UMA PARTE DA VILA

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7. SIMPLICIDADE

- Isso não será possível, Claire. Eu não posso levá-la à vila. Seu pai me proibiu de tirá-la do castelo!

- Por favor, ama, o que há de mal nisso? Ele nem saberá que nós saimos. Só desta vez.

Só desta vez. Foram as três palavras que fizeram Adeline mudar de ideia. Ela parou por um tempo e olhou para os olhos brilhantes de Claire, que pareciam ansiosos por um sim.

- Está bem, mas tem uma condição.

- E qual seria essa condição, ama?

- Você terá de ir com uma capa e com um vestido velho, para ninguém a reconhecer.

- Mas ama, como vão me reconhecer, se nem sabem que eu existo?

- Claire, você se parece muito com sua mãe. Todos reconheceriam esses traços, e a vila é pequena, provavelmente saberiam que você é nova por lá.

- Tudo bem, ama. Pegue o meu pior vestido.

Adeline abre o guarda-roupas de Claire, seria difícil escolher o pior vestido, todos eram muito bonitos e aparentemente novos, feitos por diferentes tipos de tecidos. Adeline procurava apressadamente por um vestido velho, surrado. Não havia nenhum. Adeline saiu do quarto da menina, e voltou minutos depois, com um vestidinho bege e uma capa roxa escura, de veludo, em suas mãos. O vestido era simples, um pouco desbotado.

- Este vestido era meu, quando eu era mais jovem. Ainda o tenho guardado, espero que sirva. E a capa, era de sua mãe, encontrei a muito tempo guardada, agora ficará para você.

O vestido serviu, mas estava um pouco comprido, e as mangas ficaram largas. Não seria um grande problema, já que estava frio naquele dia. O sol começara a se por e o céu estava nublado e escuro.

- Vamos, querida. Venha depressa, dê sua mão. - elas desciam de uma carroça velha ao chegar na vila. Adeline e a menina, caminhavam juntas, de mãos dadas.

Não era o que Claire esperava da vila, o povo era simples, muitas mulheres e homens usavam vestes sujas e rasgadas. As crianças comiam pequenas migalhas. As árvores estavam todas secas, fazia frio.

- Olá, garotinha bondosa. Você não gostaria de ajudar uma velha bruxa como eu? Poderia realizar todos os seus desejos, aqueles nos quais você sonha todas as noites, aqueles que só existem em seus sonhos - uma velha, sorria, encostando uma de suas mãos com suas enormes unhas sujas no ombro de Claire.

- Saia daqui, vá embora. Não encoste suas mãos imundas na menina - dizia Adeline, em um tom muito diferente do que Claire costumava ouvir.

Adeline apressou o passo, deixando a velha bruxa para trás. Claire não podia acreditar que o povo estava vivendo daquela maneira, ela não compreendia.

- Onde estamos, Adeline? - a menina tentava esconder o medo daquele lugar horrível.

- Agora vamos à minha casa. É logo ali na frente. - apontava para a sua casa, que parecia ser simples.

Ao entrar na casa de Adeline, Claire notou o quanto era tudo bem organizado, e apesar da simplicidade, tudo estava em seu lugar. Era bem arrumadinho, a madeira estava um pouco empoeirada, mas nada inevitável. Claire havia achado aquele lugar aconchegante, era muito diferente ao que havia vivido todos aqueles anos no castelo.

- Mãe, você voltou! - dizia um garotinho, que aparentava ter cinco ou seis anos de idade, ele estava no colo de um homem alto, com uma barba mal feita e calças no tom marrom café.

- Ah, meu filho! - Adeline correu em direção ao menino, e o pegou no colo - Obrigada, Adam.

- O que eu não faço pela minha querida irmã, não é mesmo? - ele sorriu para Adeline, e logo em seguida mirou em Claire - Quem é a mocinha bonita atrás da porta?

- Claire! Desculpe, querida! Esta é a minha família. Meu irmão, Adam, e meu filho, Benê. - virou-se para Adam, estava séria - Esta é Claire, a filha do rei.

- A filha do rei? Mas como?

- É um prazer conhece-lo, sr. Adam.

- Eu prefiro só Adam, ou Tio Adam. - sorriu e deu uma piscadela para a garota.

- Como quiser, Tio Adam. - a menina sorriu.

Naquele momento, Claire se sentiu em casa, ela achou bom por um instante fugir das formalidades e ser ela mesma, ela não se sentia como uma princesa, e por incrível que pareça, ela gostava disso.

- Iremos passar a noite aqui, tudo bem, Claire?

- Claro, Adeline. Sem problemas.

- Me dê sua capa, irei guardá-la - Claire devolve a capa para Adeline, que pendura em um cabideiro ao lado da porta.

Estava escuro. Ainda dava para sentir o cheiro da vela recém apagada no quarto. Claire não conseguia dormir, ela pensava em muitas coisas ao mesmo tempo, e agora estava preocupada com o que seu pai faria se descobrisse que ela saiu do castelo. Estava deitada em uma cama pequena, ao lado da cama de Adam. Adeline e Benê dormiam em uma cama grande, do outro lado do quarto. A casa era bem pequena, porém, o tamanho do coração de quem morava ali, era enorme.

ClaireOnde histórias criam vida. Descubra agora