Voltei

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4 meses depois


 Eu havia me mudado de Nova Iorque. Passei a morar com meu pai na Alemanha. Minha mãe não havia gostado da ideia, mas ao me ver chegando em casa chorando e com a testa sangrando, acabou concordando. 

 Pedi transferência para uma outra escola e acabei aceitando a oferta de emprego de um jornal da cidade. Por ser menor de idade eu não podia trabalhar para valer, mas já era um bom estágio que me fazia aprender muita coisa.

 Não vi Peter depois do incidente com a ponte. Ele tentou me procurar em casa, mas implorei para minha mãe não deixá-lo entrar. Trancei a janela e evitei a noite toda ele me ligando. Minha mãe, por ser enfermeira, cuidou de meus machucados e passou a noite toda comigo, já que eu não conseguia dormir. No dia seguinte já estava bem longe de Nova Iorque. 

 Eu sei que foi errado ir embora sem dizer nada para Peter. Mas eu não conseguiria dizer adeus ou terminar tudo entre nós. Era o certo a se fazer. Ele havia abrido mão de muita coisa por minha causa. Ele tinha dado preferência a me salvar do que proteger a população da cidade. E eu serei eternamente grata por tudo o que ele fez por mim, por me salvar, me proteger. Mas isso não daria certo. Ele precisa honrar um compromisso e eu estava atrapalhando tudo. 

 E tudo era diferente na Alemanha. O clima era bem mais gelado e a língua era difícil de acompanhar, apesar de eu sempre ter falado, por conta de meu pai. 

-Onde você pensa que vai? - meu pai perguntou enquanto eu estava na porta do apartamento, prestes a sair.

-Preciso achar algo super legal para escrever uma matéria - eu respondi segurando minha câmera.

Minha ideia era tirar umas fotos legais também.

-Você sabe que é só uma estagiária, né? Não depende disso para viver.

-Mas um dia eu vou. E quanto antes eu me destacar, melhor.

-Toma cuidado, então.

-Sempre - eu disse segurando um spray de pimenta que meu pai havia me dado.

 Ele fez questão que eu andasse com um depois que eu contei toda a história com o homem aranha. Agora eu não tinha mais um super herói para me defender. 

 Andei pela cidade com calma, tentando achar algo de interessante, mas o máximo que eu achei foi uma briga que estava acontecendo dentro de uma cafeteria. Um casal estava discutindo feio porque o café tinha vindo com canela e um deles era alérgico.

 Observei por um tempo, mas já estava desistindo de escrever alguma coisa. Eu não estava inspirada, nada de interessante estava acontecendo, eu estava com sono e frio. Aproveitei e me sentei em uma mesa ali dentro, observando o casal se acalmar e ir embora.

 Quando moramos em outro país nos acostumamos com a língua diferente. Mas quando ouvimos a nossa língua natal ser falada, é como se ela se destacasse no meio da multidão. Ouvir alguém falando inglês me transmitiu uma paz interior, uma sensação de estar em casa. Algo que eu sentia muita falta.

 A sensação foi tão boa que eu quase associei a voz atrás de mim a alguém familiar. 

 Me virei já sorrindo, tentando identificar quem estava falando minha língua.

-Happy, eu achei um local muito legal, já estou indo para o hotel, me dê dez minutos. 

 Meu sorriso se desfez na mesma hora que eu olhei para Peter. Era tão absurda a ideia de ele estar ali que eu imaginei que algo muito errado devia estar acontecendo comigo. 

O que ele estava fazendo ali? Ele era real? 

 Tentei desviar o olhar e sair correndo, mas já era tarde. Ele já tinha me visto e no momento que nossos olhares se cruzaram, nada mais faria eu parar de encará-lo. 

  Tinham se passado só quatro meses, mas ele estava tão diferente! Seu cabelo tinha crescido um pouco e ele parecia estar mais forte. Usava um cachecol em torno do pescoço por conta do frio e ainda mantinha o celular no ouvido, mesmo sem falar nada. Dava para ver também um machucado roxo entre seus dedos e eu me peguei pensando o que tinha acontecido para aquilo estar ali.

 Sua boca estava um pouco aberta e seus olhos arregalados. Talvez ele estava tão chocado quanto eu. Observei ele desligar o celular e se aproximar de mim. Eu não sabia o que dizer, o que falar ou agir. Estava feliz por vê-lo ali, mas culpada por ter deixado ele sem ter dito nada. Logo agora que eu estava superando!

-Lily - ele sussurrou sentando na cadeira a minha frente - O que... Mas como... Meu deus!

-Está me seguindo por acaso, Parker? - perguntei ainda chocada.

-Sua mãe disse que você estava longe, mas eu não imaginava que estaria tão longe...

Olhei para minhas mãos. As marcas das minhas unhas ainda estavam ali, mas eu havia parado com a mania de me machucar.

-O que aconteceu Lily? - ele disse se inclinando para frente - Fala comigo...

-O que está fazendo aqui Peter?

-Se eu responder essa pergunta, promete me contar tudo?

 Encarei seus olhos mais uma vez. Havia bondade ali. Depois de tudo o que eu fiz, Peter ainda se preocupava comigo e não estava nem um pouco bravo.

Concordei com a cabeça.

-Eu vou pegar um café para mim - ele disse se levantando - Acho que temos muito o que conversar. 

 Fiquei aquele pequeno período olhando para o nada, tentando assimilar o que tinha acabado de acontecer. 

Ele voltou um tempo depois com dois copos. 

-Peguei um chocolate quente para você - ele disse - Eu sei que você odeia café. 

 Sorri com aquilo.

-O que está fazendo na Alemanha, Peter? - eu perguntei curiosa demais.

-Digamos que eu acabei de roubar o escudo do Capitão América.



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Olha quem voltou!! Eu disse que voltaria né?


The perfect article (Peter Parker)Onde histórias criam vida. Descubra agora