Estava em outra das festas desnecessárias de Broadbent. Eu nem sabia o que estava fazendo ali, com o copo na mão mesmo sem estar com tanta vontade de beber. Apenas alguns dias se passaram desde meu encontro com meus amigos e eu definitivamente havia tomado álcool o suficiente lá pelo resto do ano.
Eu só viera na verdade porque sabia, pelas regras implícitas de contratos empregatícios entre adultos, que a cena que eu causara por conta de Lora podia deixar péssimas impressões na editora, e cicatrizes em meu bom relacionamento com eles. A DDrafts me proporcionava tudo que me era conveniente e apesar de saber que eu estava em um nível de fama alto o suficiente para ser aceito por qualquer outra editora que me interessasse, a dor de cabeça de me envolver em burocracias de encerramento de contrato e nova contratação podia muito bem ser evitada. Broadbent não se dirigira a mim nessas últimas semanas, e apesar de o que tentei fazer por ela ter sido um fiasco, pelo menos isso era uma coisa boa resultante daquilo.
O canto que eu escolhera para ficar de pé segurando paspalhamente meu copo de bebida era quieto e eu não era perturbado por quase ninguém. Nem ao menos sabia o motivo de estarmos reunidos ali daquela vez. Quando me arrumava para vir, pensei que talvez pudesse obter alguma informação sobre o paradeiro de Lora, até me convencer (bem rapidamente) de que aquilo era besteira e se ela havia se mudado, eu já sabia tudo que precisava saber sobre ela.
Irritava-me o fato de que desde que ela dera as costas para mim, ela não saía da minha mente. Eu pensei e pensei sobre o que acontecera, mas não conseguia chegar a nenhuma explicação a respeito de suas ações. E então, cansei de pensar sobre ela e tentei tirá-la da minha cabeça. Eu nem a conhecia muito, nem há tanto tempo para ela ser alguém significativa em minha vida que preencheria um espaço grande e faria falta. Havia, sim, um vazio, mas eu estava supondo que ele era causado pelo desconforto de eu ter me exposto a Broadbent e a todos na empresa e resultado em absolutamente nada. A sensação de que perdera meu orgulho, ou algo assim.
— Olá Sr. Woodham — uma voz um pouco tremida falou ao meu lado, e saí de meus pensamentos para encarar Tyra Elisa, segurando nervosamente um copo de bebida e sorrindo insegura para mim. Dei-lhe um sorriso breve em resposta a seu cumprimento. — Será que eu poderia ficar um pouco aqui com você?
— Claro, fique à vontade.
A menina era uma incógnita para mim. Não que tivéssemos passado muito tempo juntos, mas já a flagrara encarando-me com olhos sonhadores e brilhantes que foram o suficiente para me deixar um tanto embaraçado de ficar perto dela. Ainda assim, ela era sempre educada e refreava-se em sua admiração e exaltação, o que eu agradecia. Dessa forma, era mais fácil manter uma conversa com ela, apesar de essa ser uma das primeiras vezes que chegaríamos a tanto.
— Está se divertindo? — ela perguntou, como quem tenta puxar assunto, e eu apenas arqueei uma sobrancelha, dando um gole pequeno em minha bebida. Seu sorriso foi largo e ela soltou uma risadinha. — Também não entendo por que temos que vir a todos esses eventos, com essa frequência. Poderíamos estar usando esse tempo para escrever.
Soltei uma risada.
— De fato. Contudo, a maioria dos escritores que eu conheço não aproveita o tempo livre dado a eles para efetivamente escrever — comentei, lembrando-me desagradavelmente da correria que foram meus últimos meses.
— Isso é verdade! — ela riu novamente.
— Vi que você estava acompanhando um homem pelo salão mais cedo — decidi manter a conversa, até porque caso contrário eu voltaria a um tédio absoluto enquanto aguardava por um horário decente que não pegaria mal eu ir embora. — Seu pai?
— Sim. Dessa vez ele quis vir junto, para conhecer aqueles relacionados com minha carreira literária — ela respondeu, de repente parecendo um pouco introspectiva. Ela não olhava mais para mim, seu rosto perdendo o sorriso, mas varreu os olhos pelo salão, como se buscasse seu pai ou outra pessoa. — Ele era contra a publicação do meu livro, sabe.
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II - Onde Eu Quero Estar |hiatus|
Romance[Parte II de "Quem Eu Quero Encontrar"] Vincent Woodham é um aclamado escritor de 28 anos. Ante a publicação do seu quarto romance, ele não deveria ter muitas preocupações. Superara a dificuldade em escrever um livro sob certas condições, mantivera...