Puf, ensino médio

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Levantei e me surpreendi em como pareceu fácil depois de fazê-lo. Fui no banheiro fazer minhas higienes, escovei os dentes, usei o banheiro, lavei as mãos, passei uma maquiagem leve e fiz as tranças de sempre. Saí de casa correndo, pra variar. Impressionante como o tempo faz questão de passar quando nós precisamos que ele pare... Às vezes eu acho que o universo se zanga com a minha vida tediosa e faz esse tipo de coisa só pra se alegrar. Eu não entendo. Gosto tanto de ficar na cama que numa outra vida devo ter sido um lençol. Minha mãe diz que é falta de vergonha na cara, eu prefiro minha teoria.
  Cheguei na portão da escola tentando atravessar a multidão que se acumulou em menos de dez minutos. Eu sempre vou de carro e volto de ônibus, meus pais são separados mas moram bem perto um do outro. Acho que no final do casamento o que sobrou foi uma boa amizade e na verdade consigo aproveitar melhor a sua companhia assim. Meu pai me leva e eu volto sozinha, meio período das 7:00h da manhã até 12:20h, parece uma eternidade.
- Nath! - Era a Júlia minha melhor amiga que me pegou viajando na maionese pra variar...
- Oi. - Fizemos nosso cumprimento ensaiado e a monotonia desse hábito me faz questionar o porquê de termos começado com isso.
- O Luís estava te procurando...  - Ela disse com ironia.
- Aff... - A expressão de riso dela já desvendava o tópico principal que vou citar aqui: 5 passos básicos que todo adolescente ( consciente ou inconscientemente) segue para sobreviver ao ensino médio.
1° Beijos sem compromisso;
2° Demonstrações públicas de afeto para as pessoas pensarem que você cumpre o número 1°;
3° Ter disposição para conversas banais como: curtidas no Facebook, festas, garotos e mais garotos porque por algum motivo que eu desconheço meninas da minha idade só falam sobre isso;
4° Ser social;
5° Ou ser completamente invisível.
Acho que meu dom de me sentir completamente incompatível me habilita para a 5° opção. Eu não acho que um beijo deveria ser algo combinado, e ao olhar a minha volta simplesmente não consigo parar de imaginar que tudo, e todas as pessoas, são movimentos complementares ensaiados, predestinados a serem tudo o que são. E que eu apenas sou uma peça que não se encaixa nesse grande quebra cabeça mapeado...
- Nath!
- Ai meu Deus! Eu deveria mudar meu nome já tá ficando chato, que susto Júlia!
- A culpa não é minha que você estava moscando de novo... Mas e então você vai ficar com o Luís?
- Eu prefiro enfiar alfinetes... NOS MEUS OLHOS! - Disse da maneira mais sarcástica que pude.
- Credo! Exagerada!
- Juh você já sabe né que...
- Já sei não são eles é você! Valores morais, blá, princípios, blá, você presa em você mesma bancando a vovó, blá! Eu já sei, sei de tudo isso. Você vai deixar sua juventude passar pensando nos riscos?
- Primeiramente não se trata apenas de ética e moral mas de SENSO, sair por aí trocando saliva com meio mundo não é bem o que eu chamaria de desfrutar da minha juventude. E se já sabe por quê repete? Você também sabe que eu...
- "Sinto atração por alguns meninos e até gosta da ideia de namorar, mas que se sente presa e não consegue entender nem seu próprios pensamentos quem dirá vir a namorar!" - A encarei refletindo sobre estes fatos e me perguntando se eu era tão previsível... Que frustrante! Senti o peso do olhar de outros alunos que íam e vinham no decorrer da  estranha normalidade da nossa conversa e cheguei a conclusão de que o mundo ainda não havia parado de girar, e que nós estávamos atrasadas.
- Chega! Você me conhece tão bem que está começando a ficar assustador.
- Ouço estes discursos desde a oitava série, se liga né amiga eu te conheço melhor do que você mesma. E sei, que em um mundo onde há mais de 7 bilhões de pessoas, uma em algum lugar entende essa sua cabeça aí.
- Alguém entre 7 bilhões de pessoas?  Que coisa mais insubstâncial se ele for da Groenlândia eu faço o que? Ridículo, se tem alguém que nos entende pelo que nós somos, somos nós mesmas que convivemos com nosso eu todo dia. - A juh pôs a mão na cabeça a arrastando desde a testa até se desfazer nos lábios:
- Eu tentei Deus! O Senhor viu!
- Vamos entrar que nós já estamos atrasadas. - E bateu o sinal.

 

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