Consentimento

1.7K 29 5
                                    

Primeiro conto da série!  Não esqueça de deixar os comentários e avaliar


Consentimento 

- Não está curtindo o som?

A pergunta não era preocupação. A garota que me questionava continuaria curtindo seu som independente do meu gosto. Era apenas uma clara tentativa de puxar assunto em uma balada e pela hora eu nem seria sua primeira investida, possivelmente nem a última.

Sem ter uma resposta descente em mente, uma que não fosse grosseira, mas que também não a encorajasse a prosseguir com aquela conversa fiada, limitei-me a dar um sorriso e balançar a cabeça.

- Vem sempre aqui?

Que clichê horrível. Ela não desistiria.

- Não venho – disse, já levantando da banqueta junto ao balcão. Olhando o relógio, percebia agora, fiquei exatas uma hora e quarenta e dois minutos sentada tomando a mesma cerveja que há muito perdera o gelo. – Bom... já estou indo.

Antes que eu pudesse dar um passo, ela me segurou pelo braço.

- Calma! – disse, com um sorriso evidenciando leve embriaguez. – A noite acabou de começar.

Seu corpo estava próximo, intencionalmente procurando espaços e com uma intimidade pouco recomendável em público. Ela era bonita, constatei quando uma das luzes móveis da pista de dança lançou um facho em nossa direção. Sob a luz, seu cabelo claro parecia descolorido, caído nos ombros, cobertos por um boné de alguma banda de rock a qual não identifiquei. Era pouco mais alta, na verdade algo normal pra mim.

- Eu trabalho amanhã – não era uma desculpa. Normalmente pessoas que saem sexta à noite dormem até o sol se pôr do sábado, eu iria fotografar um ensaio de noivos logo pela manhã.

Senti uma de suas mãos passar entorno da minha cintura e logo um apalpar na nádega.

- É mesmo? Não parece que você quer ir embora.

Mas eu queria.

Ela aproximou o rosto do meu. Seu hálito era quente e cheirava a alguma bebida destilada. Eu tentava desvencilhar, quando sua outra mão alcançou minha nuca para forçar um beijo.

Agora eu a empurrava com força. Se não fosse a luz baixa, aquilo pareceria claramente uma briga.

- Para com isso! – eu disse, agora mais incisiva.

- Sei que você quer, para de fazer a difícil – o sorriso permanecia em seu rosto. Pra ela era um jogo.

Empurrou meu corpo contra o balcão, pressionando seu corpo no meu. Colocou a boca próximo ao meu ouvido em um tom que seria alto, não fosse a música.

- Deixa eu colocar a mão por dentro da sua calcinha e ver se já está molhada.

Sua mão ameaçou entrar por baixo do meu vestido curto apertado.

Pra mim foi a gota. Empurrei tão forte que ela deu alguns passos pra traz e esbarrou em alguém passando ali com um copo na mão.

- Você tá louca! – ela disse mais alguns insultos que não pude compreender por conta da música, pois já fui saindo.

Estava puta, nem é preciso dizer. A gente vai em bares LGBT para não ser assediada e as próprias meninas querem pagar de "macho" pra cima da gente. Decepcionante. Um não deveria ser um não! Não importa quem está dando ou recebendo esse não.

Paguei minha bebida e fui pra casa com um sentimento horrível dentro de mim, um misto de raiva e fragilidade. Ser molestada por um bêbado é sempre uma experiência horrível, mesmo sendo uma mulher na posição de molestador. Talvez esse mal-estar seja exatamente por ser uma mulher. Sei lá, esperava algo mais de quem sabe como é se sentir insegura.

Entre ElasOnde histórias criam vida. Descubra agora