Houve um silêncio, quase como se todo o restaurante tivesse ouvido o que eu dissera e parado para prestar atenção no resto. Era só minha impressão, no entanto. Depois de passar da nossa bolha, onde meus três amigos se encontravam estupefatos, o mundo seguia tranquilamente num murmúrio de conversas noturnas e sonolentas. René foi primeiro a sair de seu estado de choque e balbuciar:
— Você chamou a polícia?
— Não desapareceu desse jeito, seu idiota — eu falei, batendo a caneca na mesa e fazendo Percy sobressaltar-se. Percebi, no entanto, que o jeito mórbido que eu havia anunciado realmente fazia parecer que um crime havia sido cometido.
— Meu Deus, meu coração quase parou! — Ash se largou para trás na cadeira, cobrindo o peito com as duas mãos enquanto apertava os olhos. — Você não pode falar essas coisas ambíguas, Vince, eu já estava imaginando um drama romântico se desenrolando.
— Você imagina coisas demais. Surpreende-me que eu seja o escritor neste grupo — retruquei. Ash abriu os olhos.
— Sério? Você acha que tenho potencial? — antes que ele continuasse com seu jeito animado incentivado pelo álcool, Percy acertou-o no braço fazendo-o se calar.
— Vamos focar no que é importante? O que você quis dizer com "desapareceu", Vince? — ele subitamente parecia sóbrio, apesar do seu rosto ainda estar avermelhado. Algo em sua postura me fez pensar, de repente, "Percy realmente é o mais velho entre nós".
— Isso não é importante — murmurei, mas agora não ia me livrar da atenção deles tão facilmente.
— É importante para mim, então fale, por favor — Percy insistiu e voltei a encará-lo. Por que ele estava tão curioso a respeito dela? Por que ele sabia tanto sobre ela? — O que você quis dizer com "desapareceu"?
Suspirei.
— O que você acha que quis dizer? Eu não sei onde ela está. Ela estava ali, na editora, então as coisas deram errado e ela se foi. Depois da demissão dela, nunca mais apareceu, nunca mais atendeu ao telefone, nunca mais respondeu e-mails. Eu não sei como dizer isso melhor do que "ela desapareceu" — expliquei, irritado. Era frustrante falar daquilo. Era irritante falar daquilo. Por que estávamos trazendo-a a tona quando estávamos num clima tão bom? Quando falávamos sobre a vida deles e das coisas interessantes que andavam fazendo? Como que acabamos nela? Cocei a nuca, querendo pedir a conta e ir embora.
— Você foi até a casa dela? E se algo sério aconteceu? — Ash perguntou, depois de um silêncio longo e um tanto constrangedor.
— O que eu tenho a ver com isso, Ash? — rebati. — Eu fiz minhas tentativas de entrar em contato com ela e ela claramente não quer ser encontrada. Não quer falar comigo, não quer me responder. Se quisesse, já teria feito. Então eu cansei e não vou tentar mais nada — cruzei os braços, me sentindo uma criança teimosa.
— O que houve para ela se demitir? Quando fomos ao evento da empresa, em que anunciariam que ela cuidaria do seu livro, lembro que ela parecia bem — Percy comentou, esfregando o queixo.
Seus olhos magoados retornaram à minha mente. O jeito que suas sobrancelhas franziam e seus olhos castanhos exploravam meu rosto enquanto seu rosto corava com a raiva; aquilo tudo ainda estava vívido como se fosse um filme em minha mente. Eu havia visto aquela cena apenas uma vez, mais do que o suficiente para não esquecer. Seus passos rápidos e suas costas enquanto empurrava a carta contra o peito de Broadbent. Seu último olhar carregado de rancor, lançado em minha direção enquanto saía pelo prédio, a última vez que eu vira Lora Preston.
Mesmo depois que os dias e semanas passaram, depois que o livro foi finalizado, depois que a nova estagiária contratada às pressas foi atolada de trabalho, eu ainda não entendia por que a minha atitude tinha sido um gatilho tão grande para sua raiva. Pensar naquilo me incomodava, então eu havia guardado Lora e sua demissão no canto da minha mente. Eu havia a ajudado, havia resolvido a questão para ela. A escória do Broadbent ia provavelmente a deixar em paz depois que eu o ameacei, como ele havia concordado em fazer. Ele sabia o suficiente de status e da responsabilidade da empresa em seus ombros para arriscar não seguir o que havia sido falado entre nós naquele corredor repleto de espectadores. Eu até me submetera a fazer uma cena, mas para Lora aquilo fora ultrajante. Eu não conseguia entender a cabeça dela e havia desistido há muito tempo. Se ela queria ser ingrata, o problema era dela. Se ela queria se demitir e fugir, o problema era dela. A vida simplesmente seguia seu rumo, da forma de sempre, e ela estar ali não fazia diferença nenhuma.
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II - Onde Eu Quero Estar |hiatus|
Romance[Parte II de "Quem Eu Quero Encontrar"] Vincent Woodham é um aclamado escritor de 28 anos. Ante a publicação do seu quarto romance, ele não deveria ter muitas preocupações. Superara a dificuldade em escrever um livro sob certas condições, mantivera...