Capítulo I

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Capítulo I: Começo.

"Clock strikes upon the hour and the sun begins to fade still enough time to figure out how to chase my blues away" I Wanna Dance With Somebody - Whitney Houston.

O dia em Boston estava frio e sujo, digno do outono. Em minha época de faculdade era o dia ideal para pôr uma música lenta e lê uns capítulos do meu livro de cabeceira junto ao café requentado, próximo a janela do meu quarto onde hora ou outra reservaria alguns segundos para admirar a parede do terreno vazio atrás do meu apartamento que possuía um grafite enorme de Frida Kahlo feita por alguém amador, chamado Cleo. Lembro que este foi o grande motivo que me fizera comprar este apê pequeno e morfado, além do preço baixíssimo, recordo dos dias que passei sem comer para juntar trocados para móveis novos e plantas diversas para amenizar o odor.

Completava seis meses desde a minha formatura, então o tempo para um bom livro, café e Frida estava cada dia mais escasso. Continuava trabalhando onde estagiei de graça, em uma editora de fofoca pequena e quase falida, entretanto agora recebia como secretária. No entanto, considerava-me uma faz tudo pois ora ou outra estava escrevendo redações ou escrevendo perguntas para entrevistas. Meu chefe estava sempre a me elogiar falando sobre minha escrita, sabedoria e esforço, e deixava claro que logo atuaria realmente na equipe de redação. Todavia, não era ali que eu me via e gostaria de estar, trabalhei duro na universidade para escrever sobre política ou economia, mas como uma boa funcionária sorria como se aquele fosse o cargo que sempre ansiei.

— Deseja algo? - pergunto assim que entro na sala do meu chefe.

Ele faz sinal para que eu entre e espere. Está imerso nos papéis em sua mesa enquanto uma taça de champanhe enfeita sua mão. O escritório do meu chefe, Alan Walker, é espaçoso, claro e lotado de obras de arte de artistas até então desconhecido. Dou uma voltinha pelo cômodo olhando os quadros e fotos que Alan portava com celebridades, como: Queen, Michael Jackson, Duran Duran e a enorme foto atrás de sua mesa com a rainha Madonna. Alan era um completo fã do mundo que o rondava, às vezes quando estava de bom humor contava as loucuras que fizera para conseguir uma foto ou entrevistas com estes artistas.

— Miss México. - ele chama tirando-me do devaneio. Ele está empolgado e com um sorriso sapeca nos lábios. - Tenho um serviço extra para você.

Ele tira da gaveta de sua mesa um gravador e uma câmera profissional, entregando-me.

— Devo entregar isto ao Marcel?

— Marcel está doente, deixou-me na mão de novo. Preciso demiti-lo, isso sim.

Marcel era o paparazzo, o único da empresa. Ultimamente tem faltado muito, entretanto de acordo com Elise, da redação, viu que o barco do magazine estava afundado e agora estava em outra.

— Assim ficará sem fotografo. - digo.

— Por enquanto tenho você. - pisca. O encaro confusa e então ele explica: — Quero que vá ao aeroporto e consiga algumas fotos do New Kids On The Block.

— O grupo?

Ele confirma e então continua: — Consegui essa informação, então não podemos faltar. Vá e consiga algo diferente das outras revistas. Sei lá, incomode eles ao ponto de deixá-los irritados ou tente arrancar algo.

Estou perplexa no mesmo lugar. Não quero bancar a paparazzi insuportável, ou pior arrancar segredos dos outros. Ainda mais desses grupos masculinos onde sexo e drogas deve ser tudo que o cerca. Alan percebendo meu receio aproxima-se com cautela e diz:

— Vá, miss México. Sabe que será recompensada se conseguir algo, certo?

Com dinheiro no meio, claro. E bem, estou precisando mas não é o meu serviço. Eu podia recusar? Alan continua ao meu lado, porém com uma carranca estampada agora. Não, não posso recusar, só Deus sabe onde pararei se perder este emprego que por mais que pague pouco pelo menos tenho algo. Junto forças do além e pego a câmera com o gravador colocando-os em uma mochila, Alan sorri e abre a porta, dizendo:

Por Trás das Câmeras // 89s { #newkidsontheblock }Onde histórias criam vida. Descubra agora