Eu estou aqui para contar minha história. A história de como eu me transformei em outra pessoa, completamente diferente de quem eu era. Sim, isso é possível. E depois como consegui juntar todas as partes perdidas de mim e ser novamente quem eu sempre fui. Talvez haja momentos que você chore comigo, segure a minha mão e me dê um abraço. Isso faz parte. Sei que se isso acontecer é por que estou falando ao seu coração, de alguma forma que sua mente não compreende, mas sua alma sim. É com ela que eu quero conversar.
A minha história é a mesma história de muitos e ao mesmo tempo é só minha, pois fui eu quem a senti com todas minhas emoções. É uma história tão simples quanto verdadeira. E eu só conto minha história a você, pois sei que pode de algum jeito te ajudar como me ajudou. Quero curar as feridas que existem em seu coração e deixá-lo, mais uma vez, disposto a viver e a se arriscar, pois é disso que é feita a vida.
Eu nasci mágica e linda como todas as crianças. Tinha um sorriso puro no rosto e um olhar brilhante de alegria. Acreditava em fadas, anjos e também em monstros. E brincava o dia todo naquilo que achasse mais interessante e divertido, como se não houvesse amanhã. Como todas as crianças nunca queria dormir. Não há pressa para descansar quando vivemos em um mundo de pura magia.
Como muitos fui deixando essa magia dentro de mim morrer. Chegou o dia em que ela já tinha morrido há tanto tempo que cheguei a duvidar que realmente tivesse existido. Transformei-me em quem o mundo dizia que eu devia ser e perdi o contato comigo mesma. Segui vivendo de acordo com as regras do mundo e dos homens. E como eram chatas e previsíveis essas regras...
Quando era criança sonhava com o dia em que seria adulta, seria livre e faria, enfim, tudo que desejasse, como pilotar aviões, escalar montanhas, nadar nos mares desse mundo e correr pelo sol desse mundo afora. Também sonhava com mundos encantados, lugares mágicos habitados por seres estranhos que teriam para mim todo dia uma nova aventura para viver. E passaria minha vida colecionando aventuras malucas, histórias encantadoras e mágicas exatamente como aquelas que lia nos livros. E, quando finalmente virei adulta, e tive toda liberdade do mundo, inclusive para criar mundos, foi curioso como esses sonhos mágicos se transformaram em uma mera fantasia infantil. Não pilotaria aviões, pois eram complicados e perigosos demais, assim como escalar montanhas, nadar e correr pelo mundo. Não sei exatamente o momento em que troquei o prazer de viver pela segurança de um dia após o outro, todos exatamente iguais, e, por isso, chatos. Eu vou contar tudo que foi acontecendo comigo e talvez você saiba me dizer por que isso aconteceu comigo. Eu só sei que em uma hora eu percebi que eu tinha me tornado exatamente como a imensa maioria dos adultos: chata demais.
Com o tempo, com era de se esperar, escolhi um trabalho seguro e nada arriscado que me garantiria aquilo que todos parecem procurar que é proporcionar dinheiro para ter conforto e mais segurança. Era o “sonho” padrão que de alguma forma estranha é inserido na mente de quase todas as pessoas, sim, na mente, jamais nos seus corações e é justamente por isso que não é um sonho verdadeiro. Nessa época eu estava perdida e eu não sabia o que queria. Eu achava que queria o que todos julgam adequado e correto. Se era aquilo que o mundo me dizia que eu devia querer aquilo, então, aquilo tinha que ser verdadeiro. Eu não podia imaginar que, ouvindo a voz do mundo, eu estava caindo na pior e mais cruel das armadilhas. Não sabia que assim estaria sufocando minha alma e com isso provocando o que no futuro seria o meu maior sofrimento. Não sabia. Juro que não tinha ideia. Bem, talvez tivesse, pois meu coração apertava forte de tempos e tempos, me fazendo sofrer e chorar. Hoje eu sei que ele me dizia que tinha algo errado com a minha vida. Mas o que fazer? Eu tinha aprendido a dar ouvidos ao mundo e ao que os outros diziam, julgava-os mais velhos e entendidos que eu, e por isso obedecia cegamente todas aquelas loucas regras que regiam os homens, que, hoje eu vejo, buscavam, de um jeito ou de outro, sempre silenciar seus corações. Ah, se os homens soubessem que são os corações que guardam a sabedoria e a resposta para todas nossas perguntas, o tratariam muito melhor...
Voltemos ao que “eu” queria da minha vida. Bom, eu achava que era uma garantia de um certo conforto, enfim, uma casa própria, dinheiro para pagar as contas e uma família. Por tudo isso, prestar algum concurso público parecia perfeito. Eu sabia que enfrentaria concorrência, e, por isso, estudei com afinco. Não foi fácil passar no concurso público, afinal todos queriam essa mesma segurança, mas, após dois anos, eu passei e conquistei o que achava que era o meu sonho, e hoje eu sei que era, na verdade, a minha prisão.
Foi assim que minha vida começou toda torta e toda errada. É claro que se você pensa como o mundo não achará isso. Mas se você vive sua vida a partir da sua alma e do seu coração, como as crianças, saberá que eu vendi minha liberdade, meus sonhos, a possibilidade de viver de acordo com quem eu era por alguns trocados por mês. E é nesse momento aqui que percebemos a sabedoria que habita em todas crianças... Qualquer criança em sã consciência que se peça passe o dia todo fazendo uma tarefa irremediavelmente chata demais em troca de um teto, comida e algumas distrações idiotas, jamais concordará, esperneará e lutará até o fim por sua liberdade. Se lhes disser que é até o resto da vida, então, é certo que a criança fugirá de casa, pois ela sabe no seu coração que quer viver de verdade. Mas nós, adultos, somos sabidos demais, e nos voluntariamos para essa troca, achando que estamos tirando a sorte grande. Sufocamos nossa sabedoria, a voz do nosso coração, deixamos de valorizar o que realmente importa ou agimos como tal e começamos a aceitar dar tudo aquilo que tem mais valor para obter uma segurança que, de verdade, nem existe e o pior de tudo: sufoca.
Se fôssemos morrer no dia seguinte, conseguiríamos ver com clareza que usar nosso tempo precioso para carimbar papéis o dia todo não é relevante, mas, como achamos que não vamos morrer, seguimos carimbando papéis dia após dia e vendendo o cárcere da nossa alma por um conforto que se olharmos bem não conforta, só anestesia a dor e a deixa dormente, mas não engana nosso coração, que fica largado em um canto qualquer chorando.
Eu segui na minha respeitada profissão concursada carimbando papéis em troca de segurança e conforto. Contudo, para minha surpresa e alegria, minha alma não era dessas almas fáceis de ser encarcerada. Ela começou com toda sua genialidade a pregar peças em mim. Na época tive ódio e raiva de todas essas travessuras, depois me apaixonei por elas, pois elas me fizeram despertar. E é essa história que eu vou contar a vocês.
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O céu sempre pode ser azul
Storie breviUm conto que vai abrir seu coração e pode mudar sua vida