9. CLAIRE CRESCEU
Claire já não era mais uma criança. Ela crescera. Desde a viagem que seu pai fez quando ela tinha oito anos, a sua casa nunca fora mais a mesma. Claire não podia acreditar que o mundo mágico existira. Depois de perguntar para Adeline se aquela mulher da vila era realmente uma bruxa, tudo fez sentido. O cavalo branco não foi um sonho, foi tudo realidade. Talvez fosse por isso que seu pai a escondia, para que a menina não soubesse desse outro mundo.
- Claire, preciso dizer uma coisa - dizia a ama, do outro lado da porta.
- Entre, ama.
- Claire, você cresceu mais rápido do que eu imaginei. Oh, minha querida, como você se parece com sua mãe... Tão linda. - Adeline entrara no quarto, já com lágrimas em seus olhos.
- Ama, nem sei o que lhe dizer.
- Não diga nada.
- Tudo bem, ama. O que deseja falar comigo? - a menina estava séria, segurando as lágrimas para que elas não caíssem.
- Bem... Você terá de viajar.
- Por que, ama? Eu não quero viajar... - a menina fica abismada.
- Ordens de seu pai.
- Não. Adeline, você não pode deixar.
- Eu sei, eu não queria que você fosse. Eu não consigo imaginar você tão longe... Mas você terá que ir.
- Por que? - ela não pôde segurar suas lágrimas.
- Porque você não é uma criança, já tem dezesseis anos. O seu pai está velho e você é a única herdeira. Terá de ir para a casa de sua tia Thereza, irmã de sua mãe, onde terá aulas de etiqueta, aprender a se tornar uma rainha, uma mulher.
- Por quanto tempo, ama? Por favor, eu a imploro.
- Por dois anos - Adeline limpa a lágrima que acabara de escorrer de seu rosto. - Até você completar dezoito. Mas não se preocupe, você ficará bem. Eu escreverei todos os meses.
Claire não disse mais nada, apenas abraçou Adeline bem forte, enquanto as duas choravam juntas. Claire mais do que nunca, estava bela. Os cabelos longos e claros, eram muito parecido com o de sua mãe, e as suas sobrancelhas finas e arquedas, junto de seus olhos verdes completavam a figura perfeita de sua mãe. Apesar de Claire ter crescido escondida, os que a conheciam, - Adeline, empregados, e em especial, Julian - sempre diziam que ela era muito parecida com sua mãe, era incrível que ela não tinha nenhum dos traços de seu pai.
- Adeline, quando será essa viagem? - ainda dizia chorando, instante depois de abraçar sua ama.
- Amanhã.
- Amanhã? Como poderá ser amanhã? Mal fiquei sabendo sobre essa viagem.
- Desculpe. Eu deveria ter contado semanas antes, mas não queria que você ficasse triste todo esse tempo.
- Sem problemas, ama. Creio que foi melhor assim. Agora, se me dê licença, irei arrumar minhas coisas.
- Mas é claro, Claire, como quiser... - Adeline fez reverência à ela e retirou-se do quarto.
Claire sentou em sua cama, fitou o livro que lia antes de Adeline entrar no quarto e colocou em seu colo, respirando fundo. Observou o chão do quarto por alguns instantes e levantou-se, indo em direção ao guarda-roupa. Pegou apenas os seus dois melhores vestidos e os separou. Andou em direção à um móvel com gavetas, na qual abriu a primeira. Pegou uma caixinha e a abriu, era o colar que recebeu de Adeline quando tinha oito anos. Em baixo dessa caixinha, tinha o desenho feito por Julian de quando ela era menor. Resolveu levar as duas coisas. Ela não sabia o por quê, mas queria ter alguma lembrança deles. Na verdade, Claire não via o louro bonito a anos, desde quando ela tinha doze anos e ele o levou para cavalgar em um campo não muito longe do castelo. Ela havia caido do cavalo e ele parou para salvá-la e acabou deixando o seu cavalo fugir também. Então Julian deu um beijo na testa de Claire, e os dois começaram a rir, pois ia ser longa a caminhada até o castelo. Após Claire se lembrar disso, sorriu. Ela tinha um amigo no qual o fazera esquecer do quão deprimente era a sua vida. Ela tinha Julian.