A sonata primeira

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Essa noite eu sonhei que morria.
Não foi uma morte em batalha, não teve toda a "honra" que é dada a morte.
Eu apenas morria. Sem dor, no silêncio, e essa foi a primeira sonata que ouvi em minha morte. Os gritos aterrorizantes e frios, do silêncio.
A sonata primeira que chega aos ouvidos dos mortos, é a do Silêncio.
Silêncio é um homem de aparência sábia, com roupas num tom claro de amarelo, sua pele é de um estranho dourado.
O que é engraçado, já quem em vida havia sempre aquele ditado, "A palavra é de prata, mas o silêncio é de ouro". Tal ditado tinha um fundo de verdade, já que o Silêncio, ou sua personificação perante mim, era realmente de ouro.
Sua sonata era tocada de boca fechada, com os olhos. Seu som silencioso era assombroso, não por ser ruim, mas porquê era aquela a primeira vez que ouvira e apreciava o som do silêncio em muitos anos.
A música que o Silêncio emanava não continha palavras, e nem precisava na verdade, era bela da forma que era.
Haviam outros ao meu redor, eu os sentia, não os via mas sentia. Eu, tolo, abri minha boca e me surpreendi ao perceber que não saia uma palavra sequer, tentei pensar, mas de uma forma a qual ainda não consigo expressar, minha mente também se silenciou, eu sabia que ali estava, mas não pensava em pensar, é estranho, eu sei, mas idai, o som do Silêncio me fazia sentir, e isso me satisfazia, pelo menos até o momento.

Naquela sonata eu me vi.
E me vendo eu percebi o quão eu estava perdido.
Perdido não num sentido de direção, mas perdido nas palavras faladas, eu havia me esquecido de como o silêncio cura.
E durante todo aquela composição solene eu me curava.
E então eu acordei.

Suíte do fim do mundoOnde histórias criam vida. Descubra agora