Agatha acordou lentamente. Suspirou fundo, olhando para o despertador gritante do outro lado do quarto bagunçado. Pensou consigo de quem fora a ideia de colocar aquela maldição longe da cama, o que obrigava-a a levantar para desligar aquela musica horrível. Ah sim. De seu amado pai.
- Samael, por que faz isso comigo? - murmurou sozinha ao levantar para desligar o aparelho. Olhou para fora da janela, o dia amanhecia bonito.
Revirou os olhos e voltou em direção a cama, se jogando de bruços, pronta para voltar a dormir sem mesmo cobrir-se.
- bom dia! - uma voz animada invadiu o quarto, e ela olhou por cima do ombro. Seu pai sorriu radiante, com uma bandeja de café da manhã.
Ela não deixou de abrir um sorriso.
- pai você me mima demais! Desse jeito eu mal acostumo!
- Não se mal acostumou em dezessete anos, não vai ser agora. Eu faço tudo pela minha princesa... - ela lhe lançou um olhar questionando. Ele sorriu. - trevosa.
Os dois riram.
- pai. Eu te amo.
- e eu amo você, filha. - ele sorriu com os olhos claros e saiu do quarto. - se arrume, sim? Vai para o colégio novo hoje.
- isso é muito clichê.
- a vida é um clichê. Mas dessa vez os heróis somos nós. - ele sorriu da porta e seguiu pelo corredor.
Agatha sorriu sem jeito. Comeu com gosto: não há melhor alimento que o do seu lar. Sua mãe havia morrido no parto e seu pai a criara com todo o amor possível. Ele era o melhor pai do mundo. Mesmo eles não sendo nada parecidos.
Agatha olhou ao espelho depois de comer e ter se arrumado. Suspirou.
Ela era bonita, sabia disso. Sabia disso pois era muito parecida com sua mãe: o queixo perfeito, o nariz singelo e angulado, levemente empinado. Os olhos escuros e brilhantes, o cabelo liso em um castanho tão escuro que parecia negro. Espiou sua mãe sorridente em uma foto colada ao espelho, ao lado de seu pai. Ele não mudara nada. Sempre a camisa branca, solta, o sorriso sob os olhos claros, o cabelo louro curto, a barba baixa. Ele tinha esse aspecto angelical, sua mãe também. Já Agatha... Ela voltou os olhos a imagem que lhe encarava no espelho. Seu guarda roupa era basicamente preto, sua maquiagem sempre pesava em tons escuros nos olhos, sua pele era pálida por não gostar de sair muito, e havia feito mechas roxas no cabelo da nuca. Prendeu um chocker no pescoço, e agitou a cabeça.
Seus pais eram como dois anjos, e ela? O diabo. Mas se sentia bem assim e parecia que seu pai também não se incomodava. Ele deixava ela ser o que ela queria ser.
Vestiu seus tênis pretos de cano alto, pegou a pasta jornalista preta que adorava e desceu. Despediu-se de seu pai, na cozinha, e seguiu para fora, indo a pé ao tal novo colégio.
Enquanto andava pela rua, Agatha enxergava o mundo. Ela tinha isso. Parecia uma punk em ascensão, mas o mundo era bonito a seus olhos. Os casais. Os passaros cantando e voando pelo céu. Agradecia a cidade ser arborizada e haver sombras nas calçadas. Via crianças correndo, estagiários carregando cafés, cada pessoa com sua vida, com seus sentimentos, seus amores. E isso era lindo. O dia iluminava a vida, agitava o mundo. Ela gostava de luz. Ela não saía muito ver o sol, mas gostava da luz.
Continuou o caminho e logo estava no pátio do colégio. Ali viu vários jovens de todos os tipos, cada qual em seus grupos de afinidade. Deu de ombros, procurando um mapa que pudesse lhe levar a sua sala, quando algo lhe chamou atenção.
Era um rapaz sorridente, conversando com uma garota. Ele parecia possuir uma paz de tamanho imensurável.
Agatha apertou os olhos em sua direção, e ele levantou o olhar para ela, uma expressão de questionamento. Seus olhos tinham cores diferentes.
A garota levou um susto ao perceber que o rapaz que encarava a havia notado, e logo tratou de desviar o olhar... perdendo o sorriso que ele havia dado a ela.
Chacoalhou a cabeça, verificou um painel onde haviam ensalamentos e seguiu para a sala, sentando no fundo, perto da janela, e ali ficou, observando tudo em seu silêncio.-------
Olá pessoalAtualizando aqui pra vocês para apresentar a segunda personagem de unrisen. E aí, já sabem quem é a Agatha?
Beijos da vó e até o proximo capítulo