Capítulo 2

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"Cada flor tem o seu tempo. Eu aceito florescer no apropriado momento."

— Autor Desconhecido

Marcelo

— Me explica de novo, por que estamos indo até a casa da Ritinha? — Vinicius pergunta, sentado ao meu lado no carro, enquanto dirijo.

Como vou dizer ao meu irmão que preciso achar uma forma de me redimir da vergonha que passei ontem. Uma menina tão nova, sem recursos e que mal sabe da vida, soube colocar eu e minha boca grande no lugar certo: embaixo do seu pé.

— Já disse. Eu estou indo para a capital mais tarde e lembrei que preciso mandar arrumar a roupa do desfile.

— Tudo bem. Eu aproveito para atormentar a Ritinha — ele fala, esfregando as palmas das mãos.

— Você está encantado com ela, isso sim.

— Encantado soa forte demais. Intrigado seria mais adequado — ele esclarece e eu rio baixo.

— Vamos ver...

Mesmo tendo certeza de que ele está se enganando, resolvo deixar para lá. Cada um com seus problemas e eu já tenho minha cota para lidar. Confesso minha hipocrisia em mentir sobre o real motivo de estarmos a caminho da casa da Clara Maria.

Não gostaria de contar todos os detalhes de como aquela menina doce e aparentemente ingênua conseguiu acabar com meu ego e ensinar uma boa lição para meu comportamento rude.

Minha mãe provavelmente me daria uns tapas se sonhasse sobre a forma que a tratei no estábulo. E o que me deixa ainda mais confuso é não saber o porquê fiz isso.

Desde o momento que coloquei meus olhos naquele mar negro que são os seus, um rosto com a pele mais lisa e convidativa que já vi e sua boca rústica e grande, destoando da delicadeza do conjunto, fiquei atordoado.

Nunca tive o menor interesse em mulheres mais novas, sempre me pareceram chatas, entediantes e infantis. Desde a adolescência sempre busquei por experiências mais significativas e instrutivas. Descobrir o prazer com quem já sabia como funcionava tudo era muito melhor.

Não que eu tenha algum interesse sexual na garota, mas ela despertou minha curiosidade. A vontade de testá-la de várias formas e saber até onde aqueles olhos inocentes transmitiam a sinceridade que eu via.

Usando da pior forma minha característica rude e imparcial, acabei ofendendo a moça e metendo os pés pelas mãos. Sua reação me deixou tão surpreso que quando pensei em pedir desculpas ou justificar de alguma forma, ela já caminhava para longe de mim.

Por isso, estou indo ao seu encontro. Quero reparar minha indelicadeza e acalmar os ânimos. A forma como respondeu ao meu comentário na mesa ontem, deixou claro que ela não tinha esquecido meu pequeno deslize.

Apesar de ter recebido minha lição, durante a noite não parei de pensar naqueles benditos olhos. Sua beleza é divina e pecaminosa, ao mesmo tempo. Conseguiu fisgar minha curiosidade de uma forma que há muito tempo não via.

Hoje quero zerar tudo e colocar à prova toda essa confusão de sentimentos.

— Chegamos! — Vinicius fala, animado, ao meu lado.

Um incômodo se instala dentro de mim à medida que estaciono o carro em frente à casa simplória na rua. Preciso me lembrar de não falar nada a respeito disso com ela. Minha sinceridade causa ofensas, já percebi.

— Eu chamo. — Meu irmão salta do carro antes de mim, batendo palmas em frente à pequena entrada.

Assim que a porta da sala é aberta, desço do carro indo de encontro à senhora que atende Vinicius.

[DEGUSTAÇÃO] Perfeito Para Mim - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora