II.

65 11 32
                                    


Uma semana passou voando, a essa altura Anis e minha mãe estavam terminando de ajustar as coisas para a viagem, e consequentemente planejando me contar o que realmente estava acontecendo e o que eu iria fazer na França.

As coisas estavam um pouco estranhas no geral, mas trabalhei duro para não deixar que ninguém percebesse, quando na verdade estava destruída por dentro e por fora.

Nessa semana que passou, tentei refletir ao máximo sobre a capacidade de crueldade do ser humano, talvez eu precisasse mesmo de um tratamento, mas com toda a certeza não era para tanto.

Não entendi exatamente o porquê, mas talvez estivesse aceitando a ideia aos poucos, assim como também estava melhorando aos poucos, tudo estava ainda muito vago, mas começando a caminhar.

Decidi me fortalecer, mesmo que isso significasse aceitar ser internada em uma clínica.

Cheguei á conclusão de que a queda a seguir seria mais do que necessária para que eu pudesse me levantar outra vez.

Passei o dia inteiro como havia passado os últimos meses, deitada e pensando, vendo a movimentação de minha irmã e minha mãe, passando por mim a todo momento.

-Vocês não se cansam? Parecem duas descontroladas batendo esses pés no chão para lá e para cá como se fossem soldados, aquietem um pouco, por favor! –Gritei com as duas para que parassem com aquela agitação.

-Gaia, preciso falar com você, Anis, suba um pouco para o seu quarto. – Minha mãe falou para mim e Anis.

Enquanto Anis subia as escadas em direção a seu quarto, minha mãe se sentou ao meu lado, colocando cuidadosamente as mãos em meus ombros.

-Gaia, precisamos conversar sobre alguns assuntos já a algum tempo, e bem, sobre você...

-Sobre mim? Fala sério! Desde quando você quer saber de mim, desde quando você liga para o que eu penso, ou sinto? Você só sabe falar o quanto essa situação é incomoda para você e Anis. –Desabafei, colocando tudo o que eu pensava e sentia para fora.

-Gaia, não fale assim comigo, você sabe que isso não é verdade! –Minha mãe retrucou.

-A não? Tem certeza? Quer falar sobre o que? Aposto que seria sobre a clínica que pretende me internar com a ajuda da minha irmãzinha querida! –Gritei o mais alto que minha voz pudesse alcançar.

-Isso é para o seu bem! Não aguento mais te ver jogada pelos cantos, Gaia você não come, não bebe, não toma banho, você não vive minha filha! Isso é errado, não posso deixar que faça isso com você.

-Você poderia ter me dito, tentado conversar comigo para saber qual era a minha opinião sobre o assunto, e não simplesmente ''ver a papelada e o que está feito, está'', eu sou um ser humano, mesmo que isso ainda não tenha ficado nítido para você.

-Gaia, isso é tão nítido para mim, que como disse anteriormente, estou fazendo isso para o seu bem.

-Não vou dizer mais uma palavra, apenas uma ultima coisa: não se preocupe, já estou terminando de arrumar minhas malas.

Me levantei do sofá e fui direto em direção ao meu quarto, peguei as malas já quase feitas, escondidas debaixo da cama e comecei a procurar pelos objetos que estavam faltando.

Depois de passar no mínimo duas horas checando se não havia faltado nada, me sentei finalmente na cama e desfaleci.

Manhã seguinte, 8:00 AM.

Eu estava dentro de um avião, indo para França.

Anis estava sentada ao meu lado, mas eu simplesmente não conseguia olhar para o rosto dela sem ter vontade de regurgitar tudo o que eu havia comido no café da manhã.

Fonte de Água • HSOnde histórias criam vida. Descubra agora