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"O medo me trouxe até aqui, mas não sinto tão bem quanto imaginei que iria estar. Eu quero voltar, mas sei que ele ainda está lá. E sei que não irá me deixar em paz. Nunca."

Quando começou a dançar, senti algo dentro de mim, lentamente, voltar à vida outra vez. Era como na minha primeira semana de aula na França. O sentimento. Aquele misto de êxtase, ansiedade, felicidade. Eu era tão feliz naquela época.

E vê-lo dançar de modo tão apaixonado como agora fazia-me recordar essa sensação. A sensação de quando as coisas ainda eram boas. De quando eu não tentava fugir, ao invés de dar o meu melhor, como Yugyeom fazia agora.

A coreografia foi perfeita. Todos em volta do salão silenciaram seus murmúrios e prestaram atenção exclusivamente no espetáculo, que movimentava-se por todo o palco, a medida que a música transcendia calmamente. E eu estava atenta a tudo.

A cada movimento, a cada olhar, a cada expressão literalmente sentimental, dado a uma apresentação tão glamourosa. De fato, meus pais sempre tiveram sorte em escolher seus prodígios. Ou talvez fosse talento. Estavam no ramo a tantos anos que era difícil errar no taco quando a sensação de "potencial a deriva" atingia-os.

Esse não era diferente.

Kim Yugyeom tinha talento. E muito.

No entanto, havia um problema. Um minúsculo problema, que só notei quando seus olhos passaram lentamente por todo o salão e pararam no meu, por alguns rápidos segundos.

Ele sentia-se inseguro.

Não com sua dança, claro. Eu era ciente que Yugyeom não tinha dúvidas de seu talento. Era outra coisa. Outro motivo. E isso atiçou minha curiosidade.

Encarei mamãe quando notei que a dança estava chegando ao fim. Parecia tão nervosa quanto seu mais novo prodígio, que tentava esconder sua tensão por meio de uma dança tão perfeita. Ela mexia no anel em sua direita enquanto observava-o. A surpresa em seus olhos tão notáveis quando o modo como tentava disfarçar. Mas sentia-se orgulhosa, o que era esquisito.

Era quase como se tivesse acertado na loteria, mas ao mesmo tempo não fosse capaz de adquirir o prêmio por conta de algum problema. E eu queria descobrir qual problema era esse.

- Ei! - cutuquei Jackson levemente. - Você já o viu em algum lugar antes?

Meu primo manteve a neutralidade quando me encarou.

- Quem? - perguntou.

- O dançarino.

- Bem, não, mas ele é dançarino. É normal achar que já o viu antes.

- Eu não acho isso. Na verdade, para mim, esse é justamente o problema.

Jackson ergueu uma sobrancelha e me aproximei dele um pouco mais.

- Tem algo de errado - disse.

- Está tudo perfeito para mim - ele argumentou. - Embora, eu preferisse uma dançarina no lugar dele.

Revirei meus olhos com o comentário e disse:

- Minha mãe está mexendo no anel. Ela só faz isso quando tenta se acalmar ou esconder algo. Em algumas situações, os dois.

- Deixa de ser maluca - falou, pausadamente. - Tudo está normal.

- Aposta quanto que tem algo de errado? - provoquei.

Amava meu primo Jackson, é óbvio que amava. Mas odiava esse lado seu. Meu primo acreditava demai na possibilidade das coisas serem do jeito que são, para perceber que, nem tudo, apesar da camuflagem perfeita, era do jeito que aparentava ser. E principalmente por ser perfeito que deveríamos desconfiar. Essa foi uma das coisas que aprendi da França. Suspeitar da perfeição, seja ela envolvendo pessoas ou bens materiais.

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⏰ Última atualização: Apr 14, 2019 ⏰

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Dancing for you  ❄️ Kim YugyeomOnde histórias criam vida. Descubra agora