Drácula olha-nos com a testa enrugada. Desconfiado, curioso.
— Vou deixar-vos. – Diz Eva com um sorriso suspeito nos lábios e nem o meu olhar de pânico a implorar que fique, a faz ficar.
Ela sai e nós ficamos parados. As batidas do meu coração forçam-me a arfar por ar e Drácula dá um passo na minha direção forçando-me a recuar. Um sorriso curva os cantos da sua boca e Drácula coloca as mãos nos bolsos das calças quando para.
- Com medo, pequena tempestade?
Cerro a mandíbula e fecho as mãos com força até sentir as minhas unhas forçarem a pele.
- Para de me chamar isso.
Drácula ergue um sobrolho. – Porquê?
- Porque não sei o que significa.
O seu sorriso acentua as covas na sua face. Drácula olha-me como se estivesse satisfeito consigo mesmo.
— Dormiste bem? – Pergunta.
Não sei que resposta lhe dar. A verdadeira: que adormeci a chorar e tenho a certeza de que tive pesadelos com ele, mas que o colchão é confortável e pude desabar confortavelmente? Ou demonstrar insatisfação com o que está a acontecer? Ele certamente sabe da última.
— Consegui encontrar a cozinha. Obrigada por me teres indicado onde ficava, já agora.
-- Achei que seria óbvio estar no rés do chão. E é fácil de encontrar, se seguires o cheiro a comida.
— Eu nem sei chegar ao meu quarto.
Drácula gargalha e olho-o abismada.
— Elas fizeram o que pediste?
— Sim. O que tens a dizer em tua defesa sobre a história delas?
Ele olha-me confuso. — Não existe uma história. Elas fazem parte de uma família que jurou serviços em troca da minha hospitalidade. Fim.
— Digamos que trabalhar na cozinha não é sinónimo de hospitalidade.
— Não? Tinha ideia de que hospitalidade era o conceito de oferecer um teto, conforto e segurança a alguém. Para alguns, não ter a vida em perigo é o mais importante.
Um riso escapa pelos meus lábios. — Moram aqui. Impossível estar em mais perigo que isto.
Vejo a sua mandíbula contrair e prendo a respiração.
Drácula vira costas. – Se estás tão preocupada com a tua vida, devias respirar.
Apresso-me atrás dele. Não sei porque o faço. Talvez não queira ficar sozinha nestes corredores.
- E Eva? - Drácula olha-me de lado quando o alcanço.— Há quanto tempo se conhecem?
— Desde que ela era criança. Temo que eu seja uma das suas memórias mais antigas.
— O que aconteceu? – Atrevo-me e Drácula fita-me.
— Talvez Evangelline te possa contar a sua história nas muitas horas que passarão juntas.
— Só mais uma coisa que nos forçaste a fazer. – Contesto.
— Não forcei. Pedi e Evangelline aceitou prontamente. E pelo que vi, vocês simpatizaram uma com a outra.
— Não me parece que tivesse outra opção. – Contradigo.
— Se te fosse forçar a algo não seria a uma amizade.
— Claro que não. Aqui sou mero alimento. Gostaria de saber para quando está marcado o banquete.
Drácula para e eu paro alguns passos à sua frente. Viro-me para perceber o que o fez deixar de liderar a caminhada e encontro um misto de deceção e frustração no seu olhar.
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Drácula, O Romance do Conde (Linhagens: Livro 1)
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