5. CARVÃO SOBRE PAPEL
Passaram-se alguns meses após o aniversário de Claire, e a menina não deixava de pensar no cavalo branco e na pessoa que entrara no porão naquela noite. Para ela, aquilo tudo fora um sonho, ela preferia pensar que aquilo não se passava de uma imaginação.
O rei viajaria daqui a dois dias, para tratar de assuntos complicados do reino, ele precisaria da ajuda de muitos nobres. O conde, Julian Stouer, muito companheiro de Louis, estava hospedado no castelo há uma semana, ele viajaria junto com o rei. Ele era alto, louro, e muito bonito. Aparentemente, bem mais jovem que Louis. Durante a semana que passara no castelo, vivia fazendo anotações em uma agenda marrom, na qual sempre carregava.
Claire estava sentada em um pequeno sofá, em um dos vários cômodos que haviam no castelo, estava lendo, como de costume. Alguém bate a porta, era um dos mordomos do castelo.
- Pois não? - foram as únicas palavras que soaram de sua boca.
- Com licença, princesa Claire. O conde Stouer deseja falar com a senhorita. Eu o deixo entrar?
- Claro, peça-o para entrar - Claire se levanta do sofá e aguarda o conde, que esperava atrás da porta.
- O que deseja, sr. Stouer?
- Gostaria de fazer um desenho da senhorita, se me permites, é claro - ele da um sorriso amarelado e, comprimentando a menina, beija sua mão.
- Mas é claro, por que não? - ela se senta.
Julian pegou sua agenda marrom. Ele desenhava com muita leveza o rosto fino e delicado da princesa, com traçados perfeitos. Era ágil e finalizava o desenho contornando as finas sobrancelhas da garota, esfumaçando-as.
6. PARTIU-SE O REI
Duas noites, dois dias. Finalzinho de tarde, carruagem pronta. O rei entrava nela, junto de Julian, ambos sérios. Claire os observavam partir do pátio, onde estava de pé. Pensava em milhares de coisas ao mesmo tempo, sua cabeça estava quase como um redemoinho de vento, porém um redemoinho de pensamentos.
A carruagem desapareceu no horizonte. Claire notou que seu pai nem ao menos despediu-se dela. Lágrimas escorreram. Ela continuava parada ali, e continou por muito tempo, até Adeline chamar por ela. Rapidamente, enxugou suas lágrimas.
- Sim, Adeline? - virava-se para a ama, parada ao lado da alta porta de vitrais coloridos.
- Vamos, minha querida, entre. Já está tarde, veja, está escurecendo.
- Gostaria de ficar mais um pouco, ama. - volta a se virar, dando as costas para Adeline.
- Como quiser, querida.
Claire se sentia um pouco culpada por virar as costas para Adeline, pois quando ela precisou de sua ama, a mesma jamais virou as costas para ela. Porém estava triste, só agora ela percebeu o quanto era transparente, o quanto o seu pai não a via. Ele não se importava com ela, nem ao menos sabia como a sua filha era de verdade. Só a conhecia pelo exterior.