Capítulo II

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Capítulo II: No Jogo.

Remexo na cama, não havia conseguido pregar os olhos na noite passada. O medo de perder meu emprego e o pouco que tinha me impedia de relaxar então virei a madrugada organizando as fotos para Alan. Isso quando não ficava repassando o que dizer para o meu chefe, pediria perdão ou até mesmo me ajoelhar se fosse preciso para que ele não me demitisse. Lembro que após terminar a faculdade tentei conseguir outro emprego, sai do cargo de estagiária duradouro e pesado no magazine. Havia colocado muitos currículos nos mais diversos lugares e para todos os cargos possíveis, entretanto com a alta taxa de desemprego no país e com a xenofobia estrutural ficava tudo difícil. Desta forma, permaneci na revista.

Às seis, tomo café da manhã e penso se contar sobre Jonathan daria em algo. O doce e educado moreno da noite passada parecia fugir da louca vida de celebridade, afinal por que ele sairia escondido do aeroporto e depois com um capuz jantaria em uma lanchonete moro cocho? Talvez, estivesse cansado. Aí, são tantas perguntas e, que pelo jeito terminariam sem repostas.

"Vamos nos ver de novo?". Sua pergunta ecoa em meus pensamentos.

Por fim, decido não contar sobre ele. A noite anterior havia sido mágica apesar dos apuros que me meti queria guardar isto apenas pra mim. Era tudo muito íntimo para Alan e sua sujeirada.

Entro na empresa e logo Luci aproxima-se, dizendo: ― Alan, está a sua espera.

A loira está em um vestido rosé com saltos aparentemente caros de cor branca, seu cabelo está, como sempre, solto e com os cachos bem fixos devido ao uso excessivo de spray. Sentia-me de uma poluição visual gigantesca para aquela empresa, sempre inapropriada em moletons ou vestidos sociais surrados e velhos.

― Como ele acordou hoje? - pergunto ansiosa, com um nó na garganta e suor nas mãos.

― Com a macaca. ― responde. Sorrio por um momento, Luci dividia um apartamento com Caroline, que trabalhava na redação e era brasileira, pela convivência parecia uma latina naturalizada.

A loira de olhos claros encara-me com ternura e fala: ― Não fique assim. Sei que se saiu bem.

― Obrigado, Luci. Você é um anjo.

Caminho lentamente ao escritório do meu chefe e respiro pausadamente antes de bater à porta. Esteja comigo, mami Guadalupe.

— Entra! - ordena meu chefe em um tom que atormentaria minha vida para sempre.

Entro e com um olhar ele pede para que eu sente, assim faço. Sem enrolar, coloco a câmera em sua mesa e Alan logo está analisando tudo nos mínimos detalhes. Ele está bem trajado em uma camiseta branca de seda, calça preta, sapatos bem engraxados e o cabelo loiro está preso em um coque. Impassível e intocável. Pega-me o olhando mas não sorri.

— O gravador? - pergunta, então tiro devagar da mochila e o entrego. Ele aperta o play mas nenhum som sai. — Cadê a fita? - questiona confuso depois de olhá-lo por inteiro.

— Eu quebrei. - sussurro.

Alan endurece em questão de segundos e com a voz coberta de ódio pergunta: — Havia algo?

— Não, eu não consegui nada. Primeiro, porque não sei mexer em um gravador e depois, porque os seguranças não deixaram. Eu os segui até o hotel e não consegui nada. — falo com tanta rapidez que mal entendo o que falo, entretanto Alan parece entender tudo e não gostou nenhum pouquinho disso.

Ele aparece na minha frente em questão de segundo, puxa-me pelo braço com força e diz: — Você é uma imprestável.

— Perdão Alan. - digo com a voz trêmula. Ah não, eu ia chorar.

Por Trás das Câmeras // 89s { #newkidsontheblock }Onde histórias criam vida. Descubra agora