierre...__Jéssica murmura meu nome interrompendo meus devaneios. __Está acordado?

__Sim, meu amor. __Beijo sua testa pequena.

Pera aí, o que foi que disse?

__Amor?__Jéssica, sorri.

__Você ouviu errado, Jéssica. __Ainda tenho medo de demonstrar meus sentimentos. O passado continua presente em mim. E ele não foi nada agradável. Droga!__Eu não disse nada.

__Eu ouvir muito bem, Pierre. __Boceja.__Não sou surda.

__Esquece o que eu disse, vamos dormir...

•×•×•×•×



__Perfeito!__Digo para mim mesmo quando termino de arrumar a mesa.

Novamente, preparei o café da manhã. Hoje, um pouco mais especial, quero impressionar as minhas meninas. Quero dizer, Jéssica e Jasmine.

Fiz torradas, panquecas doces e salgadas, tortilhas, tapiocas e dois sabores distintos de suco. Além dos iogurtes variados e um bolo de cenoura com cauda de chocolate meio amargo, que eu mesmo fiz questão de preparar.

Aprendi a cozinhar desde muito novo. Saí de casa aos dezessete anos, e precisei me virar.
Mamãe cozinhava muito bem, era impressionante, tudo o que fazia tinha um toque especial incapaz de ser copiado por alguém. Às vezes, ficava observando-a de longe, picava os temperos com maestria e jamais chorou ao cortar uma cebola. Ela era como um mago dos alimentos. Talvez por isso, tomei tanto afeto e conhecimento pela culinária. Fiz um curso na Espanha e quando vim para o Brasil, abrir o meu próprio restaurante.
Hoje é um tremendo sucesso. Adoro ver os espanhóis que assim como eu, sentem falta de​ alguns sabores matando a saudade da nossa terra e, os brasileiros curiosos se permitindo a experimentar um novo sabor.

Tudo é muito gratificante.

Hoje, entendo quando a mamãe dizia: A cozinha é como uma tela, os alimentos são como a tinta, e você, o artista.

Sempre há espaço para uma nova obra de arte.




Jéssica Nobre

__Pierre...__Chamo-o ainda sonolenta. Passo a mão pelos lençóis, mas não encontro nada. __Pierre...

Abro os meus olhos e então, percebo que estou sozinha. Me levanto com um pouco de preguiça, arrumo a cama e vou para o banheiro fazer minhas higienes.
Quando termino, visto o mesmo vestido de ontem à noite e vou  providenciar alguma coisa para comer.

Meu estômago dói.

__Uau! __Me surpreendo ao presenciar uma mesa farta de coisas deliciosas.

Será que o Pierre preparou tudo isso para mim?

Não delira, Jéssica...

__O que fazes aqui, periguete?__Tava tudo bom demais para ser verdade.

__A única periguete que estou vendo aqui é você. __Coloco um pouco do suco de laranja em meu copo.__Quer dizer, meia periguete, porque nem idade para isso você tem.

__Pierre, é muito louco mesmo! __A aprendiz de Tati quebra barraco coloca as mãos na cintura para me intimidar. __Como pode, trazer uma periguete desaforada para dentro da própria casa?

__Eu posso até ser desaforada e um pouco periguete mesmo, mas pelo menos, não sou mentirosa como você!

__Eu inventei tudo aquilo justamente, porquê não quero ver o meu irmão com uma mulherzinha como você... __Cospe seu veneno em minha cara. __Pierre merece coisa melhor!

__Inclusive uma irmã menos peçonhenta. __Rebato.

__Você não sabe do que eu sou capaz, Jéssica!__A cascável mirim me encara com ódio.

__Eu não tenho medo de você, garota! __Me levanto. __ Não tenho medo das suas mentiras, muito menos do seu veneno. Na escola que você estuda meu bem, eu sou pós graduada.

__Você não presta, sua bandida! __Jasmine me encara com raiva. __Tudo o que deseja é apenas extorquir o meu irmão.

Tenho vontade de esbofetear a cara da  pirralha, mas me contenho.
Tenho absoluta certeza que o Pierre, não conhece esse lado maldoso da irmã. Jasmine, não é  uma jovem que precisa de afeto, ela é pior que isso.

Essa daí não presta mesmo!

__Eu não quero nada do seu irmão, Jasmine!__Grito irritada. Como pode me acusar dessa maneira?__Tudo o que eu tenho com o Pierre trata-se de sexo, nada mais!

__Lindinha, Pierre não é homem de apenas uma mulher.__Gargalha debochada. __Não se iluda, mais cedo ou mais tarde, ele te troca por outra.

__Não tenho medo. __Estufo os seios para parecer maior. __Eu me garanto, Jasmine!

__Se eu fosse você, tomava cuidado em pronunciar certas palavras...

__Mas não é! __Grito descontroladamente. Essa garota me tira do sério.

Cretina!

Sentirei sua faltaOnde histórias criam vida. Descubra agora